“Lugar de indígena é onde ele quiser”

Pedagoga, formada pela Unesp, Enaie Hanaiti abre o debate sobre a presença dos povos indígenas na universidade no documentário “Caminhos”.

08 de julho de 2022. A jovem indígena terena Enaie Hanaiti Silva e sua mãe Edina Lúcia Silva chegam à Faculdade de Ciência e Letras da Unesp em Araraquara para um momento esperado desde a infância: a colação de grau como pedagoga. Inspirada na profissão da mãe, a jovem vê a educação como uma forma de contribuir com a cultura e a formação das crianças e jovens de sua aldeia.

O Brasil, terra dos povos indígenas muito anterior à chegada dos europeus, possui, segundo estimativas populacionais do IBGE (2020), mais de um milhão de pessoas que se declaram indígenas e vivem em aldeias em diferentes territórios. Distante 178 km da capital sul mato-grossense, o município de Nioaque é a casa da Aldeia Brejão, do povo indígena Terena, da família paterna da Enaie e da recém-graduada em Pedagogia.

A jovem professora sempre teve orgulho de seu povo, de sua cultura e de sua tradição. Quando criança passava férias na aldeia e já se imaginava voltando para lá. E esse desejo se concretizou. Com as aulas funcionando no sistema remoto durante a pandemia de Covid-19, ela chegou à aldeia para realizar o estágio curricular e a pesquisa de campo da iniciação científica sobre educação indígena e foi contratada pela escola local para ministrar aulas às crianças. Foi todo esse interesse que a fez transferir o câmpus do curso, indo de Marília para Araraquara, em 2019, para participar do Centro de Estudos Indígenas “Miguel Angel Menéndez” (CEIMAM), que atua há mais de 40 anos no debate com os povos indígenas sobre as suas formas próprias de sociabilidade, direitos territoriais, saúde, educação e gestão ambiental.

São essas reflexões sobre os espaços educativos aos indígenas e suas histórias de luta e resistência e o pertencimento à universidade, na presença da Enaie na Unesp, que estão no novo episódio da série de documentário “Caminhos: quando sonhos encontram a educação”, um projeto iniciado há um ano em homenagem ao Dia dos Professores e que agora completa o ciclo de cinco produções também para homenagear os educadores nesta data. A série é uma idealização da Assessoria de Comunicação e Imprensa e uma realização das produtoras Neurônio e Camino Audiovisual.

Com o objetivo de demonstrar o potencial transformar da educação, “Caminhos” se alinha aos objetivos de inclusão, diversidade e equidade na universidade pública. Como afirma a protagonista, “o lugar de indígena é onde ele quiser”.

Ações afirmativas na Universidade

Desde 2014, a Unesp destina vagas em todos os cursos de graduação para estudantes pretos, pardos e indígenas, egressos da rede pública de ensino de todo o País. Embora haja essa política inclusiva, a população indígena autodeclarada, entre discentes, docentes e técnico-administrativos, é inferior a 1%, conforme dados do Censo Diversidades, realizado no ano passado pela Coordenadoria de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade (CAADI). (link unesp.br/caadi)

“Os indígenas são nossos interlocutores. Que eles estejam em todos os cursos de graduação, de pós-graduação. Esta presença, na verdade, é o próprio espírito da universidade, da diversidade de conhecimentos, da diversidade de presenças dentro da academia. A universidade só tem a ganhar com essas presenças”, defende o professor Edmundo Peggion, atual coordenador do CEIMAM.

O novo episódio da série “Caminhos: quando sonhos encontram a educação” estreia amanhã às 10h. Confira no canal oficial da Unesp no youtube.