A consultoria especializada em educação superior Times Higher Education divulgou, no último dia 6, a edição 2023 do seu guia internacional Impact Rankings, que classifica as instituições universitárias tendo como parâmetro os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela ONU em 2015. Esta é a quinta edição do Impact Rankings, que avaliou 1.591 universidades de 112 países/regiões. No levantamento, a Unesp ocupa a 4a posição no Brasil, e foi situada entre as colocações de número 200a e 300 na avaliação internacional.
Na elaboração do ranking, os indicadores são calibrados para fornecer uma comparação abrangente e equilibrada em quatro grandes áreas: pesquisa, administração, extensão e ensino. O ranking destacou a atuação da universidade em relação à promoção da indústria, inovação e infraestrutura, identificados pelo ODS 9, e também uma produção acadêmica de impacto associada a diversos outros Objetivos, que pode ser vista no levantamento feito pela plataforma Sci-Val, da Elsevier.
Coordenadora do Grupo de Trabalho Unesp 2030, a docente Raquel Cabral, do Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design, câmpus Bauru, explica que a Universidade tem se mobilizado no sentido do movimento da avaliação responsável e pela participação da Unesp em rankings internacionais, uma vez que os dados numéricos não são suficientes para atender à complexidade do trabalho acadêmico realizado em boa parte das universidades brasileiras. “Por essa razão, acreditamos na pertinência dos rankings que estão inserindo princípios e indicadores dos ODS da Agenda 2030 em seus critérios de avaliação. Eles permitem identificar dados quanti e qualitativos que podem nos apoiar nas tomadas de decisão para a nossa instituição”, diz ela. O GT Unesp 2030 tem entre seus objetivos pensar formas para engajar a Universidade na construção de uma sociedade mais justa e sustentável, por meio da adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Na avaliação da professora do câmpus de Bauru, a relevância de uma avaliação responsável também passa pela necessidade do respeito à diversidade e as diferentes culturas dos sistemas de pesquisa entre as áreas de conhecimento e, também, entre as distintas sociedades. “Continuar participando desse processo é fundamental para nossa instituição, pois também oferece subsídios para dar visibilidade à opinião pública sobre o que as universidades fazem e produzem. E destacamos a crescente prevalência de indicadores pautados em princípios de sustentabilidade, diversidade e inclusão, que certamente poderão orientar os processos de avaliação institucional nos próximos anos”, diz.
Resultados da Unesp
A Unesp oferece cursos de graduação e pós-graduação em todas as áreas do conhecimento e possui campi em 24 municípios, distribuídos por todo o Estado de São Paulo. Estas características permitem o desenvolvimento de atividades acadêmico-científicas diversificadas, tanto no âmbito interno da universidade, como extra-muros. Neste caso, o engajamento dos estudantes e pesquisadores da Universidade visa à resolução de problemas identificados a partir do diálogo com as comunidades em seu entorno. Este cenário permite abordagens que privilegiam o avanço da ciência em diversas frentes, bem como desdobramentos socioeconômicos, culturais e ambientais, de forte impacto regional, com benefícios diretos para a sociedade por meio do desenvolvimento de pesquisas e trabalhos que atendem a demandas específicas, e portanto, em amplo alinhamento aos ODS.
Redução da pobreza
A avaliação da Unesp com relação ao ODS 1 – Redução da Pobreza evidenciou desempenho destacado em quesitos como a pesquisa sobre temas relacionados ao combate à pobreza por meio de indicadores que consideram o número de publicações relacionadas ao tema e o impacto das citações em comparação com outros artigos do mesmo campo (Field-weighted Citation Impact – FWCI), bem com a proporção de artigos que incluem co-autores de países de baixa renda. Outros quesitos, como a proporção de alunos que recebem apoio financeiro, programas de combate à pobreza na universidade e também na comunidade, contribuíram para o posicionamento da Unesp entre as 300 universidades de melhor desempenho no contexto do ODS 1.
Além do programa de cotas, que garante acesso aos cursos de graduação da Unesp a cerca de 53% de estudantes oriundos da escola pública, os programas de permanência na universidade aos alunos vulneráveis economicamente, já bem estabelecidos há vários anos e desenvolvidos pela COPE (Coordenadoria de Permanência Estudantil), atendem aos alunos de todos os cursos de graduação, e providenciam auxílio socioeconômico, moradia e alimentação, capazes de promover a redução da evasão e garantir melhores condições para o bom rendimento acadêmico.
