Processo de refaunação é essencial para a restauração de biomas, analisa cientista

No quinquagésimo episódio do podcast Prato do Dia, o ecólogo Mauro Galetti, professor do Instituto de Biociências do câmpus de Rio Claro, valoriza as iniciativas de reintrodução da fauna nativa de um bioma e diz que a estratégia é fundamental para a preservação ambiental.

“Destruir essa biodiversidade é como queimar uma biblioteca sem ler os livros”, diz o biólogo e ecólogo Mauro Galetti Rodrigues, traçando uma analogia entre a devastação dos biomas brasileiros e a perda de riquezas naturais. Para Galetti, a Amazônia, a Caatinga, o Cerrado, a Mata Atlântica, o Pampa e o Pantanal guardam informações importantes para o bem-estar humano e a utilização dessa biodiversidade deve ser feita com base na ciência, premissa que não tem sido observada. “Um país que detém a maior biodiversidade de espécies no mundo deveria manejá-la melhor.”

Mauro Galetti, que frequentemente tem entrado em listas dos cientistas mais influentes do planeta, é professor do Instituto de Biociências do câmpus de Rio Claro e foi o convidado da edição de número 50 do podcast Prato do Dia. Em entrevista aos jornalistas Fabio Mazzitelli e Pablo Nogueira, o professor falou sobre os danos causados à biodiversidade, sobre os efeitos das mudanças climáticas e sobre os desafios para a restauração dos biomas brasileiros.

Dentre os biomas, o mais ameaçado é a Mata Atlântica, diz o professor. Restam cerca de 12% de toda a cobertura vegetal original do bioma, segundo o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, produzido pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O bioma também sofre com uma redução significativa de espécies da fauna nativa, processo que é chamado de defaunação, explica Galleti.

“O ecossistema que a gente precisa reconstruir é a Mata Atlântica, especialmente a Mata Atlântica de interior, que está em todo o estado de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, além da Mata Atlântica nordestina, do interior. Essa é a mata da qual sobraram apenas pequenos resquícios de floresta. Se nós preservássemos e conectássemos as matas ciliares, isso ajudaria a recompor a fauna, porque a fauna que sobrou em alguns lugares consegue se movimentar especialmente pelos rios e por essas matas ciliares. Então, acho que uma abordagem especial deveria ser dada à refaunação da Mata Atlântica”, analisa o pesquisador.

Em sentido contrário ao processo de destruição, a refaunação se refere a restauração e preservação da fauna nativa de um bioma. A restauração florestal, embora relevante, não é suficiente para que um ecossistema volte a ser saudável. Para isso, é necessário que haja também a reintrodução de todas as espécies animais nativas ou de grande parte delas, além da supressão de ameaças, como a caça à fauna do bioma, diz Galleti.

O processo de refaunação está na fronteira do conhecimento em ecologia e vem sendo empreendido principalmente na última década. Segundo o docente da Unesp, ainda são necessárias mais pesquisas para que se compreenda a forma correta de refaunar um bioma, além da formação e do esforço de mais biólogos e ecólogos voltados ao monitoramento e ao manejo da fauna. Para Galetti, o Brasil tem um grande potencial na realização da refaunação.

“O Brasil é um dos países que mais tem projetos de conservação que deram certo. Desde a arara-azul no Pantanal, com os ninhos artificiais e remanejando para que ela possa reproduzir melhor, até o projeto para refaunar a Floresta da Tijuca (área urbana do Rio). Há inúmeros projetos mostrando que, uma vez que a iniciativa pública ou privada se empenhe em restaurar ou refaunar um lugar, isso funciona”, analisa.

Em agosto, o cientista da Unesp fará a conferência de abertura do 13º Congresso Internacional de Mastozoologia, ciência dedicada ao estudo dos mamíferos. O evento é organizado pela Federação Internacional de Mastozoologistas e pela Sociedade Americana de Mastozoologistas e ser indicado para a conferência de abertura é um dos principais reconhecimentos a quem é estudioso do campo. Neste semestre, Mauro Galetti também lançará “Um naturalista no Antropoceno – um biólogo em busca do selvagem”, e-book do selo Cultura Acadêmica, da Editora Unesp.

A íntegra deste Prato do Dia sobre os biomas do Brasil, inspirado na série de reportagens que está sendo publicada no Jornal da Unesp, está disponível na mídia abaixo, pode ser ouvida também na plataforma Podcast Unesp, bem como nos tocadores Google Podcasts, Spotify e Deezer. O podcast é uma produção da Assessoria de Comunicação e Imprensa (ACI) da Unesp.