Professor da Unesp alerta para os sintomas desencadeados por bebidas contaminadas com metanol

Em entrevista à TV Unesp, farmacêutico-bioquímico explica os prejuízos à saúde ocasionados pelo consumo de diferentes dosagens e as circunstâncias em que a contaminação pode resultar em fatalidades.

O farmacêutico-bioquímico Alaor Aparecido Almeida, do Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox), do Instituto de Biociências do câmpus da Unesp de Botucatu, explicou, em entrevista concedida no dia 2 de outubro ao jornal “Unesp Notícias” da TV Unesp, que os efeitos da ingestão de bebidas alcoólicas contaminadas por metanol podem ser perceptíveis a partir de meia hora após o consumo. “Se for metanol mais puro, entre trinta minutos a algumas horas. O problema maior da associação entre etanol e metanol é que, como eles têm a mesma via de metabolismo, os efeitos podem ser retardados e começarem a aparecer a partir de 6 a 12 horas. Os sintomas principais são náusea, vômito e dor abdominal intensa por causa da ação tóxica do metanol sobre o pâncreas, que pode causar uma pancreatite”, afirma o professor.

O pesquisador explica que alterações no campo da visão tendem a aparecer a partir de uma dose de aproximadamente 10 gramas. “A imagem fica turva, em forma de campo de neve e, dependendo da quantidade, a contaminação causa cegueira. Também tem uma alteração importante no batimento cardíaco, que acelera, a pupila do olho dilata e a respiração fica mais rápida e mais superficial”.

Do ponto de vista metabólico, Alaor Almeida explica que a contaminação pode evoluir para uma insuficiência renal aguda e, neste caso, há necessidade de o paciente fazer hemodiálise. “Por causa do efeito no sistema nervoso central, o metanol causa também sonolência, dificuldade no andar, tontura, cefaléia intensa, convulsão e, a partir de 30ml de ingestão, pode levar ao coma e até a morte, com doses a partir de 100ml.

Quanto mais rápido for o atendimento, maiores são as chances de o paciente reverter os sintomas. De acordo com o professor do CIATox, exames de sangue e urina podem dimensionar a dose ingerida. “A quantidade de ingestão é um fator orientador para tratar a contaminação. A partir de 500mg por litro, já há indicação de hemodiálise, por exemplo. É preciso também manter o paciente em boa hidratação para que tenha um prognóstico melhor da evolução da intoxicação”, explica Almeida.

Exames específicos como eletrocardiograma, monitoramento do pH do sangue, prova de função renal e hepática são usados para acompanhar a recuperação.  “A maioria dos sintomas são reversíveis. O foco principal é reverter a toxicidade ocular”.

O medicamento indicado para o tratamento é o fomepizol, considerado essencial pela Organização Mundial de Saúde, porém sem estoque no Brasil. Ele age como um antagonista à ação do metanol. Quando não está disponível, o etanol é utilizado com essa finalidade, mas há efeitos adversos conforme explica o docente da Unesp. “Você entra com o etanol e mantém o indivíduo num quadro de embriaguez leve e moderada, o que pode trazer agravos na questão hepática e renal também, que precisarão ser acompanhados”, diz.

O Ministério da Saúde anunciou no dia 2 de outubro que estruturou um estoque estratégico em hospitais universitários federais e serviços do SUS com 4,3 mil ampolas de etanol farmacêutico e a compra emergencial de mais 150 mil ampolas. Quanto à compra do medicamento fomepizol, não disponível no Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária publicou chamada pública para identificar fornecedores internacionais do produto.

Alaor Aparecido Almeida também faz algumas ponderações sobre o consumo de bebidas alcoólicas neste momento. “De forma geral, é quase impossível perceber alteração, salvo em condições bem grosseiras, como coloração diferente. Por isso é bom evitar bebidas de procedência e lugares suspeitos e ingerir bebidas alcoólicas em pouca quantidade, intercaladas com água e sucos. Fiquem atentos a sintomas não comuns, aqueles que você não reconhece de outras vezes que ingeriu a bebida, e procurem atendimento imediatamente”, diz.

O último do Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) registra 59 casos de intoxicação por metanol, sendo 53 em São Paulo (11 confirmados e 42 em investigação), cinco em investigação em Pernambuco e um no Distrito Federal. Há ainda um óbito confirmado e sete em investigação.

A entrevista do professor Alaor Aparecido Almeida, do Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) da Unesp pode ser vista na íntegra, entre os minutos 6 e 20, no link abaixo.

Imagem acima: Deposit Photos