Luiz Thunderbird: música, comunicação e irreverência

Ele surgiu na cena artística como músico de Rock, tornou-se um dos mais célebres VJs da MTV Brasil, e soube se reinventar para permanecer relevante na era da comunicação digital. E continua vivendo sua paixão pela música no volume máximo.

Talvez poucas pessoas reconheçam pelo nome o músico, comunicador e DJ Luiz Fernando Duarte. Porém, muitas das pessoas que foram jovens nos anos 1990 e 2000 conhecem bem o apelido com que construiu sua carreira de sucesso: Thunderbird.

Thunderbird nasceu em 8 de abril de 1961 na cidade de São Paulo, em uma família com DNA musical, e desde criança se interessava pela magia dos ritmos e das notas.  “Meu pai era músico. Contrabaixista acústico, trabalhava em algumas bandas, mas uma coisa meio amadora”, diz. “Ele até tentou a carreira profissional, mas acho que a família acabou pedindo a ele que abandonasse a música.” Mas ficaram lembranças de momentos expressivos, como uma apresentação em que o pai de Thunderbird abriu um show de Elis Regina. “É muito sedutor para uma criança ir a um ensaio do seu pai, ver aqueles instrumentos… Eu ficava maravilhado.”

O pai percebeu o interesse do menino e o colocou para estudar violão aos seis anos de idade. Depois passou para o piano e chegou a estudar em conservatório. “Eu adorava tocar, sempre tive essa fascinação. Mas sempre esbarrava na questão da teoria, das notas etc. Meus irmãos também tocaram, mas eu fui o único que entrou nessa história de ser artista”, diz.

Apesar do grande interesse por arte, Thunder ingressou aos 17 anos na faculdade de odontologia. Se formou, montou seu próprio consultório e atuou por cinco anos na área. “Mas as coisas não estavam muito felizes. Era uma vida muito careta, chatíssima, estava noivo. Decidi fazer uma viagem para o Nordeste pedindo carona, inspirado nos autores beatniks. Foi meio insano, mas quando voltei segui tentando algumas coisas. Sempre com um violão na mão e pensando em música”, diz.

Em 1985, formou sua primeira banda, Aerosow, que durou meteóricos seis meses, e ainda encontrou tempo para montar uma segunda, intitulada Neocínicos no mesmo ano. No dia da sexta-feira santa de 1986 formou os Devotos de Nossa Senhora Aparecida, grupo que seria um divisor de águas em sua trajetória. “Mas foi uma fase difícil. Primeiro, para avisar a família que estava deixando minha profissão para entrar no universo da cultura. Investíamos pesado: a gente praticamente pagava para tocar nos lugares. Não havia muito espaço para um rock alternativo. Os espaços não pagavam cachê, ou pagavam um valor irrisório, difícil para sobreviver”, diz.

A saída foi estudar redação publicitária e trabalhar com o pai, que havia aberto uma agência. Enquanto isso, as coisas começaram a acontecer. A banda ganhava destaque em programas de televisão, e era apontada como revelação no segmento de música alternativa. Em 1989 veio o tão sonhado convite para gravar um LP. No entanto, o Plano Collor, no ano seguinte, fez todas as gravadoras reverem seus planejamentos, e a banda não teve escolha a não ser esperar a crise passar. Foi nesse período que recebeu o apelido que se tornaria o seu nome artístico. “Até então, eu era Luizão. Pensei: Luiz Fernando Duarte é um bom nome para atuar no consultório, mas não tem nada ver para o universo artístico. Busquei alguns elementos e me deparei com o automóvel Thunderbird, que tinha estilo e estava logado ao som rockabilly que fazíamos. Apostei e deu certo”, lembra.

