Bárbara Almeida (Bárbara Eugenia Almeida Pereira, na certidão de nascimento) nasceu em Niterói, no Rio de Janeiro, em 5 de agosto de 1980, e vem construindo um trabalho singular dentro do universo da música brasileira contemporânea atuando como cantora, compositora, instrumentista e produtora.
Ela nasceu em uma família de amantes da música. “Minha mãe passava os dias ouvindo música e meu pai tocava piano. Não era profissional, mas executava muito bem seu instrumento. Cresci ouvindo muita coisa boa e tive uma educação musical riquíssima”, lembra. A mãe gostava de MPB, e também de música francesa e música italiana. O pai se interessava por estilos mais regionais, como o forró, e também por música clássica e por bossa nova. “Cresci com uma grande mistureba sonora. Porém, o rock é algo meu, particular. Desde criança minha mãe dizia que eu gostava de Beatles. Essa alma roqueira não herdei deles, ela é minha.”
A imersão de Bárbara no universo musical foi espontânea e oportuna. Em 2005, após se mudar para São Paulo, conheceu o produtor musical Apollo 9 que a convidou para cantar duas músicas da trilha sonora do longa “O Cheiro do Ralo”, de Heitor Dhalia. Em seguida, com o guitarrista Edgard Scandurra, participou de um projeto de tributo ao cantor francês Serge Gainsbourg. Posteriormente, foi convidada por Pupillo, Dengue e Rica Amabis para integrar o coletivo 3 na Massa. Esses trabalhos foram fundamentais para o seu mergulho artístico.
“Na verdade, tentei entrar para uma banda quando eu tinha uns 19 anos, mas não deu certo. Era uma banda de rock. Depois de algumas tentativas de cantar no Rio de Janeiro, vi que era muito difícil furar aquela bolha. Era uma panelinha meio bizarra e eu não tinha um sobrenome global que me proporcionasse oportunidades no Rio de Janeiro. Depois de algumas tentativas, acabei desistindo. Apesar de gostar muito de cantar, não pensava em fazer disso a minha carreira, a minha vida. E foi em São Paulo, por insistência dos meus amigos, que eu comecei a cantar”, lembra.
Sua carreira começou a tomar forma a partir do convite para colaborar com a trilha sonora do filme “Cheiro do Ralo”. Gravou duas faixas, uma em francês, que deixou publicada em seu perfil na rede social Myspace. Na época, atuava como DJ. Ficou sabendo de uma festa que seria organizada por um amigo, e pediu a ele uma oportunidade de fazer algum trabalho no evento. “Ele me disse que havia escutado essas minhas canções e que um amigo dele estava procurando cantoras para um novo trabalho em francês e que poderia ser legal pra mim”, diz. O amigo marcou um encontro com esse tal músico, mas não falou em nomes.
“Quando cheguei ao restaurante ele me apresentou ao Edgard Scandurra, o guitarrista do Ira!, que estava começando a fazer um projeto em homenagem ao artista francês Serge Gainsbourg. Fiquei encantada, o Edgard foi muito gentil e começamos uma amizade muito especial nesse espaço de rock e música francesa”, diz. Na sequência, ela foi convidada pelo grupo 3 na Massa para sair em turnê e começou a tocar por São Paulo. Assim se lançou na carreira. “Tive a oportunidade de começar com músicos e nomes importantes da música brasileira.”
O primeiro álbum com a assinatura de Bárbara Eugênia foi lançado em 2010. Intitulado Journal de BAD, teve boas resenhas por parte da crítica especializada e contou com apoio dos companheiros e dos novos amigos musicais como o próprio Scandurra, Pupillo, Dengue, Tatá Aeroplano, Otto, Karina Buhr e Tom Zé.
“A iniciativa de gravar o primeiro álbum partiu da banda. A gente já havia tocado bastante por cerca de um ano. As canções do repertório já estavam bem malhadas e os meninos falaram: vamos gravar. Eu não tinha dinheiro para investir e nem selo de gravadora. Mas eles me convenceram, disseram que, por ser o primeiro trabalho, os músicos que já tinham um nome poderiam nos ajudar e as pessoas iriam abraçar a ideia. E assim foi.”
O álbum foi gravado no estúdio de Yuri Kalil, integrante da banda Cidadão Instigado. “Ele fez um preço camarada e consegui várias participações. Todo mundo colaborou na amizade. O álbum deu um bom retorno dentro do cenário. Foi capa do caderno Ilustrada (da Folha de SP) e abriu muitas portas para a minha carreira artística”, relembra a artista.
No ano de 2012, participou da websérie “Absurda – Lado A”. No elenco, famosos como Elke Maravilha, Eduardo Sterblitch e Ellen Jabour, entre outros. Como tema da websérie, Bárbara Eugênia gravou a música Acontece, do músico Macau. Em 2013 veio o segundo álbum, É o que temos. Com ele conseguiu alçar voos mais amplos, inclusive viajando para fora do Brasil. “É um trabalho muito importante, traz possivelmente meus dois principais hits, Coração e a minha regravação de Por que brigamos? (versão de I am, I said, de Neil Diamond, gravada primeiro no Brasil pela cantora Diana em 1972)”, diz.
