Pesquisadores da Unesp identificam nova espécie da anêmona-do-mar em Ubatuba

Com base na descoberta, estudiosos estão defendendo a existência de toda uma nova família no sistema de classificação das anêmonas. Descoberta foi incluída no World Register of Marine Species, catálogo global da fauna e da flora marinha.

As anêmonas-do-mar são um grupo fascinante de animais marinhos invertebrados. Sua rica diversidade de cores é um elemento de beleza nos ambientes marinhos e o seu nome remete às anêmonas, um gênero de flores muito comum nas regiões temperadas e subtropicais do planeta.  Agora, uma pesquisa de doutorado realizada no programa de Pós-Graduação Interunidades em Biociências da Unesp identificou, em uma baía de Ubatuba, no litoral norte paulista, uma nova espécie de anêmona-do-mar, a Antholoba fabiani. As análises mostraram que a espécie corresponde, na verdade, a toda uma nova família, denominada Antholobidae. A descoberta foi publicada em artigo na revista científica Marine Biodiversity.

O artigo foi assinado pelo doutorando Jeferson Alexis Durán Fuentes, por seu orientador de doutorado, o biólogo Sérgio Nascimento Stampar, do Departamento de Ciências Biológicas da Faculdade de Ciências da Unesp, campus de Bauru, e pelos pesquisadores Ricardo González Muñoz, da Universidade Nacional de Mar del Plata, da Argentina, e Marymegan Daly, da Ohio State University, dos Estados Unidos.

O nome da nova espécie, Antholoba fabiani, homenageia Fabián Acuña, docente da Universidade Nacional de Mar del Plata e um dos principais estudiosos de anêmonas-do-mar no Atlântico Sul. Essa foi a primeira espécie pertencente ao gênero Antholoba descrita na região desde o século 19, quando foram descritas as espécies Antholoba achates e a Antholoba perdix.

Imagens do Antholoba fabiani sp. Acima, da esq. para a dir.: espécime  com o disco oral aberto, parcialmente fechado e fechado. Embaixo: esq. para dir.: visão de cima e de baixo.

Stampar diz que a descoberta começou a tomar forma em idas a campo em Ubatuba que eram um dos requisitos de uma disciplina de graduação. De volta ao Laboratório de Evolução e Diversidade Aquática (LEDALab), da Faculdade de Ciências, o material coletado foi comparado a espécimes coletados anos atrás, no litoral de Santa Catarina. As diferenças morfológicas identificadas pelo exercício de comparação chamaram a atenção dos pesquisadores. “Quando fizemos a comparação com os espécimes colhidos anos atrás, em Santa Catarina, vimos a possibilidade de o material coletado em Ubatuba não pertencesse à mesma espécie. Formulamos então a hipótese de que poderia ser uma espécie nova mesmo, e que estaria relacionada a um gênero pequeno, que só possui duas espécies descritas”, diz o docente.

Para avaliar com mais critério essa hipótese, foram conduzidas análises moleculares do material, que envolveram  os pesquisadores da Universidade Nacional de Mar del Plata e da Ohio State University. “Os dados moleculares demonstraram que se tratava não apenas de uma espécie nova, mas sim de uma família nova, nunca estudada previamente, e completamente separada das demais famílias”, diz Stampar. Os achados já foram incluídos na plataforma World Register of Marine Species, um catálogo de todos os animais e plantas marinhos do mundo.  

No aspecto morfológico, a nova espécie apresenta arranjos diferentes nos mesentérios, que são membranas que sustentam a forma do animal. Este aspecto a diferencia de outra espécie já localizada na costa do Atlântico. A Antholoba fabiani possui 199 pares de mesentérios divididos em sete ciclos, enquanto Antholoba achates e pedix têm 96 pares separados em cinco ciclos. A análise molecular só aprofundou as diferenças morfológicas e confirmou o que vem ocorrendo com uma certa frequência no campo da taxonomia com o avanço da tecnologia: espécies existentes no Hemisfério Sul, que antes eram descritas basicamente por aproximação com holótipos descobertos no norte, agora ganham uma classificação mais detalhada e adequada.

“Quando começamos a produzir e analisar os dados moleculares, vimos que, no aspecto evolutivo, os animais coletados não coincidiam com os grupos em que poderiam ser tradicionalmente classificados, que correspondem a famílias de espécies que vivem em águas profundas”, diz Stampar. “ Percebemos que eles ser colocados junto às espécies de água rasa. Aparentemente, por algum motivo, algumas espécies conseguem chegar em águas um pouco mais profundas, mas de fato são espécies que podem ocorrer em água rasa.”

Imagem acima: Jeferson Duran Fuentes.