Ao contrário dos demais objetivos da Agenda 2030 das Nações Unidas, pautados por uma atividade-fim, o foco do 17º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável está em uma atividade-meio, mais especificamente em “fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável”. É este ODS 17 que deu a base para o lançamento no último dia 6, na capital paulista, da rede Unesp Cidades, uma iniciativa para potencializar parcerias e aumentar o alcance das ações da Universidade.
Participaram do encontro de lançamento da rede o reitor da Unesp, Pasqual Barretti, o pró-reitor de extensão universitária e cultura da Universidade, Raul Borges Guimarães, a coordenadora da Rede Temática de Extensão Unesp Agenda 2030, Raquel Cabral, e representantes da maioria dos 24 municípios que abrigam os campus universitários unespianos. De acordo com dados do Censo 2022 do IBGE, a soma das populações do conjunto das cidades que abrigam a Unesp monta a 16,5 milhões de pessoas, das quais 5 milhões residem em municípios do interior ou do litoral, e quase todos, a exceção de Ilha Solteira e São Vicente, registraram crescimento populacional no intervalo entre 2010 e 2022.
“A conexão com as cidades está na origem da Unesp. O crescimento da Unesp contribuiu muito para o crescimento dos municípios, mas também os municípios contribuíram muito para o crescimento da Unesp. Na gênese dessa relação com as cidades, está praticamente escrita a história da Unesp”, afirma o reitor da Unesp, Pasqual Barretti.
Durante o encontro que marcou o lançamento da rede, Barretti citou a contribuição trazida pela presença física da Universidade para o dinamismo econômico dos municípios paulistas, o que já foi atestado em estudo publicado em 2013. Esta pesquisa está em fase de reedição, com dados captados nesta década. “Hoje a Unesp exerce um impacto extraordinário na economia e na qualidade de vida dos municípios e isso fica formalizado com a criação dessa rede. Há uma parceria forte (com as cidades) que tende a se reforçar”, diz o reitor.
O lançamento da rede foi marcado também por falas de prefeitos e autoridades de municípios que trabalham com a Agenda 2030 das Nações Unidas e têm na universidade um referencial para o dia a dia da gestão. “Ninguém consegue desenvolver essa agenda sozinho. Ela precisa de parcerias, de redes, de troca de experiências. A ideia da rede é que consigamos potencializar experiências bem-sucedidas e disseminá-las, apoiando o aprimoramento de políticas públicas e aplicando o conhecimento científico na solução de problemas”, afirma o pró-reitor de extensão universitária e cultura da Unesp, Raul Borges Guimarães.
O evento contou com a participação de representantes de consórcios de municípios, que também foram signatários da carta de lançamento da rede Unesp Cidades. A lógica desses consórcios de entes federativos é formar um bloco com mais força representativa para defender pleitos específicos e/ou promover o desenvolvimento de determinada região.
“Para nós, dos consórcios, esse acesso é fundamenta, porque as melhores cabeças estão dentro da universidade e os municípios são carentes disso. A universidade pode fazer esse elo. Para a universidade é importante também, porque um projeto de política pública só vai ser estruturado como tal se sair das cátedras e chegar às cidades. Então é muito importante construir este elo de ligação”, diz Victor Borges, presidente executivo da Rede Nacional de Consórcios Públicos.
Coordenadora da recém-lançada rede Unesp Cidades, a docente Raquel Cabral leu no encontro do último dia 6, realizado no auditório da Escola Paulista de Magistratura, na capital paulista, a declaração de criação da rede Unesp Cidades. Nela, os signatários assumem cinco compromissos com o avanço dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável em seus territórios. Tais compromissos incluem o apoio à implementação da agenda no estado de São Paulo e o compartilhamento de experiências para colaborar tanto na formação de recursos humanos quanto em metodologias para o avanço da Agenda 2030.
“Este momento que construímos aqui, hoje, é simbólico e vai ao encontro do próprio propósito da universidade pública. Vejo a agenda como uma grande oportunidade de conectar pessoas, criar redes, otimizar esforços para que de fato consigamos fazer uma gestão inteligente dos problemas que as cidades têm e trabalhar nas soluções que a universidade consegue levar a elas. Essa é a potência da Agenda 2030 e é por isso que existe um ODS específico só para pensar as parcerias, as articulações em rede, que é o 17”, diz Raquel Cabral. Confira abaixo um resumo da entrevista realizada pelo Jornal da Unesp com a coordenadora da rede Unesp Cidades.
