Daniel Filho é o entrevistado da nova edição do Prato do Dia

Diretor, produtor e ator concebeu novelas, filmes e musicais que marcaram o audiovisual nacional. Aproximação com produção musical dos anos 1970 e 1980 foi um diferencial que permitiu deixar uma marca pessoal na história da TV brasileira.

Com mais de 50 anos de televisão e projetos marcantes no cinema, o ator, diretor e produtor Daniel Filho guarda em seu repertório horas e horas de histórias e anedotas do audiovisual brasileiro. Nesta edição do podcast Prato do Dia, entretanto, o entrevistado comenta principalmente a relação entre o audiovisual e a música, uma parceria que soube explorar como poucos.

A capacidade de expressão artística veio praticamente nos genes. Filho e neto de artistas circenses, passou a infância mergulhado na cultura do circo tradicional, com um cotidiano marcado por viagens e apresentações realizadas por toda a América Latina. “Minha avó contava que eles viajaram até sobre o lombo de lhamas”, lembra o diretor.

Ainda no circo, sonhou em se tornar ator de cinema. E logo nos primeiros anos atuou em um dos mais impactantes filmes do cinema nacional. Em Os Cafajestes, de Ruy Guerra, fez uma dobradinha com Jece Valadão que o projetou nacionalmente e valeu o convite para outro papel de destaque, Boca de Ouro (1963). Porém, não seria como ator, e sim como diretor, que seu nome se tornaria referência. “Nunca imaginei que iria me tornar diretor”, conta.

Daniel Filho recorda ter recebido o incentivo fundamental do produtor José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, para dar esta guinada. “Eu não sabia que iria ser diretor de novela. Ser ator já me bastava. Mas me interessou a ideia de dirigir e contar histórias. Na verdade, o que eu sou, acredito, é um contador de histórias”, afirma Daniel Filho.

Boni esperava que aquele amante do cinema pudesse transformar a linguagem das telenovelas, surgidas como uma derivação das novelas do rádio, em busca de uma maior visualidade. “Com vontade de fazer cinema, eu comecei a mexer nas telenovelas”, diz Daniel. Como diretor, e posteriormente supervisor de novelas, ele colocou seu nome em algumas das mais célebres produções da telinha, incluindo A cabana do Pai Tomás, Irmãos Coragem, Pecado Capital, O Astro, Dancing Days e tantas outras.

Música foi um diferencial

Uma das características marcantes das produções dirigidas por Daniel Filho é o conteúdo musical que acompanha o projeto audiovisual, especialmente as trilhas sonoras das telenovelas.

O diretor explica que a ideia de selecionar um conjunto de músicas para “ilustrar” a telenovela surgiu do produtor André Midani, então executivo da Philips, uma das principais gravadoras da época. A proposta foi incorporada pela primeira vez na novela Véu de Noiva, quando Chico Buarque e Vinicius de Moraes gravaram a composição Gente Humilde, do violonista Garoto. Em seguida, o formato se consagrou na novela Irmãos Coragem, cuja trilha sonora obteve enorme sucesso, estrelando grandes artistas do momento, como Jair Rodrigues, Tim Maia e Joyce. “A grande parada de sucessos da época  eram realmente as trilhas sonoras das novelas”, afirma.

Outro caso célebre relatado pelo convidado foi a trilha de Pecado Capital (1975), telenovela escrita por Janete Clair e dirigida por Daniel Filho, em que foi encomendada uma música para a vinheta de abertura. O pedido foi prontamente atendido pelo sambista Paulinho da Viola, que compôs a canção em menos de 24 horas. Ao longo da carreira como diretor, dirigiu diversos espetáculos musicais para o teatro e para a TV, registrando performances de alguns dos maiores nomes da música brasileira da época, como Elis Regina, Rita Lee, João Gilberto, Caetano Veloso e Chico Buarque. “O período que eu convivi com tantos grandes músicos foi uma das fases mais alegres da minha vida”, lembra.

Em uma conversa sobre audiovisual com um dos diretores mais importantes da televisão brasileira, um assunto que não poderia faltar é o filme Ainda estou aqui. “Uma das coisas que explica o sucesso da Fernandinha (Fernanda) Torres foi que o filme obrigou eles [os Estados Unidos] a entenderem o que era a ditadura que a gente viveu”, afirma Daniel Filho, destacando que o Brasil viveu outros períodos de governos autoritários e que esta é uma ameaça que ainda paira sobre o mundo.

“O Waltinho [Walter Salles, diretor do filme] amadureceu muito porque o diretor aparece muito pouco, mas ele está presente em todos os movimentos. É um filme narrado sem firulas”, afirma Daniel Filho. “Estou muito entusiasmado com o filme. Entusiasmado com esse momento porque estou triste com o que está acontecendo com a nossa cultura, no nosso país e no mundo”.

Ouça abaixo a íntegra do bate-papo no podcast Prato do Dia.