A partir de 2023, foi iniciado programa complementar, que visa atender, adicionalmente, alunos dos cursos de pós-graduação economicamente vulneráveis. Esta iniciativa da Pró-reitoria de Pós-graduação (ProPG), em parceria com a COPE, abre perspectiva de alta relevância, de apoio a mestrandos e doutorandos por meio de auxílio que contribua para estes jovens permanecerem nos Programas de Pós-graduação da Unesp, concluírem suas dissertações e teses, e conquistarem sua qualificação profissional e a decorrente melhoria nas condições de vida.
De forma complementar, a ProPG, em parceria com a Pró-reitoria de Graduação (ProGrad), vem apoiando a permanência de discentes em período de licença maternidade e adoção, tanto em cursos de Graduação como de Pós-graduação, colaborando para a conclusão de seus cursos e formação acadêmico-profissional. Analisados em conjunto, estes programas representam evolução significativa no combate à pobreza, oferecendo condições reais para que parcela significativa dos discentes da Unesp consigam romper barreiras socioeconômicas e alcancem novos patamares de qualificação profissional, promotores de melhorias no padrão de vida.
Fome zero
Dentre os quesitos analisados no contexto do ODS 2 – Fome Zero, a Unesp foi bem avaliada por sua produção científica nesta temática, que considerou o número de publicações, bem como o FWCI e a proporção de artigos científicos no grupo das 10% melhores revistas, de acordo com o Citescore. Além disso, o elevado índice de formação de profissionais na área de agrárias e a capacidade de promover atendimento e a disseminação do conhecimento sobre segurança alimentar, práticas de agricultura sustentável, além de técnicas e tecnologias de apoio a produtores rurais, a agricultura familiar e a economia social e solidária resultaram em pontuação superior a 90% em quesitos associados ao ODS 2, e no posicionamento da Unesp entre as 200 melhores instituições globalmente e a 5a. posição no Brasil.
Saúde e bem-estar
Os quesitos avaliados para o ODS 3 – Saude e Bem-estar incluem as pesquisas realizadas na área de Saúde, além do foco na formação de profissionais nesta área do conhecimento, por meio da proporção de graduados em profissões relacionadas à área da saúde, considerando o total de graduados da universidade, e ainda o conjunto de ações voltadas aos cuidados com a saúde física e mental do corpo docente, discente e técnico da Universidade. A qualidade da pesquisa considerou o número de publicações, bem como a proporção de artigos científicos vistos ou citados em orientações clínicas e impactou positivamente para situar a Unesp na 8a posição dentre as universidades brasileiras avaliadas.
Educação de qualidade
A avaliada do ODS 4 – Educação de Qualidade, considerou as pesquisas realizadas na área, por meio de indicadores que pontuam a quantidade e proporção de publicações científicas no grupo das 10% melhores revistas de acordo com o Citescore, e ainda a proporção de artigos baixados e/ou lidos. Outros indicadores incluíram a proporção de graduados com qualificação para o ensino, tipicamente providenciada pelos cursos de licenciatura, e o oferecimento de oportunidades para educação continuada por meio do livre acesso a recursos educacionais para a comunidade externa, atividades educacionais como conferências e minicursos abertos ao público geral, bem como aqueles oferecidos em escolas de ensino fundamental e médio, eventos educacionais visando treinamento vocacional, e ainda, políticas que garantam amplo acesso a estas oportunidades sem viés de gênero, religião, étnico, dentre outros. Além disso, a pontuação foi influenciada também pela proporção de alunos ingressantes que se identificam como sendo a primeira pessoa na família a cursar a universidade com relação ao total de ingressantes.
O desempenho da Unesp nestes quesitos apresenta avanços importantes, que decorrem dos esforços direcionados ao aprimoramento da qualidade do ensino e também das políticas inclusivas, que vêm priorizando investimentos crescentes para apoiar o acesso e a permanência de alunos vulneráveis economicamente e outros grupos minoritários, além de contribuir para estreitar laços com a comunidade externa. Estes avanços permitiram situar a Unesp dentre as 200 melhores universidades mundialmente e na 2a posição dentre as instituições avaliadas no Brasil.
Indústria, inovação e infraestrutura
A Unesp, por meio da Agência Unesp de Inovação (AUIN), tem envidado esforços na ampliação da sua equipe técnica nas áreas de propriedade intelectual, transferência de tecnologia e empreendedorismo. O professor Saulo Guerra, diretor da AUIN, destaca como fruto desse direcionamento a ampliação no número de treinamentos, cursos e capacitação para a comunidade unespiana no último ano. “Além disso, a criação e o apoio aos centros de inovação e aos fablab´s, além do fortalecimento das incubadoras de empresas, resultaram em incrementos importantes de startups e spin-offs”, explica o diretor. “Nesta mesma linha, nós também fortalecemos as parcerias estratégicas com o setor privado, entregando resultados sólidos em inovação, além de iniciar a divulgação de matérias sobre o retorno econômico e impacto social gerados tanto localmente como de maior alcance para a sociedade decorrentes do desenvolvimento de projetos da Unesp em conjunto com empresas.” Este conjunto de iniciativas, somado à captação de recursos provenientes de empresas, contribuiu diretamente para o desempenho destacado da Unesp, como a melhor universidade brasileira no contexto do ODS 9.
