José Paes de Almeida Nogueira Pinto
Maio sempre foi um mês marcante para mim: dias ensolarados e abertos, com um céu muito azul, “céu de brigadeiro”, como diria meu pai. Mês de um friozinho gostoso, com noites estreladas, sempre especiais em Botucatu. Mês de família reunida no Dia das Mães, de aniversário de minha escola, o querido e inesquecível IECA (Instituto de Educação “Cardoso de Almeida”), em que estudei do pré-primário ao terceiro colegial. Enfim, maio sempre foi um mês aguardado, prenúncio de boas coisas.
E foi justamente em um 16 de maio, data de aniversário do IECA, que houve outro acontecimento que se fez marcante, agora não somente para mim, mas para todos os botucatuenses, de nascimento e coração, para o Brasil, na verdade: a vacinação em massa da população da cidade contra a Covid-19.
Ao sair à rua no domingo, já dava para sentir um clima diferente: pessoas felizes, com um sorriso na face e brilho nos olhos. Brilho de esperança, sentimento raríssimo no Brasil nos dias de hoje.
Não ao negacionismo
Domingo foi dia de reafirmar a importância da ciência como ferramenta fundamental no combate à pandemia. Domingo foi dia de reconhecer o papel das universidades públicas – especialmente da Unesp no presente caso – na elaboração de projetos de importância vital para nossa sociedade.
Domingo foi dia de reconhecer que somente o SUS (nosso Sistema Único de Saúde, universal, constitucionalmente instituído para todos os brasileiros) e o poder público seriam capazes de planejar em poucos dias e executar, com sucesso, uma campanha de vacinação capaz de imunizar cerca de 67 mil pessoas em dez horas de um só dia.
Domingo foi dia de dizer “não” ao negacionismo, de falar “basta” às fake news que iludem e confundem pessoas que, ansiosas e desesperadas, são estimuladas a buscar soluções baseadas em tratamentos sem nenhuma comprovação científica.
Dia de constatar
Domingo foi o dia de reconhecer que não somente é possível, mas também é fundamental e necessário o trabalho conjunto de diferentes atores, poder público, universidades, iniciativa privada, Terceiro Setor, para resolução de problemas que afetam a população.
Domingo foi dia de constatar como as coisas poderiam ter sido diferentes se a pandemia não tivesse sido negligenciada, se o negacionismo não tivesse sido a tônica de quem deveria ter dado o exemplo, se medidas comprovadamente eficazes contra a propagação do vírus, tais como distanciamento social e uso de máscaras, não tivessem sido motivo de desdenha e ridicularização.
Não tenho nenhuma dúvida de que a população teria se engajado de forma mais consistente na luta contra a Covid-19 se tivesse sido orientada e conscientizada das medidas corretas de combate ao vírus, em um discurso único das esferas municipais, estaduais e federais. E teria respondido ao desafio, assim como o fez no domingo passado.
Vai passar!
Foi emocionante ver a participação voluntária das pessoas na campanha. Assistentes sociais, auxiliares administrativos, auxiliares e técnicos de enfermagem, auxiliares de serviços gerais, dentistas, médicos veterinários, educadores em saúde, enfermeiros, farmacêuticos, médicos, motoristas, psicólogos, terapeutas ocupacionais, todos eles desenvolvendo um trabalho voluntário, em resposta a uma solicitação da prefeitura municipal.
Enfim, tudo poderia ter sido tão diferente nesse período pandêmico. Tanta dor e sofrimento poderiam ter sido amenizados.
Mas, basta! Domingo foi o dia do resgate. Da esperança, do acreditar. De saber que é possível virar o jogo.
Que a vacina e esses sentimentos possam chegar a todos, que a felicidade e a esperança que nos tomaram de forma avassaladora em Botucatu também possam ser sentidos por todos os brasileiros, pois deles é direito!
Vai passar!
José Paes de Almeida Nogueira Pinto é professor do Departamento de Produção Animal e Medicina Veterinária Preventiva, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp, câmpus de Botucatu. É assessor da Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp
Na imagem acima, a vacinação em massa de Botucatu no dia 16 se estendeu até as primeiras horas da noite. Foto: Wellington Alves