Unesp integrará comitiva de universidades estaduais paulistas que irá à Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em Dubai

Além da esfera diplomática, cúpula também recebe representantes de instituições acadêmicas, empresas, ONGs e governos subnacionais, interessados em apresentar ações e firmar parcerias de combate às mudanças climáticas. Para especialista em relações internacionais, escolha de país do Oriente Médio para sediar o evento, que foi fortemente criticada por ambientalistas, só evidencia o poder da geopolítica do petróleo sobre a pauta da ONU.

A Unesp fará parte de uma comitiva de universidades estaduais paulistas, juntamente com a Usp e a Unicamp, que participará da próxima edição da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP28. O encontro ocorrerá entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro, na cidade de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e terá como pano de fundo um clima de urgência sem precedentes nas COPs anteriores. No início de novembro, pesquisadores do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, da União Europeia, alertaram que a combinação entre as emissões de gases do efeito estufa com o fenômeno El Niño tornará o ano de 2023 o mais quente dos últimos 125 mil anos.

O evento reunirá chefes de estado e diplomatas de todo o mundo para rodadas de negociação que viabilizem ações de implementação do Acordo de Paris e de combate ao aquecimento global. Fora da esfera diplomática, a COP28 também é um espaço em que representantes de governos subnacionais, empresas, organizações não-governamentais e instituições acadêmicas podem manifestar seus compromissos, estabelecer acordos e dialogar em prol do combate às mudanças climáticas. É com este horizonte que a comitiva com representantes das universidades públicas estaduais se dirigirá a Dubai, para prospectar parcerias.

Uma das representantes da Unesp na comitiva será a docente Juliana Cortez Barbosa, assessora da Pró-Reitoria de Extensão Universitária e Cultura. Ela explica que a Cúpula reúne um contingente expressivo de representantes políticos e de empresas abertos ao diálogo sobre parcerias em temas relacionados à questão ambiental. “Nas últimas semanas, temos feito o levantamento de alguns dos melhores projetos de pesquisa e extensão conduzidos no âmbito da Unesp e que dialoguem com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável para apresentarmos no evento”, diz.

“Na COP, é possível estabelecer contato com diversos ministros, governadores e deputados. Pretendemos falar com o maior número possível de representantes e aproveitar este momento que o governo está novamente aberto à Universidade”, diz a professora do câmpus de Itapeva. Ela destaca os projetos relacionados às áreas de florestas, agropecuária, energia renovável e maquinário como dotados de maior potencial para ensejar colaborações. A comitiva contará também com a participação da professora Dulce Helena Siqueira, assessora da Pró-Reitoria de Pós-Graduação.

Escolha de Dubai gerou críticas acerbas

A escolha de Dubai para sediar esta edição da COP gerou debates aquecidos e críticas acerbas por parte de ambientalistas e ONGs. Os críticos reprovam a contradição de sediar o principal evento para discussão do combate às mudanças climáticas em uma nação que está entre as maiores produtoras de petróleo do mundo. Pior, a COP28 ocorrerá sob a presidência de Sultan al-Jaber, que é o CEO da maior empresa petrolífera do país. Por outro lado, os países produtores de petróleo argumentam que também têm o direito de se sentar à mesa para discutir o futuro climático do planeta. Não à toa, pela primeira vez nos 28 anos de evento, a Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) terá um pavilhão na Cúpula.

A COP28 também deverá ser marcada pela divulgação da primeira edição do Global Stocktake. O relatório é um mecanismo estabelecido no Acordo de Paris para avaliar, a cada cinco anos, o andamento dos compromissos firmados por cada país na capital francesa, e sua elaboração dura dois anos. “Esse relatório vai ser uma espécie de balanço global do que foi feito até agora e apresentará dados para sabermos de fato o quanto avançamos nas metas acordadas por cada nação”, explica a professora Fernanda Mello Sant’Anna, do curso de Relações Internacionais da Unesp, no câmpus de Franca. “O propósito do documento é trazer à mesa transparência sobre qual país realizou o que, em termos de ações prometidas no Acordo de Paris”, explica.

Com esta avaliação como pano de fundo, os negociadores presentes à COP28 deverão encaminhar algumas discussões delicadas, que têm se arrastado há anos nos encontros. Uma dessas discussões diz respeito à criação de um fundo de perdas e danos estabelecido dois anos atrás na Cúpula de Glasgow, na Escócia. A proposta prevê que países ricos (que são os maiores poluidores) financiem ações de adaptação e mitigação em países em desenvolvimento. “Este compromisso foi estabelecido em 2009, quando se falava de um valor de US$ 100 bilhões depositados por ano, mas até hoje não conseguiram chegar a um acordo para o cumprimento”, afirma Fernanda.

A professora explica que os países pobres e em desenvolvimento, embora não sejam os maiores poluidores, são os mais afetados pelas consequências das mudanças do clima. Essa constatação originou a proposta de transferência de recursos dos países ricos por meio do fundo global. “Existe uma tentativa de barganha, principalmente por parte de países do Sul Global e emergentes, como o Brasil, que tentam avançar no combate ao desmatamento e na adoção de energias renováveis, mas que precisam do compromisso das nações mais ricas com esse financiamento”, diz.

Outra questão que vem se arrastando desde outros encontros, e estará novamente à mesa na COP28, é a discussão sobre o comprometimento dos países em apresentar um plano mais ambicioso e claro em relação à redução do uso dos combustíveis fósseis. Na opinião de Fernanda, tendo em vista que esta edição está sendo organizada por um país cuja economia é altamente dependente do petróleo, as expectativas de que os países se comprometam de forma mais incisiva nesta questão são baixas.

“Realizar uma COP nos Emirados Árabes, e sob a presidência de um sultão empresário da área de combustíveis fósseis, é algo sintomático de como a geopolítica do petróleo continua muito forte e determinante nos rumos institucionais da ONU”, avalia Fernanda. “É claro que há um discurso para se democratizar a política internacional e não excluir nações. Mas, também é verdade que esses países travam o avanço dos compromissos. Essas nações dependem fortemente dos combustíveis fósseis e fazem o lobby dentro das negociações para frear ambições maiores e para tornar a transição para a energia mais limpa cada vez mais gradual”, lamenta.

Imagem acima: Deposit Photos.