“A leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas por incrível que pareça, a quase totalidade não sente esta sede”, dizia Carlos Drummond de Andrade. E essa disparidade entre a capacidade do hábito de leitura de proporcionar bons momentos e sua pouca difusão junto à sociedade brasileira tem se tornado mais evidente no século 21, época em que os livros se tornam cada vez mais caros e precisam competir diariamente com as mídias digitais.
Com o intuito de valorizar a cultura do livro e democratizar seu acesso, a Universidade Estadual Paulista realiza, desde 2018, a Feira do Livro da Unesp. O evento deste ano acontece entre os dias 12 e 16 de abril no câmpus da Unesp em São Paulo, na Barra Funda, e reúne diversas editoras nacionais, das áreas de ficção e não ficção, que ofertam seus catálogos com expressivos descontos a fim de atrair o público e promover a leitura. Na quarta-feira, 12, haverá a abertura oficial do evento e das suas atividades culturais, cuja programação completa pode ser obtida no site oficial da Feira.
O diretor-presidente da editora Unesp, Jézio Hernani B. Gutierre, destaca a capacidade da feira de promover conexões entre as editoras e o grande público. “A rede de distribuição no Brasil é muito frágil e muitas vezes as pessoas não têm acesso ao livro ou sequer informação a respeito dele. É comum que a população não saiba o que as editoras publicam. Por isso, reforçar a rede de distribuição e comunicação das editoras, e fazer com que essa massa de publicações chegue ao público por um preço menor, é algo muito interessante e apropriado.”
Essa ponte entre publicadores e consumidores propiciada pelo evento é muito valorizada pelas empresas, como mostra o alto número de participantes: nesta edição de 2023 são 137 editoras, que ofertam centenas de títulos.
Além disso, o evento pode ser uma ótima oportunidade para atrair novos leitores, destaca Gutierre. “Tanto pela variedade quanto pelo preço é uma oportunidade única para fazer com que alguém que tenha alguma propensão para a leitura se veja fisgado pela pelo hábito de ler e pela cultura do livro.” Diante do verdadeiro mar de obras que é oferecido no evento, é possível que qualquer pessoa encontre algo do seu interesse.
A cultura livreira será tema de um dos eventos que compõem a programação cultural da Feira. Após a fala de Gutierre para a abertura oficial do evento, uma mesa-redonda com a pesquisadora Natalia Pasternak e com o jornalista Carlos Orsi intitulada Comunicação da ciência e combate à desinformação: O livro e a cultura livreira como instrumentos da comunicação científica irá discutir a importância do livro na difusão do conhecimento científico e acadêmico. A mediação será feita pelo professor do Instituto de Física Teórica (IFT) da Unesp Marcelo Takeshi Yamashita.
As dificuldades que a cultura do livro enfrenta
E para além dos ganhos comerciais há outros motivos para buscar essa ponte direta com esse possível novo leitor. Dentre eles estão a perda de poder aquisitivo para o consumo de cultura e o fascínio das mídias digitais. Segundo pesquisa do Retratos de Leitura no Brasil, a população brasileira lê uma média de 5 livros por ano. Destes apenas dois são lidos por inteiro. A avaliação é que o interesse por literatura está perdendo espaço na sociedade.
Gutierre lembra que os livros continuam sendo o meio de comunicação com maior profundidade de conhecimento. “A argumentação complexa não pode ser fragmentada, e a informação mais típica de hoje, que é vista na Internet, é fragmentada. Embora ela tenha seu papel e importância, quando vamos desenvolver o pensamento acadêmico, universitário e científico, o livro permanece sendo um meio único de confronto, estabelecimento e exposição de ideias de maneira inteligível e sustentável”, diz.
Além disso, o mercado literário tem buscado se atualizar para o meio digital, tornando a mídia mais atrativa aos novos públicos. Gutierre cita como exemplo o caso dos livros digitais, os quais frequentemente ofertam hipertextos e links diretos que permitem uma conexão entre obras literárias e sites da internet, criando assim uma hiperconectividade entre os meios de comunicação.
Gutierre ressalta ainda a capacidade da literatura de servir como caminho para o desenvolvimento de um senso crítico mais apurado. “É conteúdo e informação mais completos. É um ensejo para que você adquira conhecimentos e cultive pensamentos mais complexos. (Ler livros) faz com que nós tenhamos uma vida mais plena. Nada disso nos garante uma vida agradável, mas sim, e essa é uma convicção pessoal, uma vida mais rica”, diz.
Informações do evento
A V Feira de Livros da Unesp acontece entre os dias 12 e 16 de abril no formato híbrido. É possível visitar o evento presencial no campus da Unesp de São Paulo, localizado na Rua Dr. Bento Teobaldo Ferraz, 271. Já a versão digital pode ser acessada no site oficial. A feira terá descontos mínimos de 50% na versão presencial e 40% na virtual.
Foto acima: estandes de editoras durante edição de 2019 da Feira do Livro da Unesp. Divulgação/Editora Unesp