Melhoras em diversos quesitos
De acordo com a presidente da Comissão de Rankings da Unesp, a professora Dulce Silva, a flutuação na quantidade de universidades avaliadas no ranking THE Impact, tanto globalmente quanto no contexto nacional, implica cuidados para a condução de análises comparativas, a fim de alcançar uma maior clareza para a interpretação dos resultados divulgados por esses levantamentos. Segundo ela, de forma geral, o aumento na amostragem provoca queda de posições, mesmo que os indicadores de qualidade tenham se mantido de um ano para outro, ou é mesmo melhorado. “A comparação do desempenho da Unesp em 2022 e 2023 mostra melhora em diversos quesitos, evidenciando avanços consistentes da nossa universidade. Destacam-se aqueles relacionados com os ODS 2 e 4, nos quais a Unesp subiu posições nas comparações nacionais e se manteve entre as 200 melhores instituições no contexto global”, diz a docente. O quadro abaixo apresenta o desempenho da Unesp nos ODS 1, 2, 3, 4, 9 e 17.
Com relação aos indicadores que compõem os ODS 9, a tabela acima atribui a primeira posição no ranking nacional para a Unesp, além da melhora de posição nas comparações internacionais, mesmo considerando o aumento na quantidade de universidades avaliadas. As iniciativas promovidas pela AUIN, incluindo a criação e apoio a centros de inovação, incubadoras de empresas e cursos de capacitação, têm contribuído de forma marcante para a ampliação da captação de recursos e fortalecimento de parcerias com empresas. A melhoria nestes indicadores, de forte impacto regional e nacional, reflete-se também em avanços cuja percepção é crescente também nos quesitos considerados nas comparações internacionais, evidenciando a relevância das ações da Unesp relativas aos ODS-9.
A produção acadêmica da Unesp sobre os ODS
De forma geral, o desempenho da Unesp no contexto das produções acadêmicas para cada um dos ODS, conforme providenciado na ferramenta SciVal – Scopus (imagem abaixo), acompanha os resultados associados aos quesitos avaliados pelo Impact Rankings. Algumas exceções merecem destaque, como a produção associada ao ODS 1, de alta relevância, embora em pequena quantidade, conforme evidenciado pelo FCWI próximo de 1,2. De forma similar, a produção acadêmica relacionada ao ODS 9 apresenta impacto muito relevante, com FCWI superior a 1,4, apesar de ser mediana com relação à quantidade. 25a
A imagem abaixo evidencia ainda impactos muito relevantes das produções associadas aos ODS 8, 10, 12 e 13, para os quais os dados da Unesp não foram avaliados nesta edição do Impact Rankings, indicando o potencial de relevância da produção acadêmica da universidade relacionada aos temas abrangidos pelos ODS 8 – Trabalho decente e crescimento econômico, ODS 10 – Redução das desigualdades, ODS 12 – Consumo e produção responsáveis e ODS 13 – Ação contra a mudança global do clima, dentre outros.
Sobre a metodologia do THE Impact Rankings
A metodologia do ranking está disponível no link e destaca indicadores específicos para a análise das contribuições em cada ODS. Segundo o ranking do THE, as universidades recebem uma pontuação e uma classificação por suas atividades em cada um dos ODS para os quais elas enviam dados. A participação no ranking geral exige que as universidades enviem dados para pelo menos quatro ODS, sendo que o ODS 17 é obrigatório. A pontuação geral é calculada a partir da pontuação para o ODS 17 (no valor de até a 22% da pontuação geral), somada aos três mais fortes dos outros ODS para os quais cada universidade forneceu dados (cada um valendo até 26% da pontuação geral). Dada a natureza dos ODS, muitos indicadores dependem de comprovação de ações realizadas pela instituição no escopo de cada objetivo. A comprovação é enviada pela instituição na forma de evidências. A evidência é avaliada de acordo com uma abordagem de cálculo simples. Quando uma métrica requer evidências, uma série de perguntas são colocadas, e os pontos são atribuídos de acordo com a resposta. Isso é detalhado na metodologia de cada métrica.