Aos 78 anos, em tom otimista e ambicioso, Donald Trump tomou posse nesta última segunda-feira, 20/1, como o 47º presidente dos Estados Unidos, sucedendo ao democrata Joe Biden. A celebração do início do mandato do republicano levou centenas de apoiadores, políticos, embaixadores, líderes estrangeiros, celebridades e empresários norte-americanos ao Capitólio, sede do poder Legislativo, em Washington, DC. Ao lado do vice-presidente eleito, JD Vance, Trump fez o juramento para o cargo perante o chefe da Suprema Corte, John Roberts.
Durante seu primeiro discurso como novo presidente norte-americano, no qual falou do começo de “uma era de ouro”, sinalizou planos de “expandir o território” e confirmou uma série de decretos anti-imigração e protecionistas. Sua fala destacou, entre outros pontos a restauração de uma soberania perdida. “Seremos uma nação rica de novo. Seremos invejados por todo mundo e não permitiremos que ninguém se aproveite da gente”, afirmou o novo presidente que, entre os primeiros decretos assinados, oficializou a retirada dos EUA da Organização Mundial da Saúde (OMS), alegando má gestão da organização durante a pandemia da Covid-19.
Marcelo Fernandes de Oliveira, docente e especialista em relações internacionais do Departamento de Ciências e Políticas Econômicas do câmpus da Unesp em Marília, diz que o discurso apresentado por Donald Trump no seu retorno à Casa Branca gera, em um primeiro momento, tensões globais, inclusive entre aliados.
“De um modo geral, esse discurso de posse do Trump no seu segundo governo vai gerar uma série de problemas para o mundo todo. Até porque ele foi claro que vai buscar resgatar os Estados Unidos daquilo que ele considera uma situação ruim no atual momento. E para essa meia volta da ‘era dourada’, ao invés de serem engajados internacionalmente, assumindo custos pela liderança internacional, ele vai ter uma postura mais unilateral, onde os EUA vão utilizar o exercício bruto de poder contra inclusive aliados, para reconquistar a sua liderança global”, afirma o professor da Unesp.
Marcelo Fernandes chama a atenção para as declarações do novo presidente sobre soberania e segurança. “Ele disse que há uma emergência nacional nas fronteiras contra os imigrantes e que vai deportar milhões. Isso significa que ele vai ter posturas muito firmes ao redor dos próprios Estados Unidos, num tipo de uma nova doutrina Monroe. Essa é uma doutrina Trump e por isso faz sentido a retomada do Panamá e a reconfiguração do Golfo do México”, argumenta o professor. Neste sentido, o papel que os Estados Unidos assumiram depois de 1945, quando lideraram o mundo e geraram bem estar para o planeta e seus aliados, não existe mais. “Agora, serão os Estados Unidos primeiro e ponto final. E para isso nós vamos fazer tudo que está ao nosso alcance. Vamos reafirmar nossa soberania, a nossa segurança, a nossa exploração de energias fósseis e por aí vai. Do ponto de vista mais teórico, isso significa exercício de poder de maneira unilateral, na busca da afirmação dos seus interesses nacionais pelo mundo”, destaca.
Na perspectiva do docente do câmpus de Marília, essa orientação deve ter consequências importantes nas relações diplomáticas. “Os aliados de então, que se beneficiavam muito dessa política internacionalista norte-americana, principalmente os europeus, sobretudo Alemanha e França, mas também o Japão e a Coreia do Sul e outros países importantes hoje no mundo, como Emirados Árabes, que tem apoio do ponto de vista logístico, do ponto de segurança os Estados Unidos vão sofrer com isso. Os norte-americanos só vão investir recursos onde houver interesses imediatos. Então, na verdade, a proposta do Trump em relação a todos esses temas, do ponto de vista diplomático, é o redesenho da nova ordem internacional no século XXI, onde os Estados Unidos novamente vêm em primeiro lugar. O grave nisso tudo é que as potências na história das relações internacionais, elas nunca cedem o seu lugar, nunca cedem a hegemonia de maneira muito tranquila. Isso pode gerar radicalização e conflitos”, aponta.
Outra questão que gera expectativa sobre a administração Trump são as tarifas que ele promete impor na importação de produtos de determinados países, em especial da China. Para Marcelo Fernandes, ainda é cedo para avaliar a questão, uma vez que ainda não foram assinadas ordens executivas sobre o assunto. “Eu não creio que vai haver taxação de maneira indiscriminada. A administração norte-americana pode sim fazer taxações, mas de maneira específica, em temas específicos que vão gerar impacto naquilo que eles acreditam”, afirma o professor. Neste cenário, o docente explica que tais medidas podem inclusive ser benéficas para o Brasil.
No podcast, o especialista ainda discute os impactos da política para a imigração proposta pelo presidente, a saída dos EUA dos compromissos ambientais estabelecidos no Acordo de Paris, entre outros pontos que estiveram presentes nos primeiros discursos de Donald Trump como presidente dos EUA.
Ouça abaixo o depoimento completo do professor Marcelo Fernandes de Oliveira para o Podcast Unesp:
Na imagem acima: Presidente Donald Trump assina decreto retirando os EUA do Acordo de Paris e Anistiando os Presos Políticos (Crédito: GPO/ Fotos Públicas)