No Dia Internacional dos Povos Indígenas, etnias do Brasil lutam contra ameaça de perda de direitos já assegurados pela Constituição

Antropólogo da Unesp diz que população nativa sofre com dificuldade de acesso a educação, saúde e demarcação da terra.

No dia 9 de agosto celebra-se o Dia Internacional dos Povos Indígenas. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, em 23 de dezembro de 1994, com o propósito de alertar para a necessidade de inclusão e a luta que os povos indígenas travam por seus direitos, e pela preservação de suas culturas tradicionais.

De acordo com o censo demográfico de 2010 realizado pelo IBGE, no Brasil existem mais de 800 mil indígenas, repartidos em aproximadamente 305 etnias diferentes, com cerca de 274 idiomas. Estes dados realçam a dimensão indígena de nosso país, e o desafio que é preservar este patrimônio cultural.

Na origem, a Década Internacional dos Indígenas 

A celebração do primeiro Dia Internacional dos Povos Indígenas ocorreu em 9 de agosto de 1995, marcando o início da primeira década internacional dos indígenas (1995 a 2004). Já em 2007, em comemoração a segunda década internacional dos indígenas, foi aprovada a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas.

Entre alguns pontos cruciais da Declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas, constam: a inserção dos indígenas na Declaração Internacional dos Direitos Humanos; o direito à autodeterminação, de caráter legítimo perante todas as entidades internacionais; a inibição à remoção dos indígenas de seus territórios de modo forçado; o direito à utilização, educação e divulgação dos seus idiomas próprios; o direito à nacionalidade própria e a exercer suas crenças espirituais com liberdade; a garantia e preservação da integridade física e cultural dos povos indígenas e o auxílio do Estado às comunidades a fim de manterem os seus direitos básicos.

No Brasil, até grupos sem contato enfrentam momento de dificuldades

Edmundo Antonio Peggion, professor especialista em etnologia indígena da Faculdade de Ciências e Letras do câmpus da Unesp em Araraquara e colaborador do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Ufscar, destaca a relevância desta data para os povos indígenas que vivem no Brasil a analisa as condições do atual cenário indígena no Brasil, que se apresenta desafiador.

As populações nativas, em muitos casos, sofrem para ter acesso a direitos e serviços que lhes são assegurados pela Constituição de 1988, incluindo o acesso a terra e a serviços de educação e saúde. “ Atualmente muitos grupos enfrentam a ameaça de revisão e até mesmo de perda desses direitos”, diz. Ele também conta que durante a pandemia muitas aldeias registraram a morte de importantes lideranças e idosos. “Isso causou problemas em várias comunidades”, diz. 

Também os povos indígenas em isolamento voluntário atravessam momentos difíceis. O em torno das áreas onde muitos deles residem têm sido palco de invasão e desmatamento em grande escala, ameaçando o modo de vida e até a sobrevivência destes grupos.  

“Os elementos fundamentais na luta do movimento indígena hoje são terra, saúde e educação. Ou seja, cumprir o que está assegurado pela Constituição de 1988. É uma luta por garantir o acesso aos seus direitos mantendo suas especificidades e diferenças”, avalia.

Para ouvir a íntegra da entrevista ao Podcast Unesp, clique abaixo.

Imagem acima: indígenas protestam na cidade de Salvador, BA. Crédito: Deposit Photos.