Ela conta que a possibilidade de gravar Por que brigamos? apareceu durante sua participação num programa da TV Rede Globo que homenageava nomes célebres da cena da música romântica do país. As músicas que a emissora selecionou para a cantora carioca foram Porque brigamos?, Paixão de um homem (gravada por Waldick Soriano) e É impossível acreditar que perdi você (Márcio Greyck). “Acabei gravando todas em momentos diferentes”, diz.
Um dos homenageados pelo programa era o cantor Odair José, que participou da atração. “Ele veio falar comigo no final e disse que a interpretação havia ficado ótima e que eu tinha que gravar. Se o Odair, que é uma referência no gênero musical e foi casado com a Diana, me disse isso, obviamente eu pensei: ‘vou gravar’”. Ela conta que a gravação a levou “a um Brasil mais profundo. Meu som chegou a lugares que eu jamais conseguiria chegar. Sou muito grata por isso. Mesmo assim, apesar de eu ter um bom público no Norte e Nordeste devido à minha relação com a música romântica e brega brasileira, sou uma artista que tocou muito pouco nessas regiões. Mas, realmente esse álbum me proporcionou apresentações em muitos festivais e trouxe muitas coisas”, diz.
Em 2014, sua interpretação de Por que brigamos? recebeu o prêmio Multishow de Música Brasileira. No mesmo ano, sua canção Coração na trilha sonora da novela “Velho Chico”. Com Diana, também em 2014, gravou vídeos para o TV Folha. Além de entrevista ao canal, elas cantaram juntas as canções Por que brigamos? e Completamente Apaixonada.
Outro projeto desse mesmo ano foi o lançamento do disco Aurora. Esse trabalho paralelo, conduzido ao lado de Fernando Cappi, guitarrista da banda Hurtmold, rendeu um disco de nove canções em inglês inspiradas nos Beatles. A ideia para o projeto surgiu em 2012, enquanto Bárbara lia um livro sobre as histórias por trás das músicas do quarteto. A dupla se apresentou em 2014 e no início de 2016. Inicialmente, a proposta consistia em lançar uma versão física do registro, em vinil, mas a campanha de crowdfunding não coletou o montante necessário. Por isso, Aurora está disponível apenas para download gratuito e em plataformas de streaming.
Em 2015, durante a campanha de financiamento coletivo para o seu terceiro álbum, fez uma série de apresentações pela Europa. Em outubro do mesmo ano, no Sesc Belenzinho, em São Paulo, ela fez show de lançamento da turnê “Frou Frou”. Em um ato definido pela cantora como “performance de amor”, Bárbara fez uma intervenção nua, ao lado dos cantores Peri Pane e Tatá Aeroplano, em defesa da naturalização da nudez. O trio segurava uma faixa com o seguinte questionamento: “Você tem medo de quê?”. A performance foi bastante comentada em sites e portais de notícias.
Um ano depois, retornou à Europa para se apresentar por diferentes países juntamente com a cantora Andreia Dias e também no formato sol de voz e violão. Durante uma pausa nessa turnê, marcou presença na premiére do filme Lilith’s Awakening, da diretora Mônica Demes. Esse foi o primeiro trabalho de Bárbara como atriz num longa-metragem. Ela interpretou a vampira Katarina.
Seu sexto álbum solo, Foi tudo culpa do amor (Pérolas Populares Vol.1) foi lançado em 2023 e reflete sua imersão romântica. Neste álbum, Bárbara interpreta canções de românticos renomados como Wando, Erasmo e Roberto Carlos e Odair José e Diana, envolvendo os ouvintes com sua delicadeza. Com a produção de Zeca Baleiro, o trabalho é uma experiência nostálgica que celebra as diferentes nuances do amor, desde as mais leves e alegres até as mais intensas e complexas.
Com nove álbuns gravados, a música de Bárbara Eugênia mergulha nos reinos do amor, mas entrelaça rock, ritmos brasileiros, folk, música eletrônica e outras sonoridades experimentais criando uma obra única. Suas interpretações marcantes fizeram dela um personagem presente em festivais relevantes, programas de TV e de rádio, e renderam turnês pela Europa e pelos EUA.
“De forma geral, não sigo nenhum padrão. Gosto de discos conceituais de rock e de bossa-nova, entre outros estilos. Mas sempre busquei fazer algo que diferencie um trabalho do outro. Não sei se conseguiria fazer um disco em que todas as faixas fossem do mesmo ritmo”, diz. Mesmo assim, ela aponta coerência em sua produção, desde o primeiro álbum. “Tanto em relação às composições quanto às sonoridades, sempre busquei uma forma autêntica, inquieta e experimental. Sou uma pessoa de experimentações. Independentemente das fases que estou atravessando, se você reparar, em praticamente todos os meus discos a última faixa leva uma mensagem otimista e reflexiva. Acho que a minha obra é uma autodescoberta, uma jornada física, artística, espiritual, ou seja, o meu processo de cura. Minha discografia conta a minha história.”
Confira a entrevista completa no Podcast MPB Unesp.