No dia 06 de outubro, a Seção de Biotério da Administração Geral do Campus de Botucatu (AG-Botucatu) e o Centro de Pesquisa e Produção de Animais (CPPA) do Instituto de Biotecnologia (IBTEC) receberam 120 animais matrizes para iniciar a produção local de ratos livres de patógenos (SPF). Desde sua origem, o IBTEC já contava com produção local de camundongos. A nova empreitada, entretanto, é um passo importante para aumentar a qualidade e a independência das pesquisas e aulas realizadas na universidade.
O investimento de US$ 22.154 (um pouco mais de R$ 100 mil) garantiu à instituição a aquisição e o transporte de três linhagens distintas de animais: Wistar, Sprague Dawley e ratos espontaneamente hipertensos (SHR), estes últimos usados rotineiramente em pesquisas relacionadas à hipertensão. Paulo Eduardo Martins Ribolla, coordenador do IBTEC, diz que um dos pontos mais importantes da nova etapa do biotério é o início de produção de ratos de padrão sanitário SPF (Specific Pathogen Free), ou seja, animais livres de patógenos, ou germes. “Esse modo de reprodução permite uma melhor reprodutibilidade dos experimentos, que é uma característica muito importante em uma pesquisa científica. Os docentes que utilizarem esses animais terão a certeza de que irão obter resultados que podem ser repetitivos e reprodutivos. Isso torna a pesquisa mais robusta, e viabiliza a publicação em revistas de alto impacto”, diz o biólogo.
Uma das linhagens adquiridas é o Wistar, um animal albino de cabeça larga, orelhas longas e comprimento de cauda menor que o comprimento do corpo, que é sinônimo de rato de laboratório no imaginário popular. A raça foi desenvolvida em 1906 no instituto de mesmo nome, com o objetivo de substituir nas pesquisas biológicas e médicas o rato doméstico, até então o animal mais comumente empregado. O Wistar segue com bastante prestígio junto aos pesquisadores, e serviu inclusive para o desenvolvimento de outras linhagens populares, como a Sprague Dawley, de caráter mais dócil e muito empregada em pesquisas nutricionais, e os ratos espontaneamente hipertensos, ambas espécies também adquiridas pela Unesp. Ribolla comenta que a seleção das linhagens foi definida a partir de um levantamento que procurou identificar as espécies mais desejadas entre as diversas unidades da universidade.
Cuidados começam na seleção do pessoal
Foram necessários investimentos para adequar as instalações do biotério (nome do local onde os animais são conservados) para assegurar que a produção siga o padrão de qualidade SPF. O cuidado com a saúde dos animais tem início ainda na seleção e preparação das pessoas encarregadas de manuseá-los. Nenhuma delas pode ser fumante, por exemplo, porque o cheiro do cigarro é um estressor para os roedores. Antes de entrar no ambiente, a equipe precisa banhar-se e vestir roupas e equipamentos adequados, a fim de não transportar germes externos para o meio esterilizado. Uma vez lá dentro, são adotados protocolos de manuseio – como a proibição de manusear camundongos e ratos em sequência – para evitar que os animais fiquem estressados.
Além do treinamento da equipe, foi preciso cuidar também da instalação de maquinários específicos e de sua manutenção. “Acredito que um dos equipamentos mais importantes é o chiller, responsável por manter as salas em uma temperatura constante e adequada”, conta Ribolla. Os animais também são bastante sensíveis a mudanças de temperatura. Isso eleva o risco de problemas da produção e de falhas do sistema imune dos ratos, o que pode impedir que estejam em condições ideais para serem usados em experimentos. A repaginação do biotério envolveu a aquisição de isoladores, caixas onde os ratos permanecem isolados, que permitem o controle do ambiente e facilitam a criação. “Esses equipamentos, porém, são caros. Um plano futuro é conseguir o dinheiro para comprar mais isoladores e manter integralmente a produção nesse maquinário”, diz o biólogo.
A etapa final do processo envolve o controle de qualidade da produção e das linhagens. Isso passa pela execução de testes rotineiros que identifiquem a presença de patógenos como vírus, bactérias e protozoários, a fim de certificar a inexistência de germes. Também são feitos testes genéticos visando a confirmação das linhagens e para excluir a ocorrência de misturas indesejadas. Atualmente o material dos testes é coletado no biotério e encaminhado para análise em clínicas externas. Faz parte do planejamento que esse procedimento venha futuramente a ser conduzido na instituição Unesp, de maneira a aumentar a frequência das testagens e permitir um acompanhamento mais rígido da qualidade dos animais.
Futuro pode incluir venda de animais
Dada a recente chegada dos animais jovens, ainda é preciso conduzir um período de adaptação, de quarentena e de espera até que eles alcancem a fase adulta. Então, o biotério realizará a produção da primeira geração de filhotes de ratos, de maneira a aumentar o número de animais matrizes, para que só a partir daí tenha início a produção para comercialização. “A ideia é que, entre fevereiro e março, já se possa disponibilizar os animais para a comunidade interna da universidade e também para a externa”, diz o professor. “Pretendemos que a produção chegue a até 2.000 animais por mês, sendo 300 camundongos e 1.700 ratos.”
Para estimar o patamar de produção de animais que será necessário para atender à comunidade unespiana, a cada semestre são encaminhados formulários aos diferentes centros e laboratórios da universidade, a fim de que estes indiquem suas demandas. Estes têm a possibilidade de realizar a compra dos animais a preços reduzidos, graças ao subsídio da universidade.
Já no caso de centros de pesquisa e laboratórios externos à Unesp, os interessados devem entrar em contato com o IBTEC para debater o procedimento de compra. Com a ampliação do biotério e o início da produção de animais SPF, a expectativa é que futuramente o centro consiga independência financeira de maneira a ser autossustentável e possa investir em melhorias sem depender do financiamento direto da Unesp. “O fato de ser um biotério de criação de animais SPF aumenta muito o custo, porque ele requer um maquinário muito maior, e isso implica despesas de manutenção. Então hoje ainda precisamos de muito auxílio financeiro da universidade”, diz Ribolla. A avaliação do coordenador do instituto é que as melhorias atuais irão permitir que se alcance um novo mercado de consumidores interessados em adquirir animais de laboratório de alta qualidade.
Imagem acima: Ratos matrizes durante o processo de acondicionamento no biotério. Os animais farão parte de uma nova fase da instalação, que prevê a produção de até 2000 roedores por mês para comercialização para grupos de pesquisa de dentro e fora da Unesp. Crédito: Divulgação.