Nova edição de programa ofertado pelo ICTP-SAIFR incentiva a interdisciplinaridade entre física e biologia

Pela primeira vez oferecido em modo inteiramente presencial, projeto é fruto de parceria com Instituto Serrapilheira e destina-se a pesquisadores em início de carreira.

Na última segunda-feira, 04 de julho, teve início a segunda edição do Programa de Formação em Biologia e Ecologia Quantitativas. Voltado para pesquisadores em início de carreira, o programa tem como um dos objetivos formar uma nova geração de jovens cientistas capazes de pensar problemas a partir de perspectivas interdisciplinares. Ao longo de cinco meses, os selecionados terão aulas com pesquisadores de excelência das áreas de biologia e ecologia quantitativas, além de terem a oportunidade de conviver uns com os outros, em um ambiente estimulante para trocas de ideias e experiências. O programa surgiu a partir de uma parceria entre o Instituto Serrapilheira e o ICTP-SAIFR, visando cobrir uma demanda pela criação de uma comunidade de cientistas latino-americanos capazes de aplicar métodos matemáticos e computacionais a áreas da biologia, como ecologia e epidemiologia. Após uma primeira edição online, realizada em 2021, em 2022 o programa é inteiramente presencial e contará com 31 estudantes selecionados.

Para abrir a programação, a pesquisadora uruguaia Mercedes Pascual, da Universidade de Chicago, apresentou a palestra “Alguns problemas de escala em ecologia teórica: estudos de caso de doenças infecciosas”. Pascual é reconhecida por suas pesquisas que conectam dinâmicas de doenças com mudanças climáticas, especialmente por um estudo pioneiro sobre a ligação entre cólera e o fenômeno climático El Niño. Ao final de sua fala, a professora destacou: “esses cursos serão uma grande oportunidade. Espero que todos os estudantes aproveitem o que está por vir”.

Um dos selecionados para esta edição, Juan Felipe Montenegro, da Universidade dos Andes em Bogotá, Colômbia, está cursando mestrado em engenharia biomédica. Sua pesquisa é focada em modelagens matemáticas de covid-19 e malária, em especial os aspectos sociais que impactam a transmissão das doenças. Ele diz que espera que a formação lhe capacite a desenvolver um trabalho que possa gerar benefícios para seu país e também em escala global. “Quero poder contribuir com o entendimento sobre o comportamento dessas doenças”, diz.

Outra participante, Maíra Marins Dourado, da Universidade de São Paulo, faz mestrado em bioquímica, estudando o relógio biológico de plantas, com foco na cana-de-açúcar. Maíra espera que o curso proporcione uma integração entre as diferentes áreas que permeiam sua pesquisa. “Por mais que eu tenha um certo conhecimento de matemática, de física, de química e de biologia, não é algo integrado. Acredito que o curso vai justamente me oferecer essa oportunidade”, comenta.

A interdisciplinaridade é uma das grandes características do programa. Flavia Marquitti, pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas, que participa da coordenação científica, avalia que há poucos espaços interdisciplinares na pós-graduação no Brasil. Isso contribui para criar um vácuo na formação de cientistas capazes de lidar com problemas que só podem ser resolvidos no trabalho conjunto entre biologia, matemática e outras áreas. Ricardo Martínez Garcia, pesquisador do ICTP-SAIFR e coordenador científico das edições de 2021 e 2022 do programa, concorda com Marquitti, e acrescenta que os espaços para formação e pesquisa interdisciplinar, geralmente, aparecem muito tarde na carreira do pesquisador. Segundo Garcia, no programa os alunos vão ser treinados para problemas que não podem ser resolvidos por só uma pessoa, ou mesmo por um grupo de pessoas que atuem na mesma área de formação. “Problemas como a perda de diversidade e as mudanças climáticas não vão ser resolvidos por pessoas com só uma expertise apenas. Serão necessárias equipes transdisciplinares, e seus integrantes vão ter que aprender a falar uns com os outros. Físicos e ecólogos normalmente não falam a mesma língua, por exemplo”, comenta. A expectativa é que, ao final, os alunos consigam trabalhar juntos em áreas interdisciplinares.

 Outro objetivo é formar uma rede de pesquisadores que contribuirá para o avanço da ciência. Para isso, Martínez-García comenta que estão previstos encontros anuais entre os ex-alunos do programa, que poderão assim estreitar laços profissionais e de pesquisa. Entre 4 de julho e 2 de dezembro os selecionados irão participar de minicursos, seminários de pesquisa, sessões de debate, journal clubs e outras atividades. Para conhecer em detalhe todas as atividades, palestrantes, temas e participantes, basta acessar o site do programa.