Docentes da Unesp apresentam projetos da universidade na COP 27

Pesquisadoras participaram da mesa “O papel das universidades na promoção da agenda climática”. Trabalhos debatidos vão ao encontro das ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, e estão relacionados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela ONU.

Na última sexta-feira (11), duas professoras da Unesp representaram a universidade no seminário Advancing Corporate Decarbonization: public and private synergies and future regulatory frameworks, realizado durante a 27ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 27). Organizado pela Superintendência de Gestão Ambiental (SGA) da USP, em parceria com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), o debate reuniu representantes internacionais de instituições públicas, empresas e universidades. O objetivo é fomentar discussões sobre descarbonização, a partir da apresentação de estudos de caso realizados no Brasil.

A COP é considerada o maior fórum global de discussão sobre o futuro do clima. O evento é organizado anualmente desde 1995, reunindo representantes de governos, do setor privado e da sociedade civil para debater iniciativas e políticas voltadas para adaptação e mitigação das mudanças climáticas, assim como para o acompanhamento de iniciativas internacionais, como o Acordo de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Neste ano, o evento está sendo realizado em Sharm El-Sheikh, no Egito, entre os dias 6 e 18 de novembro. 

Dulce Helena Siqueira Silva, do Instituto de Química da Unesp, campus Araraquara, e Juliana Cortez Barbosa, do Instituto de Ciências e Engenharia, campus Itapeva, apresentaram pesquisas e projetos de extensão desenvolvidos na Unesp. A fala foi realizada durante a mesa-redonda “O papel das universidades na promoção da agenda climática”, presidida por Tadeu Malheiros, da Escola de Engenharia de São Carlos, da USP. Também compuseram a mesa os professores Luiz Carlos Pereira da Silva, da Unicamp, Marcelo Bregagnoli, do IFSULDEMINAS, e Riri Fitri, da Universidade da Indonésia.

As pesquisadoras dedicaram parte do tempo a abordar trabalhos relacionados à produção otimizada de etanol, um biocombustível que tem como base a cana-de-açúcar. O etanol representa um substituto aos combustíveis fósseis, como o petróleo, o carvão e o gás natural. Apesar de atualmente serem a principal fonte de energia no mundo, os combustíveis fósseis são recursos não renováveis, uma vez que seu processo de formação leva milhões de anos, além de gerarem grandes impactos ambientais. Isso acontece, principalmente, por conterem altas taxas de carbono, um dos principais gases do efeito estufa, que é liberado para a atmosfera no processo de combustão. Estas são apenas algumas das problemáticas que circundam a utilização de combustíveis fósseis e, por esse motivo, há alguns anos pesquisadores e empresas de tecnologia têm voltado sua atenção para substitutos com potencial mais ecológico.

Na mesa, foram apresentadas pesquisas que buscam maneiras de otimizar a produção de etanol a partir do desenvolvimento de catalisadores e, também, de modificações genéticas de Saccharomyces cerevisiae, um micro-organismo responsável pela conversão do açúcar da cana em bioetanol. Além disso, também foram divulgados trabalhos que tratam da utilização de enzimas, como a celulase, para a produção de etanol de segunda geração, a partir do bagaço da cana. Com isso, é possível aproveitar uma parte da cana-de-açúcar que, comumente, é descartada. “Isso nos permite ter projetos direcionados à conservação da biodiversidade, já que o canavial é mais bem aproveitado, o que leva a necessidade de uma área menor para a produção de cana-de-açúcar”, completa Silva, que também é assessora da Pró-Reitoria de Pós-graduação (ProPG).

Estudos sobre a utilização e aproveitamento de bambus também foram discutidos durante a apresentação. O bambu tem ganhado cada vez mais visibilidade como uma alternativa ecológica para a madeira. Isso se deve a sua capacidade de se desenvolver sem a necessidade de fertilizantes, pesticidas e de grandes quantidades de água, o que facilita e barateia seu plantio. “O cultivo de bambu também é de grande importância na proteção da biodiversidade e na redução da pressão sobre a floresta, ao substituir as madeiras nativas da Amazônia e do Cerrado”, completam as professoras.

