Docente da Unesp comenta os impactos da liberação da exploração de petróleo na foz do Amazonas

Em entrevista à TV Unesp, Sérgio Caetano Filho, do Instituto de Geociências e Ciências Exatas, diz que a decisão é “necessária, porém complexa” e destaca a importância de conciliar segurança energética e preservação ambiental.

No dia 20 de outubro de 2025, o Ibama concedeu à Petrobras a licença para perfurar um poço exploratório em águas profundas na região da foz do rio Amazonas, a cerca de 175 quilômetros da costa do Amapá. A autorização foi liberada às vésperas da COP30, que será realizada entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025, em Belém (PA), e reacendeu o debate sobre a expansão da exploração de petróleo no país e seus impactos ambientais. Em entrevista à TV Unesp, Sérgio Caetano Filho, professor do Departamento de Geologia do Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE) da Unesp e líder da equipe de coordenação do Centro de Ciências Naturais Aplicadas (UNESPetro), avalia os prós e contras dessa decisão.

Para Caetano Filho, a liberação concedida pelo Ibama marca uma fase importante do processo de exploração petrolífera, mas exige cuidado. “Essa é uma fase natural e necessária no processo de exploração. Antes de qualquer coisa, é preciso perfurar para saber o que existe lá, pois ainda não se sabe nada sobre essas reservas. O que temos são apenas inferências baseadas em dados indiretos e comparações com áreas semelhantes”, explica.

De acordo com o pesquisador, a perfuração é o início do processo de avaliação do potencial energético da região, mas ainda não significa que haverá produção comercial. Mesmo assim, Caetano Filho lembra que toda atividade petrolífera envolve riscos e deve estar amparada por estudos e planos de contingência rigorosos. “O impacto de perfurar um poço é semelhante ao que já aconteceu em outras regiões produtoras do país, como nas bacias de Campos e Santos. É uma etapa necessária, mas que requer responsabilidade. A Petrobras e outras empresas precisam cumprir tudo o que já está previsto do ponto de vista ambiental”, diz.

Caso a perfuração comprove a existência de reservas economicamente viáveis, novas etapas ainda serão necessárias antes da produção propriamente dita, um processo que pode levar até uma década. “Com um único poço, não se comprova uma reserva em grandes volumes. É apenas o começo. Se houver acumulação e ela for viável, aí sim o processo segue para as fases de produção”, pontua.

Por mais que a bacia leve o nome de foz do Amazonas, o local da perfuração está distante da costa e não deve afetar diretamente o ecossistema continental. Caetano Filho pondera que os efeitos da agropecuária e da ocupação urbana sobre a Amazônia são significativamente mais prejudiciais e diretos do que os que poderiam ser causados por uma perfuração em uma área de águas profundas. Ainda assim, o docente ressalta que a atividade envolve riscos e deve contar com estrutura adequada para lidar com possíveis vazamentos. “Aqui na Unesp temos grupos que estudam a sensibilidade das zonas costeiras ao óleo, e muitos desses projetos são financiados pela própria Petrobras. Ou seja, existe ciência sendo produzida para compreender e mitigar impactos”, ressalta.

Caetano Filho destaca que o debate sobre a exploração na foz do Amazonas precisa ser conduzido com maturidade, reconhecendo tanto a necessidade de transição energética quanto a dependência global do petróleo. Para ele, “nenhum país do mundo está pronto para abrir mão do petróleo, infelizmente. A demanda energética só cresce, e a verdade é que não é possível fazer essa transição do dia para a noite”.

O professor lembra que o Brasil, apesar de explorar petróleo, tem uma matriz energética mais limpa que a de muitos países, e que a questão não deve ser vista de forma simplista. “Não acho que a perfuração na foz do Amazonas torne o país um vilão. É preciso pensar de forma madura na transição energética e nos desdobramentos sociais que ela envolve. O petróleo ainda é uma fonte transformadora para o Brasil, gerando investimentos, royalties e desenvolvimento regional”, observa.

Por fim, o docente defende que as comunidades locais e a sociedade civil sejam ouvidas durante todo o processo. “Nós estamos discutindo isso a partir do Sudeste, mas é importante abrir espaço para ouvir quem vive nas regiões envolvidas. É lá que os efeitos, positivos ou negativos, serão sentidos primeiro”, diz.

Assista abaixo à entrevista do professor Sérgio Caetano Filho, do Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE) do câmpus da Unesp em Rio Claro.

Imagem acima: Sonda de perfuração NS-42, responsável pela perfuração do poço em águas profundas do Amapá. Crédito: Petrobras/Divulgação