Originadas da variante BA.5, a BQ.1 e BQ.1.1 são as variantes mais recentes do SARS-CoV-2 que estão em circulação no estado de São Paulo. A BA.5 é uma subvariante da Ômicron, responsável por aumentar de forma expressiva o número de casos de covid-19 entre o final de 2021 e o começo de 2022. Nesse contexto, um ano depois, surge um novo sinal de alerta para outra onda da pandemia, com possível predominância da BQ.1 no país.
A BQ.1 possui mutações genéticas na proteína Spike que fazem com que o reconhecimento e a neutralização do vírus pelo sistema imunológico sejam mais difíceis, afirmaram os cientistas que participaram da live “O que precisamos saber para nos proteger das novas variantes”, organizada na noite de 25 de novembro pelo Comitê Científico Unesp Covid-19 e transmitida pelo canal oficial da Universidade no YouTube.
“As mutações são muito parecidas. São todas de uma mesma linhagem, costumamos dizer, as linhagens da BA.5”, afirmou durante a transmissão Deyvid Amgarten, cientista bioinformata do Hospital Israelita Albert Einstein.
Reconhecida por seu trabalho com sequenciamento genômico de amostras do SARS-CoV-2 em várias regiões de São Paulo, Rejane Tommasini Grotto, docente da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, diz que a frequência das variantes BQ.1 e BQ.1.1 tem crescido progressivamente. A taxa de transmissibilidade do vírus no estado de São Paulo chegou a 1.35 –ou seja, a cada três pessoas infectadas, o vírus é transmitido para outras quatro pessoas. Além disso, aponta Rejane Grotto, há subnotificação de casos causada pelos autotestes, e por isso a taxa de transmissão é maior do que a que foi aferida.
Nesta semana, foi divulgada a identificação de subvariantes que ainda não tinham sido registradas no Brasil: BQ.1.1.17 e BQ.1.1.18, encontradas em amostras de pacientes de Santo André e São Caetano do Sul, no ABC.
“O que estamos vivendo hoje é um encontro de situações. Fomos liberados das máscaras quando o número de casos estava baixo. As pessoas não procuraram pelas doses de reforço e temos uma nova variante muito mais forte circulando” disse Gabriel Berg de Almeida, docente da Unesp e médico infectologista do Hospital das Clínicas de Botucatu (HCFMB).
Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, o também professor da Faculdade de Medicina da Unesp Alexandre Naime Barbosa aponta duas mudanças fundamentais no cenário: uma envolve o hospedeiro, uma vez que agora o indivíduo está vacinado, foi exposto ou já contraiu a Covid-19; a segunda está na diferença quanto à patogenicidade da Ômicron em relação a outras variantes. “Estamos vivendo uma doença completamente distinta do que víamos em 2020 e, até mesmo, no primeiro semestre de 2021. Não é a mesma doença e nem o mesmo público” disse Naime.
Agora, em 2022, a covid-19 se apresenta como uma doença leve para a população vacinada e que afeta principalmente os pacientes imunossuprimidos, grupo que reúne pessoas com transplantes de órgãos sólidos e indivíduos que fazem quimioterapia, entre outros. Esses pacientes demandam atenção especial porque têm sua imunidade prejudicada pelo uso de medicações.
Vacinas salvam vidas
O fato de a covid-19 ter se tornado atualmente uma “doença leve” para boa parte da população está diretamente relacionado à vacinação em massa, como mostrou estudo recente publicado pela Lancet Regional Health Americas, com participação de pesquisadores da Unesp. “Se vacinar com o imunizante (monovalente, de primeira geração) que está disponível previne a internação, isso é um fato”, diz Gabriel Berg de Almeida.
Durante a live do comitê científico, os participantes alertaram que, embora as vacinas sigam como um fator primordial na estratégia de saúde pública como um todo, observa-se, por parte da população, baixa procura pelas doses de reforço, as terceira e quarta doses da vacina contra a covid-19 que estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com o consórcio de veículos de imprensa, com dados obtidos a partir de informes das secretarias estaduais de saúde, apenas 49,45% da população brasileira tomaram alguma dose de reforço.
A expectativa agora é quanto às vacinas de segunda geração, ou vacinas bivalentes, com possibilidade de atuar de maneira ainda mais efetiva ante as subvariantes do SARS-CoV-2 que estão surgindo. Alexandre Naime Barbosa explicou que a principal vantagem que elas conferem é uma maior efetividade em termos de geração de anticorpos neutralizantes. As vacinas bivalentes não só estimulam a resposta imune humoral de produção de anticorpos, mas também a resposta imune celular. Desde setembro, países como a Inglaterra, o Chile e os Estados Unidos já fazem a aplicação de vacinas bivalentes na população.
“As vacinas atuais e monovalentes têm uma efetividade fantástica na redução individual de evolução para desfecho grave, que é hospitalização e óbito”, disse Alexandre Naime Barbosa.
Volta do uso de máscaras
Outro assunto debatido durante a live foi o retorno da obrigatoriedade do uso de máscaras, determinado por algumas instâncias governamentais em razão da alta do número de casos de covid-19 no país, bem como a elevação constatada nos registros de internações em enfermarias (casos moderados) por causa da doença. Desde 26 de novembro, o uso da máscara no transporte público voltou a ser obrigatório em São Paulo. Na Unesp, desde 17 de novembro é obrigatório o uso de máscara em espaços fechados da Universidade.
“Em momentos anteriores, a gente percebeu que o uso de máscara é uma das medidas não farmacológicas mais eficientes. E, como expliquei antes, o vírus está se adaptando ao hospedeiro. Então, temos que fazer com que ele circule menos para diminuir as chances de novas mutações”, disse a professora Rejane Grotto, presidente do Comitê Unesp Covid-19.
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