A descoberta pela MTV

Assistindo algumas apresentações do Devotos estavam dois produtores de tv,  Rogério Gallo e Titi, que aparentavam gostar bastante da música. Mas seu interesse era outro. “Eles entraram em contato, disseram que gostaram do som e marcaram uma reunião. Ficamos empolgados, mas não rolou nada com a banda. Um dia, me chamaram em particular, me pediram para entrar em uma sala e falar sobre os Devotos em frente a uma câmera. De repente me disseram: ‘Parabéns! Você está contratado. Vai ser VJ na MTV Brasil’. Eu disse ‘como assim?’ Nem sabia o que era. Na verdade, a presença deles em nossos shows era uma espécie de avaliação. Eu já estava contratado pela MTV e não sabia. Inicialmente me neguei, depois assinei o contrato, e assim começou minha relação com a MTV.”

Em 1990, a MTV Brasil começou a funcionar. Thunderbird – ou Thunder, a forma reduzida pela qual se tornou também conhecido dos fãs do canal – apresentava o programa Lado B e logo conquistou o público com suas tiradas divertidas e irreverentes e o seu conhecimento do universo musical. “Foi o melhor trabalho que consegui na vida. Era incrível. Só falava de música, que é a coisa que eu mais amo, e ainda ganhava um dinheiro. Era uma loucura, uma festa todos os dias.  Tive contato com pessoas maravilhosas, desde o figurino até a produção. Porém, nunca deixei de ser eu mesmo, não seguia roteiro. Ao contrário, tinha bastante liberdade para me expressar e criei meu estilo, com bordões como ‘se é que você me entende’. Houve até um personagem inspirado em mim: o “Thunderdog”, da TV Colosso, programa que era transmitido pela Rede Globo”, diz.

Em 1994, com a popularidade altíssima, Thunderbird se transferiu para a Rede Globo, onde participou de diversas atrações e ficou até 1995. “Vários motivos culminaram na minha ida para a Globo”, relata. “Confesso que quando cheguei, tomei um susto. Era uma estrutura faraônica, outra atmosfera. Existia uma questão hierárquica a ser respeitada que não havia na MTV. Foi um período muito louco, eu vivia intensamente com a banda, gravava muito na tv. Trabalhava bastante, mas me drogava bastante também”, diz.

Em 1996, ele retornou a MTV, ficou um ano, saiu para a TV Manchete, voltou à MTV, saiu de novo… Foram muitas idas e vindas. Mas em 2013 ele estava lá, firme, apresentando o Saideira, transmitido ao vivo durante seis horas e que marcou o fim das atividades da emissora na tv aberta do país.


Na música, a paixão segue viva

Teve início então sua trajetória no mundo digital. Entre 2014 e 2020 apresentou o podcast Thunder Radio Show na Central 3. A partir de fevereiro de 2021, passou a colaborar com o podcast Thunderamas, ao lado dos integrantes da banda Autoramas. Desde 2017, comanda o canal Music Thunder Vision no YouTube, onde aborda as mais variadas facetas do universo musical. Como músico, gravou vários álbuns com os Devotos, participou de outras bandas e estabeleceu parcerias, tanto com nomes famosos como com feras da cena alternativa. Já em 2022, lançou seu primeiro disco solo, “Pequena Minoria de Vândalos”.

“Tive a honra de criar excelentes parcerias e amizades. Posso citar, dentre muitos outros, nomes como Mario Manga, Lucinha Turnbull, Júpiter Maçã, que se tornaram grandes parceiros e até mentores. Sou um cara que, aos seis anos de idade, descobri que poderia tocar um instrumento e despertei para um amor pela música. Já tive um milhão de bandas. Mas também me apaixonei pela comunicação em rádio, tv e internet, e continuo com meus programas no Youtube, meu Podcast…Enfim, essa é a vida que eu fiz”, diz.


Em 2019, com apoio dos jornalistas Mauro Beting e Leandro Iamin, escreveu sua autobiografia, “Contos de Thunder”. Na obra, abordou abertamente sua luta para se livrar da dependência de drogas.  Nessa jornada, encontrou uma nova paixão: o ciclismo. “Hoje, tento prosseguir fazendo música e falando sobre música, de cara limpa, andando de bike e sempre buscando diversão nessa minha estrada.”

Confira a entrevista completa no Podcast MPB Unesp.