Tremores na Baixada Santista e no interior de São Paulo foram ocasionados por falhas geológicas e não implicam grandes riscos, explica geólogo da Unesp

Sismo teve epicentro em Iguape, no sul do estado, onde há grande número dessas falhas. Docente explica que eventos dessa intensidade são registrados cotidianamente, e não são vistos com preocupação pelos especialistas.

Moradores de diferentes cidades do Estado de São Paulo, desde a Baixada Santista até o Vale do Ribeira, a área de Campinas e outras regiões, relataram ter sentido tremores de terra na manhã de sexta-feira, dia 16/6.

De acordo com as informações divulgadas por órgãos competentes, pela mídia e nas redes sociais, o evento sismológico ocorreu em torno das 8h da manhã. O tremor de grau 4,0 na escala Richter foi considerado leve.

A Defesa Civil de São Paulo confirmou que dois abalos sísmicos, terremotos de baixa intensidade ocorreram na data sinalizada e nos respectivos pontos. O órgão afirmou também que não houve nenhum chamado para ocorrência com vítimas ou danos estruturais em função desses tremores, e que abalos entre 3,5 a 5,4 graus na escala Richter são sentidos pelas pessoas, mas não costumam gerar danos estruturais.

O Google, por exemplo, chegou a emitir um alerta de terremoto com magnitude estimada de 4,7 para a cidade de Miracatu, no interior paulista. Já o Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP) registrou um terremoto de 4,0 de magnitude com epicentro em Iguape, município do litoral sul do Estado.

O geólogo e professor do Departamento de Geologia, Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE), da Unesp em Rio Claro, José Alexandre Perinotto, explica que os terremotos, também conhecidos como abalos sísmicos, podem ser ocasionados por atividade vulcânica, falhas geológicas ou pelo encontro de placas tectônicas.

“Sismos é uma palavra que vem do grego e que significa mover, deslocar. O abalo sísmico é esse movimento sentido em relação à crosta terrestre. Ele pode chegar a durar vários minutos, mas às vezes é uma coisa muito rápida. No fundo, pode ser traduzido como uma vibração repentina na superfície terrestre que tem a sua origem no interior da crosta da Terra. As vibrações podem ser mais ou menos profundas, e se propagam em forma de ondas”, explica. 

Segundo o geólogo, o episódio de sexta passada é considerado comum e  não implica grandes riscos. “As ondas sísmicas são fenômenos naturais, logo não são raros. Inúmeros abalos sísmicos ocorrem diariamente no mundo todo, não há razão para alarde”, diz. Ele explica que a ocorrência desses abalos está ligada à própria estrutura do planeta, que se organiza em várias camadas. Uma camada que é chamada de astenosfera se situa no interior do manto da Terra, abaixo da crosta terrestre. Nessa camada, têm lugar diferentes processos químicos e físicos, e se instalam câmaras magmáticas.  E sobre essa camada situa-se a litosfera, onde estão os continentes. “A litosfera não é um conjunto único de placas, ela é toda fragmentada. Esses fragmentos nós chamamos de placas tectônicas. As placas tectônicas estão em constante movimento, e quando as placas se chocam, uma contra a outra, ou uma lateralmente contra a outra, gera-se uma tensão muito grande e rompe-se o equilíbrio de um bloco em relação ao outro.”

Perinotto explica  que o recente episódio de tremor em São Paulo ocorreu numa zona de cisalhamento. “Zonas de cisalhamento são regiões da crosta terrestre nas quais existem um acúmulo de falhas geológicas. São zonas que podem sofrer esse movimento de cisalhar, ou seja, um bloco se deslocar em relação ao outro. Então, essas zonas de cisalhamento têm tudo a ver com os terremotos. Isso porque é ao longo do deslocamento dos planos de falhas que há o dispêndio da energia e, consequentemente, causa-se a vibração, que é o abalo sísmico. Nós chamamos de zona de rifts cenozóicos do sudeste brasileiro. Essa zona é bastante propícia para causar esse abalo e vai continuar causando outros em diferentes magnitudes e intensidades.”

Embora os abalos sísmicos sejam corriqueiros, o professor da Unesp destaca que é importante monitorá-los. E cita como exemplo dessa necessidade as obras de grande porte conduzidas por governos e empresas, como grandes represas, usinas nucleares, grandes aterros sanitários ou centros industriais. “Se esse monitoramento é ignorado, e se isso resulta na construção de grandes obras em cima de áreas de cisalhamento, em que há mais chances de ocorrência de sismos, isso é um erro técnico”, diz ele.

“Já naqueles lugares do mundo onde ocorrem sismos com mais frequência e maior intensidade e magnitude, é importante, além de evitar construções de qualquer tipo, monitorar as atividades e também dispor de planos de contingência para salvar os habitantes. “

Confira abaixo a entrevista completa no Podcast Unesp.

Imagem acima: Deposit Photos