Nascido em 2022, o grupo Luarada Brasileira já subiu ao palco mais de 60 vezes e aos poucos vem construindo sua base de fãs e de simpatizantes. Em fevereiro, veio o momento de colocar mais um tijolo na construção desse edifício, com o lançamento do primeiro registro nas plataformas de música digital, no formato de um EP. Seus integrantes, porém, nada tem de novatos no cenário musical.
O grupo é integrado por por Cicinho Silva (sanfona), Ivan Rodrigo (zabumba), Clebinho Santos (voz e triângulo) e Antonio Batista (guitarra), este recém-chegado ao que era originalmente um trio. O encontro entre eles se deu naturalmente, quanto se apresentavam em espaços culturais, casas de shows e eventos acompanhando outros artistas. “O grupo surgiu de uma vontade em comum, minha e do zabumbeiro, em fazer algo nosso. Tocamos juntos há nove anos e acompanhamos inúmeros artistas nesse período. Achamos que era a hora de fazer um som com a nossa cara”, diz Cicinho. Ele explica que, quando faz o trabalho de direção musical para outros artistas, procura focar a sonoridade que tem a ver com ele ou ela. “Nesse caso, é a nossa sonoridade. Fomos atrás de um cantor, achamos o Clebinho, e depois encontramos o Antônio”, diz ele.
O grupo foi batizado de Luarada Brasileira pelo poeta cordelista Cacá Lopes como uma homenagem ao rei do baião, Luiz Gonzaga, conhecido pelo apelido de Mestre Lua. O nome também é uma referência a um dos clássicos da música brasileira, a toada Luar do Sertão, de João Pernambuco e Catulo da Paixão Cearense, que o próprio Gonzagão regravou, em 1981.
“São dois anos de trabalho e estamos muito felizes com os resultados. Estamos tocando muito. Só para dar uma ideia, nossa agenda de shows já está fechada até o final de julho, incluindo unidades do Sesc, centros culturais e casas de shows”, diz Cicinho.
O apelo popular do grupo passa pela sua proposta musical. A base é o forró, mas este se apresenta influenciado por diferentes ritmos e gêneros musicais. O novo EP se destaca pelos arranjos e pela originalidade ao apresentar o forró e suas vertentes como ritmos universais, transitando do tradicional pé de serra ao contemporâneo.
A cultura do forró e sua fonte de origem, a música nordestina, está presente na trajetória de cada um dos componentes do grupo. Apesar de serem paulistas, todos apresentam raízes familiares nordestinas, fortalecidas pela vivência com forró pé de serra e com outros elementos daquela cultura. “De forma geral, o trabalho foi construído sob conceitos significativos, passando pelo som até a escolha do nome. Não foi fácil escolher, então solicitei ajuda ao Cacá Lopes”, diz. o cordelista perguntou qual era a essência do grupo, a fim de sugerir algo que ressoasse de forma significativa. “Dois dias depois ele me ligou e disse: O nome é Luarada Brasileira, e explicou o conceito”, diz o sanfoneiro.
Com vasta experiência musical e reconhecido como excelente acordeonista, Cicinho recebeu ainda na infância, do pai e da irmã, as influências que o levariam a optar pela estrada da arte. Posteriormente, buscou estudos musicais que perpassaram do popular ao erudito, adquirindo uma formação ampla e versátil. Continua tocando como músico acompanhante de grandes nomes da música brasileira, como Alaíde Costa, Anastácia do Forró e Toninho Ferragutti, e também colabora com orquestras e com outras formações.
“Eu transito entre músicos de vários estilos, incluindo bossa nova e choro. Também toco em casamentos. Posso dizer que, culturalmente, o forró está muito forte. Em especial no Sudeste, tem forró de segunda a segunda. Por exemplo, na cidade de São Paulo, de quinta a domingo você encontra mais de oito casas grandes e lotadas, além de CEUs e casas de cultura que abrem espaços para esse estilo musical. De janeiro pra cá, há lugares onde fui tocar cedo, umas 11hs da manhã. O forró acolhe as novas tendências musicais, e ao se reinventar fortalece a cultura popular que continua existindo e resistindo. O forró é nosso Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, reconhecido pelo IPHAN, em 2021”, diz.
“Três É Demais”
Intitulado Três é demais, o EP apresenta quatro faixas inéditas, compostas sob encomenda para o Luarada Brasileira. Como atração extra, traz numa delas a participação especial de Santanna, O Cantador, artista cearense radicado em Pernambuco, considerado uma lenda do forró nacional.
“O EP levou oito meses para ficar pronto devido ao desafio de combinar o conceito, a estética e os arranjos. Recebemos dezenas de canções boas, e foi difícil fazer o crivo. Após gravar as guias das quatro faixas, a gente se perguntou que tipo de sonoridade havíamos criado, e quem poderíamos chamar para participar. Quem gostaria de cantar esse tipo de som? Pensamos em Santanna, O Cantador. Liguei para ele, fiz o convite. Ele me pediu para enviar as faixas e disse que gravaria aquela que tocasse seu coração. Realmente, ficou lindo. Uma honra ter a participação dele em nosso trabalho”, diz Cicinho.
Confira abaixo a entrevista completa com Cicinho Silva no Podcast MPB Unesp.