Adesão de Finlândia e Suécia a OTAN evidencia contradições e equívocos da aliança militar, explica professor da Unesp

Chegada de novos integrantes está em sintonia com recente revisão de estratégia, que defende expansão de tropas, bases e gastos militares. Para Samuel Alves, bloco está engajado em uma corrida armamentista, em ritmo acelerado.

Membros da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e representantes de Finlândia e Suécia assinaram em 5 de julho, na sede da Aliança Atlântica, em Bruxelas, Bélgica, os acordos para o início do processo de adesão de ambas as nações à organização militar, após a Turquia ter cancelado o veto à entrada de ambos. Trata-se de um protocolo que permite que os países se juntem à aliança no futuro próximo. A entrada dos países do Norte da Europa assinala a expansão mais significativa da OTAN desde a década de noventa.

O encontro visou confirmar a capacidade dos dois países para cumprir os compromissos e obrigações militares, políticas e jurídicas associados à participação na organização militar. Em linhas gerais, o protocolo assinado esta semana diz que Finlândia e Suécia podem participar das reuniões da Otan e ter mais acesso aos dados gerados pela inteligência do bloco, mas não estarão ainda efetivamente protegidas pela cláusula de defesa comum, a qual prevê garantias contra um possível ataque a integrantes da organização. O acordo deverá ser ratificado pelos países participantes. O processo poderá levar até um ano para ser efetivado. O princípio de defesa coletiva da OTAN, segundo o qual um ataque a um aliado é equivalente a um ataque a todos e que mobiliza uma resposta conjunta, só se aplicará a Finlândia e Suécia quando estes países se tornarem membros de pleno direito, depois de finalizado o processo de adesão.

A atual guerra entre Rússia e Ucrânia teria entre seus motivos a aproximação de Kiev com o Ocidente e, principalmente, com a OTAN. Após o início dos ataques, Moscou advertiu repetidamente Ucrânia e Finlândia contra uma adesão à aliança, já que a Finlândia também faz fronteira com os russos.  Em março deste ano, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse que, caso a Finlândia passe a integrar a OTAN, haverá sérias consequências militares e políticas. Estes alertas só tornam mais complexo o cenário que envolve a adesão de Finlândia e Suécia, que até então se posicionavam como nações neutras no contexto da política militar europeia.

Samuel Alves Soares, especialista em segurança internacional e professor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da Unesp e do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (Unesp – Unicamp e PUC-SP), explica que, em junho passado, a organização divulgou um novo conceito estratégico no qual basear suas ações. Este novo conceito substitui um documento anterior, datado de 2010. “O documento diz que a OTAN é uma aliança garantidora da paz e da estabilidade. É isso que ocorre?”, questiona. O documento identifica China e Rússia como ameaças potenciais ou concretas em suas análises do cenário internacional, e defende medidas como a continuidade da política de expansão do bloco militar, o aumento dos gastos militares entre seus integrantes, o crescimento do número de tropas de pronto emprego e a ampliação do número de bases norte-americanas fora de seu país.

Para Alves, o novo conceito estratégico está eivado de contradições diplomáticas e assinala que está em curso uma corrida armamentista, em ritmo acentuado.

Ouça a íntegra da entrevista de Samuel Alves Soares ao PodCast Unesp clicando abaixo.