Guilherme Paladino, Heytor Campezzi
Engrenagens centrais do Plano Estratégico de Internacionalização e inseridas no contexto do projeto Capes-PrInt, o Programa Institucional de Internacionalização promovido pela Capes, as sete Alianças Globais de Pesquisa consolidadas na Unesp estão imprimindo uma nova dinâmica às relações da Universidade com instituições estrangeiras de ensino e pesquisa, e aprofundando ações coordenadas na fronteira do conhecimento científico.
Iniciadas há pouco mais de um ano, as Alianças Globais de Pesquisa (AGPs) já viabilizaram parcerias com 26 instituições estrangeiras de 13 países, distribuídos pelos cinco continentes, e se tornaram atualmente o principal mecanismo institucional para o avanço da internacionalização. Na prática, funcionam como uma espécie de base para a cooperação internacional, por meio da qual instituições que possuem áreas de interesse que dialogam entre si podem contribuir uma ao trabalho da outra, promovendo a mobilidade de docentes e estudantes e desenvolvendo pesquisas em colaboração.
A principal diferença entre as AGPs e outras estratégias consolidadas de articulação entre cientistas mundo afora, como as Redes de Pesquisa Internacionais (RPIs), que também integram o Capes-PrInt Unesp, está na abordagem que norteia a cooperação científica. No caso das RPIs, as parcerias são consolidadas pelos próprios pesquisadores. Essa dependência maior do estabelecimento de relações particulares torna mais difícil a elaboração de estratégias institucionais centralizadas. As AGPs, por outro lado, nascem estruturadas por instâncias da administração central, formalizando conexões de universidade para universidade. Neste modelo, os docentes e pesquisadores preservam a possibilidade de sugerir parcerias com pares internacionais, mas a viabilidade das iniciativas é avaliada sob uma perspectiva mais ampla, até para evitar que haja redundância nos estudos.
Essa mudança estratégica, de acordo com o professor José Celso Freire Junior, assessor-chefe da Assessoria de Relações Externas da Unesp (Arex) e docente da Faculdade de Engenharia do campus de Guaratinguetá (FEG-Unesp), ocorre para aprimorar a articulação de parcerias que favoreçam os interesses da Universidade: “Vamos supor que a Unesp queira incrementar as pesquisas em ‘Agricultura 4.0’, dado que o grosso da nossa publicação científica está na área de Agronomia e, dentro dessa área, o que está acontecendo no mundo é a Agricultura 4.0. Desta forma, enquanto instituição, entendemos que devemos buscar parceiros que nos auxiliem nesse novo passo. Então, fazemos contatos e concretizamos alianças com parceiros identificados”, afirma.
As sete Alianças Globais de Pesquisa consolidadas na Unesp foram estruturadas nos seguintes campos: “Bioeconomia”, “Agricultura Sustentável Inteligente”, “Alimentação de Qualidade”, “Impactos da Tecnologia e Trabalho”, “Saúde Única”, “Abordagem Multidisciplinar da Biodiversidade Tropical” e “Materiais para o Futuro”.
Todas as alianças foram projetadas focando ao menos um dos sete temas globais que balizaram o Plano Estratégico de Internacionalização da Unesp e a proposta contemplada no Capes PrInt. São eles: Sociedades Plurais, Desenvolvimento Sustentável, Bioeconomia, Saúde e Bem-Estar, Materiais e Tecnologias, Biodiversidade e Mudanças Climáticas e Ciência Básica na Fronteira do Conhecimento. Os temas globais de pesquisa definidos pela Unesp têm como base as diretrizes definidas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).
“A Reitoria, a Pró-Reitoria de Pós-Graduação e a Assessoria de Relações Externas identificaram parceiros potenciais por diferentes razões e, então, trabalharam com os docentes para construir esses grupos”, diz José Celso Freire Junior, que está há mais de uma década na gestão da Assessoria de Relações Externas da Unesp.
