A explosão do movimento modernista no Brasil e no mundo, a partir da década de 1920, ensejou um aumento significativo no interesse e na busca por esses novos autores em nosso país. A essa nova demanda correspondeu também um desenvolvimento maior da tradução de cunho literário em nossa indústria editorial. Graças à atuação de profissionais que combinavam o domínio de uma língua estrangeira ao conhecimento do cânone literário, da história e da cultura a que pertencem a obra a ser traduzida, novos universos ficcionais se abriram ao leitor brasileiro. Um destes desbravadores de caminhos é o paraibano Paulo Bezerra, que possui mais de 50 traduções de obras de escritores russos em seu currículo. Ganhador do prêmio Jabuti em duas edições e do Prêmio da Academia Brasileira de Letras de tradução. Em entrevista ao podcast Prato do Dia, o professor aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro esmiuçou os desafios e ferramentas que fazem parte do ofício da tradução literária.
Bezerra diz que uma boa tradução precisa lidar com aspectos muito diversos da obra. Além da captar a essência do autor, e atuar como um mediador cultural, é preciso que ele se mantenha invisível ao leitor. Em outras palavras, o ideal é que o leitor não chegue a perceber que o texto que têm em mãos é uma tradução ou adaptação.
No entanto, diferentes tipos de conteúdos exigem técnicas distintas. E o que vale para uma tradução técnico-científica pode não bastar para o caso de uma obra de ficção, “A tradução técnico-científica opera numa língua de mão única. Uma vez usado um conceito, ele não pode ser substituído por um sinônimo ou algo semelhante, nem pode ser explicado através de metáforas, pois o conceito é o núcleo de significação de um discurso científico ou técnico”, diz.
No mundo da ficção, é possível ao tradutor se debruçar também sobre a singularidade da linguagem individual de cada personagem. “Esse método é particularmente importante ao traduzir autores cujos romances são povoados por muitos personagens, cada um com uma maneira distinta de falar. Traduzir ficção é recriar linguagens e contextos de estilos, culturais e históricos. Portanto, traduzir esses contextos requer também do tradutor uma boa dose de criação”. E, no caso de obras traduzidas de forma indireta, em que a base para o texto final é uma tradução do idioma original para uma língua intermediária, a complexidade se intensifica.
“O tradutor não inventa provérbios ou soluções proverbiais. Todas elas já existem na nossa língua, na língua de chegada. É preciso que o tradutor compreenda, e tenha cultura linguística suficiente, para enfrentar esse tipo de desafio”, diz.
Você pode acessar a entrevista completa com o tradutor, crítico literário e professor brasileiro, Paulo Azevedo Bezerra, na plataforma Podcast Unesp, no player abaixo ou em seu aplicativo de podcast preferido, como Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e Deezer.