Na data de 20 de junho celebra-se o Dia Mundial do Refugiado, uma efeméride que busca trazer visibilidade à luta por direitos das pessoas que precisam de refúgio. De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), refugiado é aquele que está fora do seu país de origem por motivos de perseguição relacionada à etnia, religião, nacionalidade, opinião política ou pertencimento a determinados grupos sociais. Também podem ter saído do país por conflitos armados e violação constante dos direitos humanos.
No âmbito de um programa de solidariedade acadêmica desenvolvido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), fundação vinculada ao Ministério da Educação, a Unesp vai receber dois pesquisadores refugiados para trabalhar nos estudos em torno do hormônio irisina, cooperando com projeto liderado pela professora Célia Regina Nogueira de Camargo, da Faculdade de Medicina do câmpus de Botucatu (FMB). Os nomes dos refugiados, que atuarão no projeto por dois anos, só serão conhecidos ao final do processo de seleção dos pesquisadores, ainda em andamento.
O edital da Capes voltado à solidariedade acadêmica contemplou 34 projetos em 16 instituições de ensino superior, dentre elas a Unesp. Entre os objetivos específicos do programa estão a integração acadêmico-específica com vistas à formação de recursos humanos de alto nível, em diversas áreas do conhecimento, e a contribuição para a transferência de conhecimento, estimulando publicações do trabalho realizado.
“A irisina é um hormônio secretado pelo músculo quando fazemos exercício físico, e constatamos que ela traz muitos benefícios” , diz Célia Nogueira de Camargo. “Durante a pandemia, percebemos que a irisina diminuía a entrada do vírus (SARS-CoV-2) no tecido adiposo, por exemplo. Isso foi observado por meio de pesquisa em laboratório e agora buscamos desenvolver um fármaco com os princípios dessa substância”, diz.
A docente, atualmente, também é assessora da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da Unesp e prevê uma ampliação da participação da Universidade em editais de solidariedade acadêmica. Segundo ela, o edital da Capes será um programa de fluxo contínuo, o que abrirá espaço para projetos de todas as áreas de conhecimento.
A professora da FMB-Unesp vê grande potencial de colaboração com os futuros colegas refugiados no projeto já selecionado pela Capes. “É uma ação de internacionalização e solidariedade. Contar com um pesquisador de outro país no laboratório, conversando com mestrandos, doutorandos e membros da iniciação científica, é muito bom. Tanto para os estudos quanto por aspectos culturais. E nós também estamos sendo solidários com essas pessoas que, de repente, se veem na situação de não poder mais viver em seu país. Elas vão poder chegar a um novo local e exercer o que sabem fazer melhor, que é a pesquisa científica.”
Os pesquisadores selecionados também irão desenvolver outros trabalhos dentro da Unesp. “Uma vez que essa pessoa atuava como professora em seu país, poderemos contar com todo seu conhecimento de pesquisador e docente. Além de atuar dentro do laboratório, ela irá proferir palestras na pós-graduação, por exemplo. Podemos também propiciar uma disciplina na modalidade de tópicos especiais para que apresente seu trabalho ou alguma nova técnica, enfim, seus conhecimentos”, diz. Ela também aponta outros benefícios. “Os nossos alunos terão contato com essa pessoa, podendo aprender sua cultura e desenvolver um novo idioma. Tudo isso faz parte do processo de internacionalização, e todos se beneficiam desse ato de solidariedade”, pondera.
Marco Zero
No dia 15 de março deste ano, a Unesp, juntamente com outras 15 instituições de ensino superior contempladas no programa de Solidariedade Acadêmica, participaram de uma reunião em Brasília a fim de promover discussões e trocar experiências sobre a temática dos refugiados. O evento recebeu o nome de Marco Zero e contou com palestras de quem estuda a temática: Sílvia Sander, representante da ACNUR; Alex André Vargem, diretor de promoção dos direitos humanos do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania; Sheila Santana Carvalho, presidente do Comitê Nacional para Refugiados; e Luciana Maltchik Capobianco, fundadora da ONG Estou Refugiado.
Além das apresentações, houve conversas entre os representantes das universidades para alinhar as ações do programa de solidariedade acadêmica. Em 2022, sob o impacto da guerra na Ucrânia, o número de refugiados no mundo alcançou estimados 34,6 milhões, de acordo com o Relatório Global Trends da ACNUR. No Brasil, dentre os anos de 2016-2021, o país concedeu acolhimento a cerca de 53 mil pessoas, vindas principalmente de Venezuela, Síria e República Democrática do Congo, de acordo com o relatório anual do Observatório das Migrações Internacionais. Neste ano, a ACNUR Brasil terá como tema do Dia do Refugiado 2023 a frase “Esperança longe de casa: Por um mundo inclusivo com as pessoas refugiadas”, cujo objetivo principal é discutir a inclusão dessas pessoas nas comunidades como forma de acolhimento e apoio, tanto para recomeçar no novo país quanto para juntar forças para retornar ao local de origem.
Foto acima: Agência Brasil.