Perda de eficácia de vacinas e opção por prosseguir com política de “covid zero” explicam atual onda de isolamento social na China

Devido ao rigor do combate à pandemia, país está apresentando, neste momento, os piores indicadores econômicos dos últimos dois anos. Surgimento de variante mais contagiosa do SARS-CoV2 tem levantado questionamentos sobre reais condições de que gigante asiático sustente sua abordagem de "tolerância zero" com o vírus.

Desde o início da pandemia, a China tem exercido um papel-chave em várias questões de ampla repercussão no cenário global, tanto no campo da saúde como no da economia. Em dezembro de 2019, a OMS (Organização Mundial da Saúde) foi alertada sobre vários casos de pneumonia na cidade de Wuhan, província de Hubei. Tratava-se da nova cepa de coronavírus que até então não havia sido identificada em seres humanos. De lá pra cá, todos enfrentamos a Covid-19.

Acusado falsamente por alguns de ter criado em laboratório o vírus SARS- CoV2, o país asiático foi destaque na corrida para adotar medidas de contenção da doença, na elaboração de vacinas e no retorno às atividades normais.

Com a adoção de uma estratégia chamada de “covid zero”,  a China tem buscado diferentes caminhos para tentar conter o problema. Porém, esta mesma estratégia tem cobrado um preço alto, na forma de impactos sociais e econômicos.

De acordo com informações divulgadas em 16 de maio, o país atravessa seus piores indicadores econômicos em dois anos. Os índices são resultado da rígida política de combate ao vírus imposta pelo governo, que afetou aspectos da vida social como os deslocamentos, o consumo e as redes de abastecimento.

O maior exemplo vem de Xangai, a maior cidade do país e considerada a capital financeira. Enfrentando medidas de confinamento de seus habitantes desde abril, a cidade sofre agora com problemas econômicos, e registra uma queda considerável no consumo e aumento no desemprego. A cidade estabeleceu planos no início desta semana para o fim desse doloroso lockdown, visando uma vida normal a partir de junho. Nesse processo, a prefeitura informou que a cidade reabrirá em etapas permanecendo com restrições de movimento em grande parte para evitar uma volta pesada de infecções.

Roberto André Kraenkel, pesquisador de epidemiologia, biologia de populações e professor do Instituto de Física Teórica da Unesp, explica que a China alcançou uma cobertura vacinal relevante de sua população, mas esbarra em dificuldades atreladas à tecnologia de vacinas que adotou, e na rígida política de covid zero escolhida pelo governo.

Kraenkel explica que os novos fechamentos não significam que a China tenha perdido o controle da situação. Na verdade, é a preocupação de que surto atual possa evoluir até gerar uma eventual explosão de casos o motivo para que autoridades estejam adotando medidas sérias.

Escute abaixo a íntegra da entrevista ao Podcas Unesp.

Imagem acima: Deposit Photos.