A arte natural de Mayra Aveliz

Ela trocou a pesquisa acadêmica pelos palcos, e vem se projetando como uma nova voz na cena de blues e soul do Brasil.

Nos últimos anos, a cantora Mayra Aveliz vem se projetando na cena de blues e soul do país, participando dos principais festivais e se tornando um nome conhecido, graças à sua voz diferenciada e a uma performance marcante nos palcos.

Natural de Belo Horizonte, começou a se interessar pelas artes desde a infância. E não apenas pela música. “Sempre gostei muito de arte em todos os sentidos. Desde aula de educação artística, de fazer macramê, desenhar, pintar, até o teatro na escola, me apresentar e tal. Ali eu já tinha sido picada pelo mosquitinho do palco”, diz. Foi em uma apresentação do teatro da escola que Aveliz subiu ao palco pela primeira vez, para cantar uma música de Geraldo Vandré. “Gostava muito de cantar, cantava para os meus amigos. Tinha um amigo que tocava violão, e ele teve a ideia de apresentar essa música. Ele me disse: ‘você é afinada, vamos fazer juntos’. Aí eu me animei! E, depois dessa apresentação, montamos juntos uma banda de pop rock. Foi essa fase de bandinha de garagem, apresentações nas festas dos amigos, na festa da escola”, lembra.

Mas a perspectiva de levar o canto de forma mais séria só veio mais tarde, e por razões de saúde mental. “Na verdade, só vim a me dedicar ao canto quando já estava no mestrado. Por volta dos meus 23 anos, vim para São Carlos cursar o mestrado em Ciências Ambientais na USP. Comecei a reconhecer que não estava feliz na carreira acadêmica há um tempo. Estava triste, sem saber o que fazer na vida, me sentindo pressionada emocionalmente. Pensei: ‘acho que preciso fazer terapia’. Quando passei em frente a uma escola de canto, falei: ‘acho que essa aqui vai ser a minha terapia’”, recorda.

Ao estudar música com regularidade, conseguiu reencontrar os momentos de alegria. E novas questões surgiram. “Até então, eu não pretendia viver de música. Mas, em seguida, conheci diversas pessoas que me incentivaram a seguir nesse caminho. Em especial, meu companheiro, o guitarrista Netto Rockfeller, com quem compartilho vida e trabalho há alguns anos. Quando percebi, já estava vislumbrando uma carreira musical, principalmente como cantora de soul e blues”, diz.

Ao longo de sua carreira, Mayra Aveliz integrou a banda de Soul Musadelic e o trio feminino de Country Clementines. Por diversas vezes apresentou-se no circuito SESC – SP e SESI – SP, além de ter se destacado em grandes festivais, como o Confra Ilha Blues, o Ibitipoca Blues Festival, o Carrancas Jazz & Blues Festival e o Blues na Montanha, entre outros.

“Após adentrar o universo da arte, o soul e o blues se tornaram meu Norte. Minha primeira referência como cantora foi Etta James, ainda que não possua um timbre parecido com o dela. O tipo de blues que ela cantava ia para um lado mais soul. E também tinha uma coisa mais livre, não era algo tão tradicional. Isso sempre me inspirou bastante. Claro que também gosto de muitas outras, como Beth Smith, Alberta Hunter, Aretha Franklin. E, obviamente, de nomes como B.B.King, Eric Clapton e Buddy Guy, e, no blues nacional, de Blues Etílicos e de outros que seguem nessa estrada”, diz.

Mayra lançou seu primeiro EP, GET IN, em setembro de 2022. O álbum trouxe seis faixas, das quais duas, My Dear e Gypsy Woman eram composições autorais. As gravações se iniciaram em 2020. Porém, a eclosão da pandemia, combinada com problemas técnicos, fizeram com que o projeto se atrasasse por anos.

“Esse trabalho envolveu muitas histórias, brinco que foi um parto. Fiquei desanimada com toda aquela situação de isolamento social, sem poder fazer shows e sem poder fazer o lançamento do disco. Para complicar, tivemos um problema no computador, não conseguimos fazer o backup e perdemos tudo que havíamos gravado. Foi desolador. Em meio a tudo isso, o Netto me empolgou para regravar tudo de novo. Os convidados compreenderam e toparam regravar. Enfim, foi um processo de reconstrução em vários sentidos, até conseguirmos lançar. E, apesar de tantos desafios, é um trabalho que me traz muita alegria, orgulho e senso de superação.”

Durante suas apresentações, Mayra Aveliz apresenta grandes clássicos do blues, do soul e do rock, de autoria de  expoentes como BB King, Jimmy Reed, Etta James, Alberta Hunter, Muddy Waters, Aretha Franklin e outros, além de suas composições autorais, todas “vestidas” pelo instrumental primoroso do guitarrista Netto Rockfeller e sua banda.

Atualmente, a cantora, que também é sócia-proprietária do estúdio e selo fonográfico Blue Crawfish Records, está arregimentando ideias, letras e canções para rechear seu segundo álbum.

“Gosto muito de escrever. A escrita sempre foi um refúgio para mim. Estou focada em um novo trabalho. Quem sabe para o final de 2025, ou para o ano que vem. Vou deixar as coisas fluírem de forma natural, escutando bastante soul, blues, e sem pressão”, diz.

Confira abaixo a entrevista completa no Podcast MPB Unesp.

Foto: divulgação.