Surgimento de Alianças veio por convites
A ideia de formar Alianças Globais de Pesquisa próprias da Unesp surgiu após um convite de duas universidades estrangeiras, a alemã Universidade Técnica de Munique (TUM) e a australiana Universidade de Queensland (UQ), para que a Unesp integrasse uma Aliança Global em Bioeconomia. Este modelo de parceria, formalizado por meio de um acordo trilateral assinado em junho de 2018, chamou a atenção do assessor-chefe da Arex, que sugeriu sua adoção, de forma institucional, pela Unesp.
Desde 2017, a Universidade já estudava formas de aprimorar as articulações de parcerias com instituições estrangeiras e consolidar o processo de internacionalização, que vinha acontecendo há anos, porém de forma descentralizada. Após estudos e deliberações internas, a sugestão foi acatada e, em maio de 2020, foi aberto um edital para a criação das primeiras Alianças Globais de Pesquisa da Unesp, dentro dos sete temas globais de pesquisa previamente definidos. Os pesquisadores envolvidos tomaram ciência, de antemão, que trabalhariam com parceiros internacionais estratégicos da Unesp. Com as aprovações das propostas no edital, sete AGPs deram início às suas atividades, mesmo com as limitações para viagens impostas pelo contexto da pandemia.
Impactos iniciais
Além das interações entre pesquisadores, os vínculos institucionais das universidades participantes foram estreitados, como conta o assessor-chefe da Arex José Celso Freire Junior. “Fizemos reuniões com vice-reitores de cada uma das instituições que fazem parte das AGPs. Os encontros tiveram cunho institucional e o objetivo era justamente fazer com que os representantes das outras universidades nos conhecessem para que criássemos uma ligação que vá além do contato entre professores e pesquisadores.”
A Unesp esteve representada nos encontros pela vice-reitora Maysa Furlan, pela pró-reitora de pós-graduação Maria Valnice Boldrin, pelo pró-reitor de pesquisa Edson Cocchieri Botelho, pelo próprio professor José Celso Freire Junior e pelos pesquisadores envolvidos nas alianças. As Pró-Reitorias de Pós-Graduação e Pesquisa são responsáveis por coordenar, em conjunto com a Arex, a estratégia das Alianças Globais de Pesquisa.
“Quando se analisam conjuntos de publicações científicas em ferramentas profissionais de análise de dados acadêmicos, evidencia-se uma tendência muito nítida: a presença de pesquisadores internacionais em uma publicação gera maior visibilidade e maior impacto, com aumento no número de citações. Estes são indicadores sólidos para medirmos o nosso nível de excelência”, diz a professora Dulce Helena Siqueira Silva, assessora da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da Unesp que acompanha de perto as atividades desenvolvidas no âmbito do projeto Capes PrInt da Unesp.
A construção de vínculos sólidos com instituições do exterior representa um incremento para a formação de recursos humanos qualificados e o alcance de níveis de excelência nos Programas de Pós-Graduação (PPGs), e também repercute internamente de maneira bastante positiva em relação aos trabalhos de pesquisas de unespianos de diferentes unidades, segundo o professor Edson Cocchieri Botelho, pró-reitor de pesquisa.
“A Unesp tem uma estrutura bastante complexa, com 34 unidades em 24 cidades. Ter um projeto em rede permite que trabalhemos com outros pesquisadores dos Programas de Pós-Graduação da Unesp envolvidos nas alianças, com os quais geralmente não tínhamos contato tão frequente. Nas reuniões, interagimos com agentes internacionais e locais. Então fortalecemos não só a internacionalização como também nossa união local”, diz o pró-reitor.
Apesar de o primeiro edital das AGPs prever o repasse de recursos do Capes-PrInt para apenas o primeiro ano de funcionamento, o intuito é que essa estratégia se mantenha de forma perene e que, a partir de seus resultados, angariem novos recursos de variadas fontes, tanto nacionais quanto internacionais, para financiá-la. “Estamos dando os passos iniciais. Almejamos que as alianças se tornem autossustentáveis com o tempo”, afirma o professor José Celso Freire Junior.
Imagem de abertura: metamorworks/iStock