Encontro entre Beatles e Yoko Ono abriu portas para mudar espaço das mulheres no Rock, mostra pesquisa

Pesquisa de doutorado da Unesp aborda processo de feminilização do gênero à época da contracultura, tendo como foco a parceria na arte e na vida entre John Lennon e Yoko Ono.

“Sisters, O sisters, let’s stand up right now: o processo de feminilização do rock na época da contracultura e da Nova Esquerda, 1966-1974”. Este é o título do estudo de doutorado da pesquisadora e membro do Grupo de Estudos Culturais da Unesp em Franca, Vanessa Pironato Milani, sob a orientação do professor José Adriano Fenerick.

A pesquisa parte da ideia de que houve uma feminilização do rock naquele período, e  tem como foco a artista plástica e musicista Yoko Ono. Milani explica que sua pesquisa não mira apenas a inserção da mulher no universo do rock, seja como cantora ou líder de banda, mas busca entender a estrutura de sentimento que possibilitou uma abertura para novas possibilidade. Segundo a análise, Yoko surge como a representante da vanguarda, e os Beatles, do cenário pop. “Foi essa união da vanguarda com o pop, ocorrida nos anos sessenta, que possibilitou o que chamo de feminilização. Isso trouxe abertura a compreensões mais modernas, ao deixar de lado o conservadorismo e preconceitos que existiam. Dessa forma, a vanguarda abriu caminhos para novos sons e novas formas de cantar, compor e fazer arte.”

Segundo Paul Friedlander, autor do livro “Rock and roll: Uma história social”, que ajudou a embasar a pesquisa, o rock and roll dos anos 1950 é o formato clássico do gênero. Nesse período, o rock era o ritmo dançante da juventude de classe média e alta. Entre os destaques constavam nomes como Chuck Berry, Little Richard, Bill Haley, Elvis Presley e Jerry Lee Lewis, entre outros. Nos anos 1960, com a fusão do rock clássico com o rockabilly, o blues e o pop, somado com o revival folk, capitaneado por Bob Dylan, e à explosão dos Beatles, o rock and roll passaria a ser conhecido apenas como rock. E a aproximação com a contracultura jovem fez com que o rock não mais fosse uma música apenas para entreter ou dançar, e sim para ser escutada e fazer pensar.

“Os Beatles tiveram os dois processos. No início havia aquele estilo padrão de sonoridade, a postura dos seus integrantes, cabelos e termos iguais e outras características”, conta Vanessa. “Com o decorrer da trajetória da banda, eles também se transformaram, tanto na vestimenta quanto na criação de músicas experimentais, na forma de conceberem a música pop, nas visões políticas e em outras questões relacionadas à contracultura”, conta.

Milani diz que o rock sessentista, ainda que associado à contracultura jovem e aos movimentos políticos de esquerda, era orientado pela figura masculina, tanto por parte da indústria da música quanto das bandas. A masculinidade era reafirmada nas performances ao vivo, nas vestimentas, nas letras das canções que em boa parte tinham teor machista. Esses elementos evidenciam uma masculinização no rock, um fator contra a qual as mulheres teriam que lutar para se inserirem naquela cena musical. O processo paulatino de feminilização do gênero teria se iniciado na segunda metade da década de 1960, quando o rock alcançou o seu auge.

Este processo incluiu a explosão dos Beatles, o sucesso dos grandes festivais (Monterey, Woodstock, Newport Festival), a ascensão das bandas psicodélicas de São Francisco, a ascensão ideais da contracultura, o fortalecimento do movimento feminista e por fim a aproximação da multiartista de vanguarda Yoko Ono junto aos músicos britânicos.

“Durante o estudo, nota-se que a presença de Yoko é fundamental para a feminilização neste meio musical. A época em que ela se aproxima dos Beatles, após iniciar um relacionamento amoroso com John Lennon, em meados dos anos 1960 até quando o casal abandona suas carreiras artísticas para se dedicar à família, na metade dos anos 1970, é o período que compreende também o momento de ascensão e queda da contracultura, assim como o de consolidação do rock, tanto na indústria da música quanto entre os jovens”, diz a pesquisadora.

Escute a íntegra da entrevista ao Podcast Unesp.