Controle da monkeypox envolve desafios de diagnóstico

Especialista em saúde pública da Unesp explica características de transmissão e combate à doença, que já registra cerca de 2 mil casos no Brasil, sendo 70% no estado de São Paulo.

Enquanto o mundo ainda busca controlar em definitivo a pandemia de Covid-19, um novo vírus atinge inúmeros países e gera novo alerta global na área de saúde pública. Trata-se do vírus monkeypox, que causa a doença chamada de varíola dos macacos. Desde 23 de julho, a Organização Mundial da Saúde atribuiu ao atual surto de Monkeypox, como também está sendo chamada a moléstia, o status de Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (EEPII).

A monkeypox é uma zoonose viral, ou seja, uma doença que foi transmitida aos humanos a partir de um vírus que circula entre animais. Antes do surto atual, a doença ocorria principalmente na África Central e Ocidental, sobretudo em regiões perto de florestas, pois os hospedeiros são roedores e macacos.

Essa varíola é causada pelo vírus monkeypox, que pertence à mesma família (poxvírus) e gênero (ortopoxvírus) do vírus causador da varíola em humanos. A varíola humana, no entanto, foi erradicada do mundo no início da década de 1980, e era muito mais letal. A taxa de letalidade histórica da monkeypox, antes do atual surto, era estimada na faixa de 3% a 6%. O primeiro caso foi detectado em humanos em 1970.

De acordo com autoridades de saúde, até o momento, foram registrados aproximadamente 30 mil casos em todo mundo. O país com mais infectados são os EUA. Espanha e Alemanha estão em 2º e 3º lugar, respectivamente.  

O Brasil é o 6º país com mais casos: cerca de 2,1 mil confirmados até a última semana. O Ministério da Saúde informou que o Estado com mais infectados é São Paulo, seguido por Rio de Janeiro, Minas Gerais e Distrito Federal. 

Neste cenário, foi confirmada semana passada uma morte causada pela doença, em Minas Gerais. Foi o primeiro óbito fora da África registrado neste surto. Segundo o Ministério da Saúde, o paciente tinha a imunidade comprometida por outros problemas de saúde. 

As complicações são mais comuns em pacientes com problemas no sistema imunológico. Quadros graves estão relacionados ao surgimento de pneumonia, sepse, encefalite (inflamação do cérebro) e infecção ocular, que pode até levar à cegueira.

São Paulo concentra 70% dos casos no Brasil

No Brasil  70% dos casos foram registrados no Estado de São Paulo.  Antonio Luiz Caldas Júnior, médico sanitarista e professor do Departamento de Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Unesp em Botucatu, esclarece aspectos sobre a transmissão, controle e tratamento da doença no Brasil.

O médico diz que a monkeypox apresenta uma série de peculiaridades para o seu enfrentamento. Uma delas está ligada às dificuldades de diagnóstico, que se devem também ao fato de que a moléstia apresenta duas fases. Na etapa inicial, são verificados sintomas que são semelhantes aos de qualquer quadro viral, como fadiga e  febre. Somente após dois a três dias aparecem os sintomas na pele que têm chamado tanto a atenção entre as autoridades médicas.

Porém, estes sintomas também se apresentar de formas variadas, se manifestando tanto sob o aspecto de máculas ou lesões visíveis,- inclusive pústulas, ou seja, lesões com pus – quanto em formatos bem menores, capazes de serem confundidos com picadas de inseto ou espinhas. O número de lesões também pode apresentar grande diversidade. “Tudo isso dificulta o diagnóstico”, conta o médico. “E as dificuldades de diagnóstico, por sua vez, atrapalham os esforços de prevenção”.

A transmissão tem se dado principalmente através do contato da pele com os indivíduos contaminados. Isso pode acontecer por meio de relações sexuais, mas também pode envolver outras forma de interação, como massagem, danças e até certas situações de transporte coletivo onde haja contato prolongado entre as pessoas. Outros canais envolvem a disseminação de gotículas, inclusive por meio de objetos infectados como roupas talheres e copos. “A prevenção não é muito fácil e isso está permitindo a disseminação da doença”, diz Caldas Júnior.

Ele explica que no atual momento, as autoridades médicas ainda não consideram campanhas de vacinação em larga escala contra a moléstia. “A melhor forma de prevenção agora passa pela disseminação de informações, o diagnóstico e o isolamento das pessoas contaminadas”, diz.

Para ouvir a íntegra da entrevista com Antônio Luiz Caldas Júnior, clique abaixo.

Confira, na próxima sexta, edição especial do Unesp em Debate abordando a transmissão, os sintomas e as estatísticas da monkeypox. Vamos também discutir o papel da comunicação para informar sobre a doença. Com Alexandre Naime (Unesp), Carlos Orsi (Questão de Ciência) e Tatiada D’Agostini (Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo). A partir das 15h.

Imagem acima: Deposit Photos.