Netto Rockfeller: A nova cara do blues brasileiro

Guitarrista constrói trabalho autoral que combina gênero musical americano com influências brasileiras, latinas e da surf music. Novo álbum foi gravado nos EUA.

Preservar as origens e buscar novas sonoridades dentro do universo do blues. Este é o mote que rege a obra do guitarrista, compositor, cantor e produtor Netto Rockfeller. Apontado por nomes relevantes da música brasileira como a nova cara do blues feito no Brasil, Netto é natural de São Carlos, no interior de São Paulo, mas vem se destacando na cena musical dentro e fora do país com seu jeito inovador na guitarra.

Netto Rockfeller conta que suas influências são diversas e distintas. “Respeito muito, mas não faço o blues tradicional”, diz, explicando sua opção por incorporar outros elementos sonoros. Aí está incluída, por exemplo, a dupla caipira Tião Carreiro e Pardinho. “Inclusive a moda de viola tem timbres que remetem bastante ao blues”, compara. Também bebe em fontes como a música brasileira considerada engajada “como Caetano Veloso”, a música latina e a surf music. “Resumindo, creio que o meu som pode ser definido como essa mistura de sons. Talvez eu possa chamá-lo de ‘rhythm blues brasileiro’, pois agrega rock, funk, música regional e a música negra africana de forma mais ampla.”

Segundo o guitarrista, embora seu contato com a música tenha se iniciado na infância, a imersão no blues surgiu após assistir um vídeo de um show do Raul Seixas, onde o roqueiro baiano destacava as origens musicais de Elvis Presley — ou seja, o blues. Outro motivador foi o filme Encruzilhada (Crossroads). “A partir desse momento comecei a pesquisar blues. Fiquei louco com a trilha sonora do filme, feita por Ry Cooder. Não havia Internet na época. Eu sou do interior, era complicado achar informações sobre o gênero. Então, em meados dos anos noventa apareceu uma locadora de CD e aí aluguei um Cd do Blues Etílicos (“Salamandra”). Esse álbum fez minha cabeça, os caras cantando em português e tal”, conta. Ele acha que o alicerce do blues feito no Brasil foi formado por Celso Blues Boy, André Christovam e Blues Etílicos. “Esses caras foram fundamentais no processo de fortalecer o som aqui no país. Mas até hoje sigo buscando novos artistas.”

Com 25 anos de carreira e nove discos solos na bagagem, Netto já dividiu o palco e gravou com diversos expoentes do gênero. Nomes como Igor Prado, Flávio Guimarães, Solon Fishbone, Fernando Noronha, Danny Vincent, Fred Sun Walk, Alma Thomas e Blues Etílicos, entre outros. Essas experiências possibilitaram ao artista excursionar por diversos países da América do Sul, América do Norte e Europa. Além da carreira como guitarrista e compositor, Netto é produtor musical e dono do estúdio e selo fonográfico Blue Crawfish Records.

Em 2017 foi vencedor do prêmio “Profissionais da Música”, juntamente com o gaitista Flávio Guimarães, com quem tem dois discos lançados. Essa história se consolida a cada ano e a cada turnê, seja com seu trabalho autoral ou como guitarrista de artistas como WillieBuck (USA), Johnny Nicholas (USA), Tail Dragger (USA), Tia Carol (USA), José Luis Pardo (ARG), Quique Gomez (ESP) , Steve Guyger (USA), Lazy Lester (USA), Omar Coleman (USA), Wallace Coleman (USA) e Whitney Shay (USA).

Seu último álbum autoral é o “The Latin America Mojo Style of Netto Rockfeller”. Nele, o guitarrista concretizou o sonho de gravar um disco de blues nos Estados Unidos. “É o resultado de anos de trabalho, todos dedicados ao blues e suas vertentes. Foi gravado em San Jose, Califórnia, no estúdio Greasealand, do guitarrista Kid Andersen. Kid é um dos maiores nomes do blues na atualidade e foi indicado várias vezes ao Blues Music Awards”, conta. O disco conta com as participações de Kid Andersen, June Core, Uirá Cabral, Whitney Shay, Alamo Leal, Jim Pugh e John Blues Boyd. O repertório é composto por músicas próprias e algumas regravações de canções dos anos 1950 e 1960, além de composições de artistas brasileiros.

Para Netto, a cena do blues no país vive possivelmente sua melhor fase, devido ao alto número de shows, eventos e novos artistas. “Tenho me apresentado em cidades que, confesso, nem sabia que existiam. Isso é algo muito bacana que gera cultura, economia e turismo, entre outros aspectos, que trazem benefícios ao artista, ao público e aos respectivos lugares que nos acolhem”.  Sem dúvida, o leitor ainda irá ouvir falar bastante deste músico do interior paulista que voa alto no universo do blues. Confira a entrevista completa no Podcast Unesp.