Radar meteorológico da Unesp vai apoiar Defesa Civil no litoral de São Paulo

Equipamento do Instituto de Estudos Avançados do Mar será transportado para Ilha Bela e empregado em estudos e monitoramento de áreas de risco na costa. Secretário da Defesa Civil saúda parceria com a universidade, e diz que pode ser primeiro passo para futura rede de radares pelo estado.

O reitor da Unesp Pasqual Barretti e o secretário estadual da Casa Militar e Defesa Civil coronel Henguel Ricardo Pereira assinaram nesta terça-feira (24), na sede do IEAMar-Unesp, em São Vicente, um termo de cooperação para que o radar meteorológico móvel recém-adquirido pela Universidade seja utilizado para estudos e monitoramentos de interesse da sociedade paulista.

Até o final do ano, o equipamento será instalado na cidade de Ilha Bela para monitoramento do clima e de fenômenos atmosféricos no litoral norte, região atingida em fevereiro por um violento temporal que deixou dezenas de mortos. Adquirido pelo Instituto de Estudos Avançados do Mar Prof. Dr. Peter Christian Hackspacher (IEAMar) da Unesp, com recursos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o radar meteorológico, de banda X, é de fabricação norte-americana, possui 500 watts de potência, uma antena de 1,80m e alcance que se estende a 120km, segundo o seu manual técnico.

A montagem do radar meteorológico foi concluída nesta semana na sede do IEAMar, onde ainda serão realizados ajustes e os primeiros testes necessários antes que o equipamento entre efetivamente em funcionamento. Pelo termo de cooperação, os dados gerados pelo radar serão enviados para o Instituto de Pesquisas Meteorológicas (IPMet) da Faculdade de Ciências do câmpus de Bauru da Unesp, sendo posteriormente compartilhados com a Defesa Civil, responsável pela emissão de alertas à população com base na previsão meteorológica.

O reitor Pasqual Barretti acredita que a materialização desta cooperação com o poder público estadual é um exemplo de como a infraestrutura de pesquisa da Universidade pode servir à sociedade que a financia. “Este radar, de altíssima tecnologia, terá a sua primeira missão que é enfrentar o período de chuvas que se aproxima na cidade de Ilha Bela. É uma satisfação enorme levarmos a pesquisa, a alta tecnologia da Universidade, para tão perto da sociedade e o governo do estado reconhecer este nosso esforço”, diz o reitor.

A cooperação relacionada ao novo radar meteorológico tem tudo para ser apenas o “primeiro passo” de uma parceria mais ampla, segundo o secretário estadual da Casa Militar e Defesa Civil, coronel Henguel Ricardo Pereira. Durante a cerimônia de assinatura do acordo, ele classificou a aproximação entre a academia e o poder executivo de “sonho” com potencial de “salvar vidas”. “Este é o primeiro passo, um grande apoio da Unesp junto à Defesa Civil do estado. Talvez um passo para uma caminhada de um grande projeto de outros oito radares meteorológicos para uma cobertura total no estado”, afirma o secretário estadual.

A partir da esquerda: Gabriela Ramos Hurtado ( Coordenadora executiva do IEAMar), Henguel Ricardo Pereira ( Secretário estadual da Casa Militar e Defesa Civil) , Pasqual Barretti (Reitor), Maysa Furlan (Vice-Reitora), Edson Cocchieri Botelho (Pró-Reitor de pesquisa)

O radar meteorológico recém-adquirido pela Unesp integra o projeto inicial do IEAMar, que quase foi descontinuado em razão da crise econômica que atingiu a Universidade na década passada. Como lembraram o reitor Pasqual Barretti e a vice-reitora Maysa Furlan, foi a atual gestão que recuperou os ideais da criação do instituto e viabilizaram a sua remodelação, incluindo a compra do radar meteorológico móvel, uma facility única em São Paulo.

“O que me deixa mais feliz é que esse projeto, ao final de 2020, estava para ser descontinuado, até porque não havia um local para se colocar um radar (fixo). A resposta que encontramos: se você não tem onde colocar um radar, você compra um radar móvel”, diz o reitor Pasqual Barretti. “Lutamos muito para que esse projeto não fosse descontinuado e a Unesp ganhou um equipamento que deu a ela um know-how para poder contribuir mais com a sociedade e com o estado”, afirma.

Para a vice-reitora da Unesp, professora Maysa Furlan, que participou das discussões para a concepção do IEAMar no início dos anos 2000, a atual parceria com o governo estadual para utilização conjunta do radar meteorológico realça um dos projetos mais audaciosos construídos com o poder público. O IEAMar foi viabilizado com recursos federais, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

“(O IEAMar) é um projeto audacioso porque nós queríamos também montar uma facility que pudesse trazer dados importantes para a comunidade, para a sociedade. E hoje temos a oportunidade de contribuir com a Defesa Civil. O radar vai prestar um serviço maravilhoso para a sociedade”, afirma a vice-reitora Maysa Furlan. “Para mim, que participei muito do início deste projeto lá atrás, é gratificante ver acontecer o que pensávamos: fazer uma pesquisa forte que reverberasse para a sociedade. Este retorno que vai dar ao povo paulista dá a sensação de que estávamos certos. Essa parceria (com o radar meteorológico) vai ajudar a avançar no conhecimento e a dar elementos para que se possa planejar ações e evitar tragédias como a que ocorreu no verão passado”, diz.

Além do radar móvel do IEAMar, a Unesp possui outros dois radares instalados no interior do estado, um em Bauru e outro em Presidente Prudente, ambos ligados às atividades do IPMet. Daí a Universidade estar numa posição central no projeto de criação do centro de monitoramento meteorólogico projetado para o estado de São Paulo.

“A ideia é que o radar integre esta rede (estadual), mas isso não limita o seu uso. Esse radar pode ser usado tanto nesta cooperação com o governo quanto em ações de pesquisa dos nossos docentes. Existem várias oportunidades para se usar esse radar para fins acadêmicos”, afirma o pró-reitor de pesquisa da Unesp, professor Edson Cocchieri Botelho.

Coordenadora executiva do IEAMar, a professora Gabriela Ramos Hurtado frisa que a natureza móvel do radar meteorológico, o que facilita o transporte para outras localidades futuramente, é um grande diferencial do equipamento, que custou cerca de US$ 1 milhão há alguns anos (aproximadamente R$ 5 milhões na cotação atual). A docente lembra também que os dados que serão gerados a partir do monitoramento feito no litoral serão mais precisos do que aqueles hoje disponíveis para a região e ajudarão tomadas de decisão.

“Esta parceria vai atender a uma demanda de interesse da Universidade e do governo do estado em relação aos estudos de monitoramento meteorológico em áreas de risco”, diz.

Fotos: Fabio Mazzitelli/ACI