No campus de Itapeva, a Unesp desenvolveu um projeto intitulado “Cultivo e Transformação do Bambu como Alternativa Sustentável para Geração de Renda na Agricultura Familiar”, coordenado pela professora Juliana Cortez e financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O bambu representa um modo de subsistência para populações em vulnerabilidade econômica, uma vez que suas aplicações variam desde artesanato, produção de alimentos, até construção civil. A iniciativa tem foco socioeconômico, objetivando a geração de trabalho e renda na agricultura familiar por meio do  cultivo e beneficiamento de espécies de bambu.

Dulce Silva comenta como os projetos de pesquisa e extensão desenvolvidos na universidade têm grande ênfase tanto na conservação de ecossistemas e recursos naturais como na melhoria do bem-estar das pessoas, especialmente daquelas em situação de vulnerabilidade. “Esses projetos vão fomentar a recomposição de florestas e a proteção das nascentes de águas, trazendo melhorias de vida para a população, além de contemplar diversas metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS)”, explica a professora.  Juliana Cortez e Dulce Silva integram o comitê da Agenda 2030 da Unesp, direcionado para a divulgação e implementação de ações voltadas ao desenvolvimento sustentável.

Juliana Cortez também é assessora na Pró-Reitoria de Extensão Universitária e Cultura da Unesp (PROEC) que, no ano passado, propôs as Redes Temáticas de Extensão Universitária. A iniciativa também foi abordada durante a apresentação das docentes na COP. Os objetivos das Redes Temáticas são apoiar ações de extensão universitária, estimular o ensino e a pesquisa entre as unidades, fortalecer as colaborações entre instituições públicas e privadas, assim como entre universidades no exterior, disseminar novas tecnologias desenvolvidas pela comunidade unespiana e aprimorar ações de extensão. As Redes Temáticas foram criadas a partir da necessidade de fortalecer as relações entre os diversos grupos de pesquisas existentes na Unesp e a sociedade, levando ações universitárias para além dos muros dos campus.

Também recebeu destaque o “Projeto Capes Print”, aprovado pela Agência Federal Capes. O projeto engloba 77 redes temáticas de pesquisa, estabelecendo colaborações internacionais em todas as áreas do conhecimento. Dessa forma, a Unesp buscou aliar seus esforços de internacionalização aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), tendo como pano de fundo a ideia de construir um futuro pautado nos 5 Ps do desenvolvimento sustentável: Pessoas, Prosperidade, Planeta, Paz e Parcerias

Durante a fala das professoras, foram apresentados alguns projetos de extensão que estão alinhados com as propostas de ações climáticas e dos ODS. Dentre as atividades citadas estiveram “Flores de Acácia”, que tem como objetivo melhorar o descarte de resíduos sólidos gerados; o “Projeto Araucária”, desenvolvido para propôr uma série de melhorias ambientais para o campus universitário de Rio Claro; o grupo de agroecologia Gira-Sol, também de Rio Claro, e diversos outros.

Dulce Silva destaca o fato de que os projetos desenvolvidos pela Unesp têm ido ao encontro de diversos objetivos que compõem a Agenda 2030. Definida em 2015, a Agenda 2030 estabelece metas que devem ser cumpridas por todos os países-membros da ONU, com o propósito de alcançar padrões globais de desenvolvimento sustentável até 2030. “Além do ODS 13, diretamente associado a combater as alterações climáticas, a Unesp vem firmemente trabalhando com relação ao ODS 15, relativo aos ecossistemas terrestres e à biodiversidade. A universidade também desenvolve projetos muito importantes relacionados com tratamento de água, saneamento e o acesso de populações vulneráveis à água tratada, conforme o ODS 6”, diz Dulce Silva.

Imagem acima: Juliana Cortez (esquerda, em pé) e Dulce Helena Siqueira Silva (direita, sentada) durante apresentação. Crédito: acervo pessoal.