Jornal da Unesp: Qual é o principal objetivo da rede Unesp Cidades construída sob as bases da Agenda 2030 das Nações Unidas?
Raquel Cabral: A criação da rede temática de extensão Unesp 2030 tem esse objetivo de pensar a inserção dos ODS na nossa realidade como universidade e também pensando as ações da Unesp nos territórios onde a universidade atua. Estamos presentes em 24 cidades no estado de São Paulo atuando fortemente na transformação da economia, da sociedade, colaborando com ações visando a preservação do meio ambiente, dos ecossistemas desses territórios. Entendemos que esta é uma oportunidade importantíssima de a Unesp buscar parcerias interinstitucionais. Então nosso objetivo é esse: fortalecer essa rede de ações voltadas para a implementação e avanço da Agenda 2030 no nosso território.
Jornal da Unesp: A atuação da rede pode ir além das 24 cidades. Como será o funcionamento dela?
Raquel Cabral: Estamos estendendo a outros municípios porque a alguns municípios nos procuraram para fazer parte. As cidades que queiram fazer parte da nossa rede poderão fazê-lo por meio de solicitação à nossa Reitoria. A Unesp Cidades vai fortalecer uma rede de cidades parceiras da Unesp que, juntas, pensarão em ações para avançar com a Agenda 2030 a partir de parcerias interinstitucionais com instituições públicas, privadas, do terceiro setor. Entendemos que essas parcerias podem dar oportunidade para que ações da Unesp possam ser multiplicadas em outros territórios. Hoje temos projetos de extensão que são referência e podem ser replicados em outras cidades, ampliando o raio de ação da Unesp.
Jornal da Unesp: Como vê essa interface com as cidades extrapolando os muros dos câmpus?
Raquel Cabral: Este momento que construímos aqui hoje é simbólico e vai ao encontro do próprio propósito da universidade pública. Vejo a agenda como uma grande oportunidade de conectar pessoas, criar rede, otimizar esforços para que de fato consigamos fazer uma gestão inteligente dos problemas que as cidades têm e trabalhar nas soluções que a universidade consegue levar e elas. Essa é potência da Agenda 2030 e é por isso que existe um ODS específico só para pensar as parcerias, as articulações em rede, que é o 17.
Portal da Unesp: No lançamento da rede Unesp Cidades, alguns representantes de prefeituras falaram que faltava uma liderança que tomasse à frente da Agenda 2030. Esse é o papel que a universidade vai assumir?
Raquel Cabral: Acredito que sim, inclusive o propósito da nossa rede temática Unesp 2030 era justamente ser uma gestora, uma articuladora de parcerias, conectando pessoas. A Unesp é uma universidade muito espalhada, com expertise em diversas áreas do conhecimento, e muitas vezes realiza ações isoladas no território. Se pensadas de forma articulada, poderiam chegar a outros pontos do estado e contribuir para uma transformação mais profunda do território paulista. É nisso que acreditamos, nessa capacidade da rede de articular essas parcerias.
SELO ODS EDUCAÇÃO 2023 DESTACA PROJETOS DA UNESP E OUTRAS 38 INSTITUIÇÕES
Um dos principais desafios atuais das universidades que seguem à risca o tripé indissociável de ensino, pesquisa e extensão universitária é aferir o impacto social de seus programas e projetos e assim evidenciar o alcance extramuros de suas iniciativas. É nesse ponto que a recente integração das atividades extensionistas aos currículos dos cursos de graduação e a pauta comum dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas convergem para dar liga entre o trabalho acadêmico e a vida das pessoas.
No último 5 de março, a Unesp e outras 38 instituições de ensino brasileiras foram reconhecidas com o Selo ODS Educação 2023 em razão de projetos que contribuíram com o cumprimento de metas estabelecidas na agenda de sustentabilidade global. Em sua segunda edição, a certificação é promovida pelo Instituto Selo Social, uma entidade do terceiro setor, e fornecida anualmente a instituições que demonstrem ações estruturadas de impacto no ODS 4, que visa a educação de qualidade. Para ser reconhecido, em resumo, o projeto submetido precisa mostrar seus resultados extramuros e indicar que a instituição trabalha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável também com a comunidade interna.
