“Em busca de um caminho livre / Não deixe nada atrapalhar / Há sempre pedras no caminho / Não deixe isso te parar / Assim vive o poeta / Ele está sempre sonhando / É um sonho acordado / Desespero de viver”. O trecho citado faz parte da canção “Vida de Poeta”, composição do gaitista, cantor e compositor Sérgio Duarte. E foi justamente seguindo este mote que o músico se tornou uma das principais referências do blues feito no Brasil.
Com mais de 30 anos de estrada musical, Sérgio Duarte tem a gaita e a alquimia do blues como grandes diferenciais artísticos. Nesse jornada, lançou um número expressivo de obras em cd, e também construiu um legado na forma de vídeo-aulas. Em paralelo, viveu e e testemunhou inúmeras histórias incríveis que fazem parte da caminho de quem realmente respira esse gênero musical tão fascinante.
Nascido no bairro da Mooca, São Paulo, Sérgio começou a tocar na adolescência e o processo de aprendizagem, aprimoramento e o amor pela arte ocorreram de forma natural. Em sua família não havia músicos. Sua iniciação musical foi por meio do rock e do heavy metal, e teve como combustível eventos inspiradores como o primeiro Rock in Rio, em 1985. Por volta dos 14 anos de idade, comprou um contrabaixo e montou uma bandinha chamada “Azul Beterraba”. Em seguida começou a descobrir mais do rock inglês, através de bandas como o The Yardbirds, e, posteriormente, o bluesmen gaitista norte-americano Sonny Boy Williamson. “Nessa época eu ouvia o som da gaita e ficava fascinado. Pensava que eram aquelas gaitas grandes, com botão e tal. Aí fui atrás de material, mas era muito escasso. Havia um cara na Galeria do Rock, em São Paulo, que gravava fitas K7 só de blues. Desse jeito, pude conhecer e escutar muitos artistas. Entretanto, a grande virada foi quando eu viajei para uma cidade de Minas Gerais e fui visitar uma caverna. Lá encontrei um hippie tocando uma gaita de blues. Era uma Hohner importada, que ele tinha adquirido em suas viagens internacionais. Ali eu descobri que a gaita era o meu caminho, que eu queria fazer aquele tipo de som”, diz .
Ele voltou para sua São Paulo natal e constatou que não poderia adquirir um instrumento igual ao do hippie que lhe encantou. “não tinha como comprar um instrumento importado, levaria muito tempo para chegar. Então comprei uma gaita Hering Super 20 e comecei a me virar”, lembra. Tempos depois, seu pai, que viajava bastante a trabalho, trouxe de uma dessas viagens uma gaita importada além de métodos para aprender a tocar. “Comecei a estudar e traduzir esse material para criar uma técnica de estudo por aqui. Foi muito trabalhoso, mas foi primordial na minha carreira”.
Sérgio Duarte profissionalizou-se na década de 1980. Ele integrou a banda Tomate Inglês e com o tempo começou a ser reconhecido como um dos pioneiros da gaita blues no Brasil, inclusive no ensino do gênero no país. O reconhecimento se consolidou em 2000, após o lançamento do seu primeiro disco solo pela gravadora Eldorado. “Sérgio Duarte Entidade Joe Vol. 1”, que ele gravou com sua banda, é até hoje um trabalho celebrado, que mostra todo o virtuosismo e a técnica que ele adquiriu junto a grandes mestres do blues norte-americano como James Cotton,Willian Clarke e Sugar Blue, durante as viagens que realizou pelos EUA atrás do aprendizado e da cultura da gaita no blues. Primeiro cd gravado por um gaitista paulista, o álbum traz solos e canções históricas que influenciaram toda uma nova geração de gaitistas e até hoje é reputado como um dos melhores trabalhos de blues em português.
Acompanhado de sua banda, o gaitista é muito atuante tocando ao vivo na cena e marcando presença nos grandes festivais de Blues do Brasil e América Latina como, Guaramiranga Jazz Festival CE, Rio das Ostras Internacional Festival RJ , Sesc Jazz in Blues Internacional Festival e Harmônicas de Fuego (Chile). Ele também desfruta do status de ser endorser e patrocinado pela Hohner, uma das mais conhecidas fabricantes de gaita no mundo.
Sérgio Duarte estabeleceu parcerias com grandes artistas e bandas da cena nacional e mundial. Um deles foi o cantor Nasi ( Ira! ), com quem tocou por mais de 10 anos na sua banda paralela “Nasi & os Irmãos do Blues”, tendo inclusive gravado no álbum IRA 7 e tocado na turnê subsequente. Também foi parceiro do conceituado guitarrista Faiska Borges, colaborando no seu álbum “Bends” e participando, junto com ele, do Programa do Jô e de apresentações e entrevistas em diversos veículos de mídia. O cantor e compositor Zeca Baleiro convidou-o a participar de seus shows, misturando seu trabalho a temas de blues, como aconteceu no Festival Internacional de Jazz & Blues de Paraty, o Paraty Bourbon Fest. Glória das glórias, fez a abertura de um show de Buddy Guy em São Paulo a pedido do próprio guitarrista americano, lenda do Blues mundial. Isso para citar apenas algumas parcerias e colaborações notáveis.
As canções de seus quatro álbuns solo já estão disponíveis nas plataformas digitais, e ele está finalizando a produção de um quinto, que será lançado ainda em 2023. Empunhando sua gaita, Sérgio Duarte sem dúvida já se mesclou à essência do blues feito no Brasil.
Clique abaixo e ouça a íntegra da entrevista com Sérgio Duarte.
Foto: divulgação.