O estado atual da Agenda 2030 e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável é o tema da nova edição do Prato do Dia, podcast da Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp.
Criada em 2015 por iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU), a Agenda 2030 é um programa internacional que estabelece ambiciosos objetivos internacionais, como a extinção da fome, a superação da pobreza e do subdesenvolvimento e a construção de uma economia sustentável. Para coordenar os esforços internacionais nesta direção, a Agenda 2030 elenca 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que servem como referências para um esforço global para guiar a humanidade na construção de uma sociedade global mais justa, sustentável e com maior qualidade de vida.
A Agenda 2030 e os ODS foram propostos após três anos de negociações entre 193 países, especialistas e organizações da sociedade civil, e representam uma continuidade aos esforços dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), que promoveram avanços importantes no globo entre 2000 e 2015. As metas estipuladas pelos ODS abarcam as esferas social, econômica e ambiental, tanto em escala local quanto global, e estipulam o ano de 2030 como a data final para sua consecução.
Por isso, a partir de 2025, o projeto entra em seu quinquênio final. No entanto, diversas avaliações apontam que tais objetivos estão ainda distantes, e que, em certas áreas, as condições globais apresentam uma piora em relação ao estado de coisas em 2015, quando o projeto dos ODS foi concebido.
No Brasil, o Relatório Luz, elaborado pelo GT da sociedade civil, aponta uma regressão significativa em áreas relativas a diversos ODS, agravada pela pandemia e por fatores políticos. Na América Latina, apenas 25% das metas têm previsão de cumprimento até a data limite, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). Esses dados refletem que os desafios enfrentados pelo país não são uma exceção, e sim parte de um problema global. Especialistas atribuem o desempenho insatisfatório à falta de um plano de ação claro da ONU.
Para falar sobre o projeto da Agenda 2030, o novo episódio do podcast Prato do Dia recebe a pesquisadora e professora Raquel Cabral, da Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design (FAAC) e coordenadora do curso de Relações Públicas e da Rede Temática de Extensão Unesp Agenda 2030.
Na conversa, Raquel explica a metodologia que está por trás do amplo alcance do programa da Agenda 2030, que desdobra os 17 objetivos primários em 169 metas e 241 indicadores. “É fundamental entender que os objetivos não são isolados, eles estão interconectados. Ou seja, é necessário pensar no avanço deles a partir de sua integração”, diz.
Ela reconhece que o avanço alcançado até aqui não permite considerar que os objetivos serão alcançados efetivamente até 2030, o que é evidenciado por certas avaliações de que 75% das metas correm o risco de não serem cumpridas. “Para este novo momento da Agenda, precisamos repensar os conceitos de soberania nacional e de fronteiras, pois a solução para os problemas passa por articulações globais para respostas efetivas”, diz.
A agenda no Brasil
A pandemia de COVID-19 também dificultou o avanço dos ODS ao agravar as desigualdades sociais e econômicas em escala global, dificultando a implementação dos ODS. No Brasil, os retrocessos refletem não apenas a crise sanitária, mas também um contexto político desfavorável durante o último governo. Dados do World Inequality Lab, divulgados em 2022, indicam que, enquanto o PIB da maioria dos países sofreu retração, as fortunas dos bilionários aumentaram em 3,7 trilhões, valor equivalente ao orçamento global em saúde. No contexto brasileiro os 10% mais ricos detém 59% da renda nacional, uma concentração superior à média global, contribuindo para o aumento da pobreza.
Raquel sustenta que, ainda que não se alcancem plenamente todas as metas no prazo estipulado, a Agenda 2030 já cumpre um papel importante e benéfico ao estimular o progresso das nações. Um exemplo destes benefícios é o recente episódio que resultou na criação de um ODS 18, referente à igualdade racial étnico-social, no Brasil.
Essa proposta surgiu pela primeira vez em um documento publicado em 2020, intitulado “Guia Agenda 2030 Integrando ODS, Educação e Sociedade”, desenvolvido pela Unesp e pela Universidade de Brasília. “Um dos papéis mais importantes das instituições, principalmente universidades, é traduzir diretrizes globais para a opinião pública de forma acessível, para que as pessoas compreendam que a Agenda 2030 não é uma discussão política internacional distante delas, mas que afeta a vida cotidiana”, diz Raquel.
Mesmo com as limitações que estão surgindo no processo de implementação dos ODS, tais avanços concretos mostram que o potencial transformador da Agenda 2030 não deve ser subestimado. “O maior desafio da Agenda 2030 é mudar a cultura do consumismo em todos os níveis para uma baseada na sustentabilidade e no reconhecimento de que somos parte integrante da natureza e dos ecossistemas planetários”, diz Raquel Cabral. “Ou nos salvamos juntos ou não sobrará ninguém”.
Para ouvir as reflexões completas da pesquisadora sobre o futuro da Agenda 2030, ouça o episódio no player abaixo ou procure pelo podcast “Prato do Dia” na sua plataforma de streaming favorita.