Com um trabalho calcado na fusão sonora que conecta congado, candombe, folia de reis, candomblé, percussão corporal, grooves e beats eletrônicos, a cantora, compositora e percursionista mineira, Raquel Coutinho vem enriquecendo a música contemporânea, tanto dentro como fora do país. Formada em Fonoaudiologia, Raquel também atua em teatro e interpretação, ministra oficinas de expressão vocal, canto, rítmica corporal e musicalização.
A largada para este caldeirão musical remonta ao início da sua carreira solo, em 2010, quando, após lançar seu primeiro álbum (Olho d’água), Raquel foi convidada para participar no conceituado Festival de Jazz de Montreux.
“Olho d’água é o resultado de uma série de estudos e experiências que tive na minha vida. Desde as influências musicais dos meus pais, passando pela minha formação em fonoaudiologia, a atuação junto a nomes como o multiinstrumentista Maurício Tizumba, e o estudo diferentes instrumentos de percussão e percussão corporal. Tudo atrelado a um período de imersão em uma fazenda na Serra do Cipó / MG, onde busquei outros elementos sonoros e de composição para estruturar o trabalho. Apesar de ter sido lançado em 2008, eu o álbum levou três anos para ser gravado. Foi uma transformação muito positiva na minha vida”, relata Raquel.
Os elogios da crítica especializada abriram caminho para a participação de importantes da música brasileira em seu segundo álbum, intitulado Mineral. Lançado em 2015, foi produzido pelo excelente músico e percussionista Marcos Suzano, que se tornou seu parceiro e mentor artístico.
“Nessa época eu já morava no RJ e estava reajustando os membros da minha banda. Em conversa com o amigo e produtor Maurício Negão, tivemos a ideia de convidar o Suzano para produzir o novo álbum. Inicialmente achei utópico, pois se trata de um músico genial e renomado dentro e fora do Brasil. Eu conhecia o Suzano de um encontro na Serrinha. Mas após o convite, ele não apenas assumiu a produção, mas se tornou um amigo, parceiro que me orienta e passa várias dicas sobre o meu trabalho. Gravamos no estúdio dentro da casa dele. Produzimos tudo lá em um mês, mandamos para o Sacha Amback colocar teclado que ficou sensacional, o Júnior Tolstoi fez a mixagem e eu mandei masterizar em Belo Horizonte. Mineral é um retrato da minha chegada no Rio, da minha essência mineira impactada com a nova realidade que eu estava vivenciando e de apropriação da minha linguagem. Se você ouvir os dois álbuns eles se conectam, formam uma cara do que eu sou hoje”.
Dona de um estilo irreverente e alegre e com astral lá em cima, Raquel Coutinho é uma artista de extrema habilidade musical e corporal, que “brinca ser batuqueira e tamborzeira”. “A percussão corporal me deu muito consciência para desempenhar meu trabalho. É um exercício de coordenação motora. Hoje toco tambor de folia, pandeiro, gunga, patangome e percussão corporal. Esses são meus instrumentos”.
Atualmente, Raquel prepara um novo EP que será apresentado inicialmente no show que ela fará no Festival de Arte Serrinha em 16 de julho. O trabalho traz o nome de “Peixe Mulher”, homenagem a Dandara dos Palmares, a esposa de Zumbi dos Palmares.
“Neste EP enfoco a libertação da mulher, um entendimento de todas as mulheres, inclusive começo com a mulher negra. Por eu não ser negra tento entender que elas ocupam um lugar ainda mais difícil, sofrido, um déficit de tudo que a gente vive na sociedade. Acabou acontecendo a história da Dandara, pois a ideia é que ela pula da pedreira, mas ao pular, vira um peixe. Mas ela não morre: mergulha no ventre da mata e vira um sol que ilumina a todas nós mulheres. Convido a todos para conhecer um pouco deste novo trabalho no show que farei no Galpão Busca Vida”.
Em entrevista exclusiva ao Podcast Unesp, Raquel Coutinho conta sobre sua trajetória artística e os novos trabalhos de 2022. Confira o bate-papo abaixo!