A Unesp recebeu a certificação após submeter sete projetos, com impactos sociais em cinco ODS: 4 (educação de qualidade), 5 (igualdade de gênero), 11 (cidades e comunidades sustentáveis), 16 (paz, justiça e instituições eficazes) e 17 (parcerias e meios de implementação). A Universidade também colaborou com o trabalho de curadoria dos projetos submetidos e foi a anfitriã da cerimônia de entrega do Selo ODS Educação 2023, realizada no auditório da Escola Paulista de Magistratura, na capital paulista.
Para o reitor da Unesp, Pasqual Barretti, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável entraram “definitivamente” para as agendas das universidades e ainda há tempo para se cumprir as metas estabelecidas para o ano de 2030. “Com a curricularização da extensão, vamos estar cada vez mais próximos da sociedade para realizar ações concretas”, discursou durante o evento. “É uma honra para a Unesp sediar um evento deste porte. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estão aí e o objetivo maior é construir um mundo melhor para se viver, com menos desigualdade e menos injustiça”, diz.
A Unesp possui atualmente 154 projetos e 14 redes temáticas de extensão universitária. Uma dessas redes é exclusivamente voltada para a Agenda 2030 da ONU, o que vai ao encontro do que vem sendo feito por instituições de ensino superior Brasil afora. Segundo a professora Raquel Cabral, coordenadora da rede temática relacionada à agenda global, a inserção dos ODS na realidade universitária está ajudando a pensar as ações da Unesp nos territórios em que a universidade atua. Entre as universidades estaduais paulistas, a estrutura multicâmpus da Unesp é singular, presente em 24 cidades do estado de São Paulo.
“Esta é uma oportunidade importantíssima de a Unesp buscar parcerias interinstitucionais, inclusive com outras universidades, institutos. Hoje (dia 5) estamos nessa parceria com o Instituto Selo Social, que está fazendo a gestão do Selo ODS Educação, e amanhã (dia 6) teremos um evento reunindo prefeitos das cidades paulistas. Então, nosso objetivo é esse: fortalecer essa rede de ações voltadas para a implementação e avanço da Agenda 2030 no nosso território”, afirma Raquel Cabral, docente na Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design (Faac) do câmpus de Bauru da Unesp.
Presente tanto na cerimônia de entrega do Selo ODS Educação quanto no lançamento da rede Unesp Cidades, eventos que ocorreram em dias seguidos na capital paulista, o secretário-executivo da Comissão Nacional Para Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (CNODS), Sérgio Godoy, destacou a importância da consolidação da Agenda 2030 para o fortalecimento de pautas educacionais, base para o desenvolvimento do país.
“Não dá para criar um novo modelo de desenvolvimento nacional e sustentável que lide com a questão do futuro se a nossa democracia não estiver organizada e fortalecida e a educação é central para isso” afirmou Sérgio Godoy. “Precisamos ter a capacidade de produzir consensos na nossa sociedade e a universidade tem papel central na reconstrução desses pactos”, disse o líder da CNODS, comissão ligada à Secretaria Geral da Presidência da República.
O trabalho interinstitucional em torno dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, que no embrião desta iniciativas chamavam-se “objetivos do milênio”, foi salientado pelo pró-reitor de extensão universitária e cultura da Unesp, professor Raul Borges Guimarães, que exemplificou citando as discussões coordenadas sobre o tema realizadas com USP e Unicamp. Segundo ele, além de ajudar na aferição do impacto social da universidade, iniciativas como a certificação pelo Selo ODS Educação podem repercutir positivamente inclusive nos rankings acadêmicos internacionais.
“O grande tema hoje é como nós vamos medir o impacto. As atividades de ensino, pesquisa e extensão estão mapeadas pelos ODS. Agora a grande questão é o resultado: se a gente de fato impactou a realidade a partir daqueles ODS”, afirma o pró-reitor de extensão e cultura.
Imagem acima: Integrantes da rede Unesp Cidades.