O ano de 2022 marca duas das mais centrais datas da história do Brasil que remetem à questão da imaginação das identidades nacionais, para adotar o termo consagrado pelo historiador Benedict Anderson: os 200 anos da Proclamação da Independência e os 100 anos da Semana de 22. Jornais e revistas podem ser considerados como um dos principais vetores na homogeneização de uma ideia de nação ao difundirem o vernáculo em grandes extensões territoriais com informações de todo tipo, imaginários e modos de sociabilidade. E foi igualmente por meio destes veículos que os variados projetos de nação ganharam espaço, estabelecendo-se como amplas plataformas de discussão e formação de uma opinião pública.
A proposta deste debate é contribuir para as reflexões sobre o papel da imprensa periódica na formação da identidade nacional brasileira e problematizar os marcos das efemérides, sempre tendo como horizonte os dois períodos distintos de 1822 e 1922. Pesquisadores de diferentes áreas apresentarão aspectos destas discussões que tiveram na imprensa periódica não apenas um suporte privilegiado, mas um ator central.
Apresentações:
Em ordem cronológica, a conversa se abre com Isabel Lustosa (CHAM-UNL) na apresentação Inventando um país: imagens do Brasil e dos brasileiros na imprensa da Independência, onde ela mostrará como a imagem do Brasil sofreu violentos ataques por parte da imprensa portuguesa desde a elevação da colônia a Reino Unido. Lançando mão de jornais publicados no Rio de Janeiro entre 1821 e 1823, fontes privilegiadas para se compreender esse processo, ela ressalta como a reação brasileira se deu sob a forma de exaltação das qualidades locais, mas também de afirmação de uma identidade brasileira específica, diversa da portuguesa, reconhecedora da presença do índio e do negro na base de sua formação.
Em Nação e ficção na imprensa brasileira do século XIX, Jefferson Cano (UNICAMP) se dedicará a uma reflexão sobre a indefinição de limites entre os gêneros jornalísticos em circulação que favoreceram a construção de diferentes discursos mobilizados em torno da ideia de nação nas primeiras décadas do século XIX. Para ele, esta produção permite recuperar os diálogos que se estabeleceram no espaço da imprensa periódica entre diferentes sujeitos que buscavam caminhos possíveis para a construção de suas identidades, sobretudo no momento imediatamente anterior à existência de uma literatura brasileira que se pensava enquanto tal.
Valéria dos Santos Guimarães (UNESP) em Identidades brasileiras em debate na imprensa francesa publicada no Brasil jogará luz sobre as repercussões das discussões acerca da identidade nacional brasileira em revistas e jornais escritos em francês publicados no Rio de Janeiro e em São Paulo na passagem do século XIX-XX. Representações textuais e visuais de concepções de nação ou de regimes políticos (monarquia ou república), além de outros temas caros à constituição de uma identidade brasileira, como a questão da mestiçagem, eram recorrentes nestas folhas, sempre em diálogo com a imprensa local e com amplo engajamento de brasileiros. Antes objeto mais restrito aos estudos sobre grupos imigrantes, esta imprensa era também muito presente nas polêmicas locais.
Para finalizar a discussão, em A inauguração do Brasil: “raça” e identidade nacional nas crônicas de Menotti del Picchia no jornal Correio Paulistano, Tadeu Chiarelli (USP) analisará a pintura A Invenção do Brasil (1923) de Menotti Del Picchia, uma alegoria do descobrimento, que será cotejada com os textos do mesmo autor publicados no jornal Correio Paulistano, nos anos 1920. O propósito é conferir se os valores expressos na referida pintura sobre raça e identidade nacional se mantêm no pensamento do intelectual durante aquela década.
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Imagem acima: “Operários”de Tarsila do Amaral. Reprodução.