Entre os dias 20 e 22/9, o reitor da Unesp, Pasqual Barretti, esteve em Roma como integrante de uma delegação de reitores de universidades brasileiras enviada à Itália com o propósito de ensejar aproximações com instituições superiores italianas e participar de um encontro de lideranças do ensino superior com o Papa Francisco. O evento, denominado “Organizando a Esperança”, reuniu 216 dirigentes de universidades latino-americanas e caribenhas e foi promovido pela Rede de Universidades para o Cuidado da Casa Comum (RUC), da Argentina, e pela Pontifícia Comissão para a América Latina.
A delegação brasileira, que contou com reitores de 41 universidades, foi organizada pelo Grupo de Cooperação Internacional de Universidades Brasileiras (GCUB). O GCUB é uma associação que reúne 88 instituições brasileiras de ensino superior, com foco na promoção de relações e intercâmbios acadêmicos, científicos e culturais. A participação do reitor Pasqual Barretti marcou o retorno da colaboração da Unesp com as iniciativas do GCUB.
No primeiro dia do evento, 20/09, os reitores se reuniram no Instituto Patristico Augustinianum, em Roma. Lá, foram organizados quatro grupos de trabalho, cada um com a missão de desenvolver reflexões e propostas a partir de quatro grandes categorias de problemas globais, a fim de compartilhá-las posteriormente com o Papa Francisco. Os quatro eixos principais de análise foram denominados crise ambiental, crise econômica, crise cultural e crise social. O reitor Barretti integrou o grupo que debateu a temática da crise cultural, no qual foram abordados também temas mais ligados à vida econômica, como o desemprego. A partir do debate entre os reitores foi elaborado um documento com reflexões específicas sobre o tema da Inteligência Artificial, seus desafios e potencialidades. O documento foi assinado por todos os participantes, e entregue posteriormente ao pontífice.
No dia seguinte, 21/09, em encontro no Vaticano com o Papa Francisco, os reitores puderam apresentar as reflexões elaboradas pelos diferentes grupos, e também inspirar-se nelas para propor perguntas específicas. Em suas respostas, o Papa destacou o papel das universidades na formação da consciência das novas gerações, e exortou as lideranças acadêmicas a buscarem novos caminhos na preparação dos jovens para lidar com os desafios do mundo atual. Além da formação técnica, ele enfatizou aos reitores a importância de proporcionar uma educação que promova a “educação para valores humanísticos e diálogo fraterno”, e exortou os dirigentes a guiarem suas instituições no sentido de torná-las “criativas diante da realidade e dos desafios, educadoras e não apenas distribuidoras de informações”.
O Papa Francisco também chamou a atenção para as repercussões mais amplas do processo de devastação ambiental que hoje varre o planeta. “Há um processo de degradação ambiental, podemos dizer, em geral. Mas isso leva para baixo, para o fundo do barranco. Degradação das condições de vida, degradação dos valores que justificam essas condições de vida, porque elas andam juntas”, disse. E criticou a situação de exploração em que vivem ainda vastos setores da população mundial. “Quando esse modelo extrativista avança e entra nas pessoas, eu extraio a dignidade das pessoas. A dignidade da pessoa é extraída, são escravos, dito com outra palavra. E, por favor, coloquem isso na cabeça das crianças, educação aos valores, para que elas saibam avaliar essas situações e possam dizer claramente que isso se chama escravidão”, disse.
O reitor Pasqual Barretti diz que a pauta abordada durante o encontro “Organizando a esperança” vem ao encontro de debates que já estão sendo travados pelas lideranças da comunidade acadêmica brasileira, envolvendo aspectos econômicos, sociais e ambientais. “Na academia, há a perspectiva de que a universidade pode vir a contribuir mais para a resolução desses problemas no Brasil. Em especial, neste momento, em que há um espaço para maior autonomia, e em que muitas instituições têm à frente lideranças progressistas”, diz.
“Observamos, por exemplo, que o desenvolvimento econômico recente não resultou, na mesma medida, em desenvolvimento social. Isso vale para o Brasil, mas também para o mundo”, diz, e cita as estatísticas que mostram que apenas 1% da população mundial controlaa hoje quase 50% da renda do planeta. “E essa concentração só tem aumentado.” No campo ambiental, enquanto o Brasil tem falhado em conseguir implementar novas práticas de forma a cumprir com seus compromissos na área ambiental, parece cada vez mais remota a possibilidade de que o planeta como um todo alcance a meta global de cumprir os ODS propostos pela ONU até 2030. “Todos esses temas estão bastante alinhados com a agenda defendida pelo Papa Francisco. Por isso, foi de grande valor a oportunidade de virmos ao Vaticano e estabelecer este diálogo com ele”, diz.
Após o encontro com o Papa, a delegação brasileira participou de dois encontros com representantes diplomáticos brasileiros. O primeiro foi com o embaixador do Brasil na Santa Sé, Everton Vieira Vargas, e o segundo com o embaixador do Brasil junto à Itália, em Roma, Renato Mosca de Souza. Nos dois encontros , os diplomatas apresentaram a possibilidade de desenvolvimento de ações de cooperação acadêmica e científica com as universidades e institutos de pesquisa do Vaticano (que sedia seis universidades e dois institutos) e para tratar de ações em parceria, voltadas à cooperação acadêmica e científica internacional. Também foi feita uma visita à universidade italiana Roma Ter. “Estes encontros abrem a perspectiva para colaborações novas, fora do eixo onde hoje estamos situados. E mostraram também o interesse que há, por parte de estudantes da Itália, de virem estudar aqui, atraídos pelos nossos centros de ciência e tecnologia.”
O reitor destaca a relevância, para a Unesp, de integrar a comitiva e de participar do diálogo com o Papa Francisco. “Ao nos alinharmos com a pauta do Papa Francisco, que é uma pauta progressista, nossa instituição ganha bastante visibilidade enquanto ator para o desenvolvimento social, e também reforça seus compromissos. Este é um passo no caminho para concretizar a proposta de buscarmos nos aproximar da sociedade.”
Imagem acima: o reitor Pasqual Barretti e o Papa Francisco. Crédito: Vaticano/divulgação.