Luis Eduardo Genaro tem apenas 22 anos e uma trajetória de superação. É recém-graduado em Odontologia pela Unesp em Araraquara. É o “filho dentista”, com muito orgulho, para os pais que não tiveram oportunidade de estudar. O trabalho na roça sustenta a família desde que o Luis, o caçula de três filhos, nasceu. Foi lá que ele iniciou sua primeira atividade remunerada para ajudar em casa. Incansável, com as mãos cheirando a laranja e marcado pelo sol forte de Borborema, cidade a 170 km da capital paulista, ele conseguiu mudar seu destino. Com o amor incondicional dos pais e irmãs, o apoio de professores da Escola Estadual Dom Gastão e a Política de Reserva de Vagas da Educação Básica Pública da Unesp, Luis ingressou, em 2016, no Ensino Superior em uma universidade pública.
Este é apenas o começo da história de Luis que, assim como muitos outros “Luises” estão a buscar uma transformação de vida não só para si mas para todos os familiares. E a encontram por meio da educação. Educação feita por pessoas, políticas públicas e institucionais, ensino, pesquisa e extensão. Uma educação humanizada que não faz distinção de classe, raça, gênero e sexualidade. Se a educação transforma vidas? O Luis não titubeia e afirma que sim. Para explicar o que está por trás dessa resposta, ele protagoniza a estreia da série de documentários “Caminhos: quando sonhos encontram a educação”, uma produção original da Unesp como parte de um projeto institucional que estreia neste Dia dos Professores.
“A Unesp tem uma característica que a distingue da maioria das outras universidades públicas: além da excelência em ensino, pesquisa e extensão, ela está presente fisicamente em 24 cidades diferentes. Essa distribuição geográfica gera um grande impacto social nas diversas regiões, transformando de maneira positiva a vida das pessoas. O projeto ‘Unesp Transforma Vidas’, em diferentes frentes, pretende mostrar os vários impactos que a educação tem na sociedade. A série Caminhos’ é uma delas e, neste primeiro vídeo, mostra a história emocionante do Luis. Esperamos que ela inspire os estudantes e estimule os governantes a investir cada vez mais na educação”, pontua o professor Marcelo Yamashita, idealizador do projeto junto com o professor José Paes, ambos da Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp.
A série “Caminhos”, por meio da história oral, visa resgatar a trajetória de unespianos e mostrar como a universidade é um elemento transformador do ponto de vista social, cultural e econômico. Além disso, destaca como o vínculo afetivo entre escola e família é fundamental para o êxito dos estudantes.
Histórias que se cruzam
São os caminhos percorridos e as pessoas que estão na caminhada de Luis que participam dessa narrativa audiovisual. Patrícia Garcia, vice-diretora da Faculdade de Odontologia da Unesp em Araraquara, foi orientadora dele durante a graduação, e garante que a política de cotas foi a porta de entrada para ele ingressasse na universidade aos 17 anos e não desistisse. Desde 2014, com a implementação da política de reserva de vagas, a Unesp oportuniza o acesso a egressos da rede pública, aliada a sua política de permanência estudantil com bolsas auxílio, alimentação e moradia. No último ano, das 7.725 vagas ofertadas no vestibular, 4.065 matrículas foram realizadas por estudantes ingressantes pelo sistema, o que representa mais de 52% das matrículas nos 136 cursos de graduação. Desses estudantes, mais de 77% foram contemplados com o programa de permanência estudantil.
Além dessas duas políticas institucionais, as oportunidades na pesquisa e seu financiamento por meio de agências de fomento, como a Fapesp e o CNPq, foram apresentadas ao Luis. O tripé universitário, formado pelas esferas de ensino, pesquisa e extensão, foi balizador para uma formação crítica e humanizada em relação ao paciente, na opinião dele. O estágio, que ele buscou desde o segundo ano da graduação, também o preparou para ser um profissional diferenciado e, assim, contribuir para que as pessoas possam dar um sorriso. Um dos sonhos que se concretizaram por meio da educação, como mostra o documentário.
A produção audiovisual
Permitam-me, caros leitores, a liberdade de escrever este trecho da reportagem em primeira pessoa. Acredito que aqueles que assistiram e ainda vão assistir ao vídeo, vão compreender o porquê. É impossível, mesmo com as técnicas de objetividade jornalística, não se emocionar com a história do Luis Eduardo Genaro. Filho de pobre faz, sim, faculdade, dona Ana Ruth. Seu filho dentista está aí para nos contar.
A narrativa da história de vida do Luis nos desafiou do ponto de vista da produção audiovisual e, é claro, nos desafia do ponto de vista humano. Enquanto egressa da graduação e da pós-graduação da Unesp, assim como meus colegas de produção, Bruno Jareta, Rene Lopez e André Turtelli Poles, nos deparamos com histórias como a do Luis e também abraçamos a causa da educação como direito de todos, como está explícito no Artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Em 2020, tive o primeiro contato com o Luis. Sua trajetória esteve em um dos textos publicados pelo portal da Unesp. Logo que me foi apresentado o projeto “Unesp Transforma Vidas” e recebi, em julho, o convite do professor Marcelo Yamashita para coordenar a produção, junto a uma indicação de personagem da Faculdade de Odontologia, sugerido pela professora Adriana Marcoantonio, assessora da vice-reitoria, o nome do Luis soou familiar.
Nosso primeiro contato, ainda remoto, foi no dia 25 de agosto de 2021. Em menos de um mês, no dia 23 de setembro, estava lá imersa no seu dia a dia, entre Borborema e Araraquara, atenta aos protocolos sanitários de prevenção à Covid para garantir a segurança dos entrevistados e da equipe técnica. Foi um dia até exaustivo de gravações, para as quais se juntou à equipe o produtor audiovisual Conrado Dacax, que havia sido bolsista em um projeto que coordenei na TV Unesp, onde atuo há 12 anos. Mas, ao final do dia, o conforto era que tínhamos uma história que precisava ser escancarada a todos que acreditam no poder transformador da educação.
Antes, porém, dessa data, a equipe aqui mencionada trabalhou no roteiro e na concepção do nome e da identidade visual da série. Chegamos ao título “Caminhos: quando sonhos encontram a educação”. E convidamos João Carlos Almeida, graduando do curso de Música do Instituto de Artes, para também assinar a trilha sonora da série. Afinal, ele também é um unespiano que terá sua própria narrativa em “Caminhos” (alerta de spoiler). Voltando ao Luis, posteriormente à gravação, de quase 10 horas, o desafio foi “resumir” a trajetória da Educação Básica ao Ensino Superior em um vídeo de 17 minutos. Nosso objetivo foi trazer o Luis filho, namorado e amigo que também se revela no estudante e profissional. O resultado é este que estreia hoje.
Outros caminhos até poderiam ter sido escolhidos. Este, porém, é o nosso caminho diante de uma história de como a educação fomenta sonhos e ajuda a concretizá-los. Espero que, neste Dia dos Professores, em meio a tempos sombrios, este documentário seja o esperançar, como dizia Paulo Freire, a quem também presto homenagem neste texto no ano de seu centenário. Que outros “Luises” venham trazer luz à educação e ao nosso compromisso ético, crítico e humano de universidade pública.