Aluno egresso da Unesp grava canção inédita de Luiz Bonfá e Vinícius de Moraes

Violonista e mestre pela Unesp, Lucas Félix lançou álbum dedicado ao centenário do instrumentista e compositor carioca que apresenta música inédita.

“Quero viver, quero sambar
se a fantasia se perder, eu compro outra
quero sambar, quero viver
depois do samba, meu amor, posso morrer”.

A composição “Samba de Orfeu” (Luiz Bonfá e Antônio Maria) é um clássico da música brasileira, consagrada não apenas em shows e gravações, mas também pelo cinema e o teatro. Pouca gente hoje, porém, conhece um de seus autores: Luiz Bonfá (1922 – 2001), um importante nome da música brasileira.


Em 2022, esse lendário músico, violonista e compositor completaria seus 100 anos. Autor de outras pérolas da MPB, como “Manhã de Carnaval” (outra parceria com Antônio Maria) e “Correnteza” (essa em dueto com Tom Jobim), e único compositor brasileiro a ser gravado por Elvis Presley, Luiz Bonfá revolucionou concepções técnicas no violão e deixou um vasto repertório de canções, que ainda hoje são executadas por músicos dos quatro cantos do planeta e lhe asseguraram um lugar entre os grandes nomes da música brasileira.

Após passar um período imerso nas obras de Bonfá, o violonista e mestre em Ciência e Tecnologia de Materiais pela Unesp Lucas Félix lançou nas plataformas digitais o álbum Um Abraço no Bonfá, em fevereiro de 2023, pela gravadora e produtora Kuarup.

Com repertório variado, o álbum traz, obviamente, a faixa título “Um Abraço no Bonfá”, clássica composição de João Gilberto em homenagem ao amigo. Entretanto, o grande destaque é a já histórica faixa “Deve haver alguém”, composição em parceria com Vinícius de Moraes  que estava perdida, e que recebeu agora a primeira gravação.

“A história desse achado histórico é longa. A minha formação acadêmica tem pontos curiosos. Fiz graduação no curso de Engenharia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, onde eu conheci o professor e violonista, Jorge Melo, que tem uma carreira musical de pesquisa e de composição como violonista muito importante. Na minha passagem pela ‘Rural’, me tornei amigo dele. A gente estreitou as relações e aprendi muito sobre história da música, pesquisas e os pioneiros do violão brasileiro. A partir da nossa amizade nasceram diversos projetos musicais”, relembra. “Nesses aprendizados, conheci a obra do Luiz Bonfá e decidimos analisá-la. Então, por meio de suas pesquisas incansáveis, ao vasculhar o acervo da Rádio Nacional em poder do Museu da Imagem e do Som (MIS) da cidade do Rio de Janeiro, Jorge encontrou a partitura de “Deve haver alguém”, que é de autoria do Bonfá, tem arranjo do maestro Moacir Santos e cuja letra tem versos escritos pelo poeta e compositor Vinicius de Moraes”, relata Félix.

Segundo o egresso da Unesp, a música foi executada uma única vez no programa “Noite de Gala” em outubro de 1960, e desde então caiu no esquecimento. “Após encontrar essa relíquia, o Jorge pensou em um arranjo para violão solo. Chamamos  nosso amigo norte-americano Byron Fogo, também estudioso da música do Bonfá, que fez o arranjo. Eu recebi esse arranjo com a missão de tocar e gravar a música. Tive a honra de fazer o primeiro fonograma oficial, e de estreá-la ao vivo. Ninguém sabia dessa parceria, não havia relatos sobre ela. Essa descoberta é algo muito importante para a história da música, e tive a grande honra de participar um pouquinho desse projeto. Trata-se de um registro histórico não só pela música, mas também pelo resgate que ela traz. Agora ela vem à tona reunindo personagens fundamentais para o desenvolvimento da música no Brasil. É uma grande honra poder participar dessa história e gravar esse material inédito.”

Segundo a pesquisa, a letra da canção, escrita por Vinicius de Moraes diz o seguinte:

“Deve haver alguém / Que possa me dizer / O que é o amor / Esse grande bem / Que a gente nunca tem / Sem grande dor/ Essa saudade atroz / Como a voz / Da solidão / Na solidão / Deve haver o amor / Que seja como a flor / No coração / Sem saudade e dor / Apenas um luar / No coração / Um amor feliz / Um amor cheio de paz / E de canção”

Lucas diz que a iniciativa de gravar o álbum “Um abraço no Bonfá” inspirou-se tanto na efeméride do centenário dele, em 2022, quanto no legado musical que ele deixou. “Bonfá é um artista extremamente relevante, deixou tanta coisa. Eu pensei ‘poxa, vai ser o centenário do Bonfá e não é possível que não vai ter nada sobre ele’. A partir disso, decidi embarcar nessa missão. Aí eu já tinha alguma coisa pronta, alguns arranjos e aprendi outros. Já tinha um repertório que incluía “Manhã de Carnaval”, “Correnteza” e “Samba de Orfeu”. Aí escolhi também “Adeus”, “Leque”, “Pernambuco”, “Bonfá Nova” e a faixa título. E, no meio disso, surgiu “Deve haver alguém”.

Apresentando obras de diversas fases do compositor reinterpretadas pelo violão de Lucas, o álbum foi gravado, mixado e masterizado no Studio Um, em Pindamonhangaba, por Giovani Machado. A bateria e percussão das faixas ficou por conta de Ana Teresa Faria, os arranjos são de Jorge Mello e Byrton Fogo e a direção musical é do próprio Lucas.


Natural de Taubaté, no interior de São Paulo, Lucas ensaiou seus primeiros acordes no violão aos 13 anos de idade. Desde então, dedica-se de forma intensa ao instrumento, desenvolvendo sua carreira de violonista, arranjador e professor. A expressividade e musicalidade de suas interpretações são características marcantes em seus trabalhos e seu repertório transita entre o clássico e o popular. Um Abraço no Bonfá é seu terceiro álbum. Lucas Félix segue atuando nas salas de concerto ao redor do Brasil e em paralelo é professor de violão no Projeto Guri. Ele também é finalista da 7ª edição do Prêmio Profissionais da Música, nas categorias de Instrumentista Erudito e Produtor Musical.

Confira abaixo a entrevista completa e ouça a canção inédita no Podcast MPB Unesp.

Foto: divulgação.