Quem viveu nos anos 1980 e 1990 sabe bem o trabalho necessário para registrar sua seleção particular de músicas favoritas no suporte das fitas cassete. Em países de língua inglesa, essas coletâneas, muitas vezes de grande valor afetivo e concebidas sob medida para encantar alguém, eram chamadas de mix tapes. Esse nome terminou por se popularizar também no Brasil, porém só depois que as fitas cassete já tinham deixado de existir. Agora, inspirado no conceito das mixtapes, o cantor, compositor e músico Caio Bars lançou em julho passado o seu primeiro álbum solo, intitulado Corações Imaginários.
Natural de São Paulo, Caio ouvia muita música no ambiente familiar, por influência de seus pais. “A música sempre esteve presente na minha casa. Os meus pais gostavam de festa, gostavam de dançar, escutavam os LPs em casa. A minha relação com a música começou dessa convivência. Mas a vontade de tocar um instrumento partiu de mim mesmo. Comecei a tocar e cantar por volta dos 11 anos. Posteriormente, fui me interessando cada vez mais e me aprofundei na música”, lembra.
Caio Bars já compôs mais de 300 canções, e antes desse álbum lançou singles e outros trabalhos musicais. E sua carreira solo comporta trabalhos conceituais, como a Trilogia das Doses: Soltas Doses de Euforia (E Algumas Mentiras Brancas), de 2015, Novas Doses, de 2018 e Últimas Doses, de 2019. Além de artista, ele é radialista e sempre foi um grande pesquisador e entusiasta da música.
Durante oito anos, entre 2015 e 2023, Caio esteve à frente do programa de rádio Outra Frequência, que passou pelas rádios USP FM e Brasil Atual. Nesse período, passou a investigar os modos de escuta das pessoas que ainda ligam seus rádios para ouvir música. Surgiu daí a inspiração para fazer de seu disco de estreia um espaço que possibilitasse uma experiência de consumo de música em moldes semelhantes ao formato analógico das fitas cassetes, porém adaptado à realidade das plataformas digitais.
O álbum foi disponibilizado nas plataformas digitais no formato de duas faixas, intituladas Lado A e Lado B, cada uma apresentando seis canções diferentes, que tocam uma na sequência da outra. Agora, cada música está sendo disponibilizada individualmente. Posteriormente, todas serão lançadas em vinil no formato convencional (com as 12 músicas separadas uma a uma).
“A vida do músico autoral é árdua. Você tem que batalhar diariamente para produzir seu som e levá-lo de alguma forma ao público”, diz. Ele conta que, antes da gravação do trabalho, havia enfrentado um período desgastante, inclusive do ponto de vista emocional, devido às inseguranças financeiras e pessoais ligadas ao trabalho artístico.
“Acho importante falar isso, pois os músicos independentes são profissionais que trabalham 24X7 e precisam ser valorizados. Pensei em elaborar um álbum mais leve, sem pressa para produzir, gravar e lançar”, diz. Optou por um esquema de trabalho com menos pressão, que lhe permitisse focar seu novo momento de vida como esposo, pai e artista, “criando sem a necessidade do retorno imediato, o que é algo muito difícil. Aos poucos fui escolhendo as músicas. Às vezes, ficava criando tranquilamente no estúdio e dessa forma mais leve fui produzindo Corações Imaginários“, relata.
O álbum Corações Imaginários é, acima de tudo, uma homenagem ao rádio. Outros radialistas contribuíram com participações especiais na forma de vinhetas que costuram cada um dos dois lados do “disco”. Caio também fez questão de incluir na sonoplastia do disco ruídos típicos de mudança de dial, dando aquele toque de “frequência sintonizada” que só o rádio é capaz de produzir.
“Não me lembro de outro trabalho com formato similar a este. É um álbum que recupera a nostalgia do modo analógico de tocar e curtir música, algo que fez parte da minha formação de músico, e também de fã”, conta.
Confira abaixo a entrevista completa no Podcast MPB Unesp.