Com a proposta de analisar historicamente toda a obra gravada do Led Zeppelin no período entre 1969 e 1979, o projeto de doutorado do pesquisador e membro do Grupo de Estudos Culturais da Unesp em Franca, Ricardo Sinigaglia Arruda, se debruça sobre uma produção artística que dialogou com a crise e, provavelmente, com o fim da contracultura durante a década de 1970, período em que a banda figura como uma das principais do segmento do rock. Algo atestado não só pela historiografia, mas também pelos dados do mercado de música.
“Nosso problema histórico é pensar como o Led Zeppelin fez experimentações e, ao mesmo tempo, faixas com formas pré-concebidas durante a década de 1970, que foi marcada por um rock que se tornava cada vez mais fechado em fórmulas de sucesso musical, tais como o Heavy Metal e o rock progressivo. Isso se opunha aos anos 1960, em que a regra era experimentar”, explica Arruda.
A pesquisa se justifica por não haver, até o momento, autores que se dedicaram exclusivamente ao estudo da obra gravada do Led Zeppelin, existindo apenas comentários esparsos em livros mais gerais sobre rock e nas biografias existentes sobre a banda. “Em termos de metodologia, para a análise interna da obra gravada do Led Zeppelin e sua relação com a sociedade utilizaremos o conceito de mediação como foi elaborado pelo pensador britânico Raymond Williams”, conta o pesquisador.
O grupo de rock inglês Led Zeppelin (1968-1980) foi idealizado pelo seu guitarrista e produtor, Jimmy Page (que aliás até morou no Brasil). Com o fim dos Yardbirds, sua antiga banda, Page decidiu que faria um novo projeto. Para esta finalidade, ao lado do empresário Peter Grant, ele buscou o vocalista Robert Plant, o baterista John Bonham e o baixista e tecladista John Paul Jones.
A concepção musical inicial passava por uma musicalidade sem formas pré-definidas ou que não ficaria fechada em apenas um gênero musical. Segundo Page, ele analisava todo esse tipo de dinâmica. Como os seus gostos musicais eram muito abrangentes, não se limitavam a um estilo especial. Não era apenas o blues, o rock’n’roll, a música folk ou a música clássica. Mas a junção de vários gêneros. Ainda de acordo com o guitarrista, esse projeto poderia ser traduzido como “luz e sombra” uma vez que ele unia diversos aspectos do universo do rock.
“Para conseguir realizar seus propósitos, Jimmy Page não queria que a banda produzisse singles de sucesso, nos quais eram usados discos de vinil de 45 rpm que comportavam apenas uma faixa de cada lado. O produtor do Led queria lançar álbuns e contava com os discos de vinil de 33 1/3, nos quais poderiam ser gravados até 30 minutos em cada face. Certamente não seria possível mostrar a heterogeneidade do rock em um compacto”, diz Arruda. “Além disso, outras bandas importantes elaboravam álbuns desde, pelo menos, 1967, quando o Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, deu a tônica de como deveria ser o profissionalismo de um músico de rock de modo a se diferenciar da pop music feita para o sucesso comercial e dentro dos padrões de qualidade do rock and roll que estava nas paradas de sucesso entre 1955 e 1964. Nesse sentido, este trabalho analisa oito álbuns de estúdios elaborados pelo Led Zeppelin”, relata o pesquisador da Unesp.
Graduado no curso de História na Unesp, Ricardo tem uma relação de apreciação antiga com o grupo inglês e pesquisa o Led há tempos, tendo feito um mestrado sobre o grupo na Unifesp.
“Durante o mestrado analisei o Led Zeppelin IV. Na verdade, esse álbum não tem título. Mas antes que o disco se tornasse um grande sucesso, que vendeu 22 milhões de cópias, foi visto como um suicídio profissional pela gravadora da banda, a Atlantic Records. Mas as faixas do disco dialogavam com a forma cultural do rock dos anos de 1960, quando o underground londrino sustentava a possibilidade de produzir experimentalismos musicais”, diz ele. “Porém, o álbum também estava de acordo com a transformação do rock, no início da década de 1970, quando o rock ficou limitado a subgêneros, o que tornou possível estratégias de marketing e as vendas de cada um desses mercados segmentados, muito em razão da crise dos valores do underground londrino. Assim, busquei compreender o que Led Zeppelin IV transmitiu sobre tal crise e como reagiu aos novos subgêneros do rock”.
Vale destacar que a orientação do projeto de doutorado intitulado “Luzes e Sombras: A obra gravada do Led Zeppelin (1969 – 1979)” é do historiador e professor da Faculdade de Ciências Humanas Sociais da Unesp, José Adriano Fenerick.
Ouça a íntegra da entrevista de Ricardo Arruda ao Podcast Unesp.
Imagem acima: Jimmy Page e Robert Plant, vocalista e guitarrista do Led Zeppelin. Crédito: Heinrich Klaffs Artikel zum Foto auf/Creative Commons