Cantora, compositora, instrumentista e produtora, a carioca Olivia Byington é conhecida por sua ampla extensão vocal e sua imagem cool e elegante, reflexo também de sua produção. Olivia Maria Lustosa Byington nasceu no Rio de Janeiro em 24 de dezembro de 1958, em uma família que adorava música e artes.
“A família da minha mãe era extremamente musical, embora não houvesse profissionais. Porém, por parte por parte da minha avó e da minha mãe, havia muita exigência sobre os filhos talentosos, muita pressão para sermos os melhores. Isso nos frustrava e fazia com que perdêssemos o interesse”, diz. Em casa, escutavam música clássica, bossa nova, samba e outros gêneros. Ela começou a cantar em brincadeiras com a mãe e as irmãs. A mãe enxergou seu potencial vocal. Já o pai, o psicanalista Carlos Byington, via a música na família como um hobby. “Até que, um dia, foi me assistir num teatro lotado. Ali acho que ele começou a perceber minha relação com a música. Então não era uma família de artistas, mas com pessoas com grandes vocações artísticas”, diz.
Por volta dos 15 anos começou a cantar jingles na Aquarius, empresa que pertencia aos irmãos compositores Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle. Em paralelo, estudou violão, violino e teoria musical. Em 1978 saiu seu primeiro disco, Corra o Risco, com participação da banda A Barca do Sol. A canção Lady Jane, composta por Nando e Geraldo Carneiro, foi hit nas rádios FM. À época, Olivia foi saudada por críticos como a melhor cantora de sua geração.
“Apesar de ouvir coisas variadas, eu era roqueira. Adorava Rita Lee. Nessa época, eu conhecia o Jaquinho (Jaques Morelenbaum), a gente morava no mesmo bairro. Certa vez, estávamos numa festa, ele estava tocando piano e eu comecei a cantar. Aí passamos a noite cantando. Ele gostou da minha voz e me convidou para cantar na Barca do Sol, que já existia”, conta.
“Foi um privilégio, estava acompanhada de excelentes músicos e compositores. Não era fácil, praticamente não existiam mulheres cantoras. Ainda mais no rock. O universo musical era dominado por homens, havia machismo, preconceitos em relação às mulheres” diz. “Porém, sempre me posicionei, opinava, me colocava dentro desse contexto para buscar meu espaço. Nesse caminhar, gravei meu primeiro disco Corra o Risco, pela Continental. Tenho muito orgulho desse disco.” Desde 1978, já gravou mais de uma dezena de álbuns.
Um dos pontos memoráveis de sua carreira foi a participação no Festival de Varadero, em Cuba, ao lado de Chico Buarque e de outros músicos. Posteriormente, voltou à ilha do Caribe a convite por Silvio Rodriguez, para gravar o disco Identidad para o selo EGREM.
“Essa viagem contou com vários artistas, como Chico, João do Vale, Nara Leão. Foi lá que conheci e me tornei amiga da Nara. Me apresentei com o violonista Eduardo Simões, e cantei a Cantilena da Bachiana 5, de Villa Lobos. Na verdade, eu fui jogada às feras. Era um festival grande. Entrei ao palco logo após o Jimmy Cliff, o público estava muito inquieto ainda. Pedi silêncio ao público para que pudessem ouvir uma das canções mais bonitas feitas no Brasil. Aquilo foi para a televisão em Cuba, muita gente viu. As pessoas me reconheciam nas ruas, e tudo o mais. Depois conheci o Silvio Rodriguez e me encantei pela música dele. Após essa aproximação, ele pediu ao Ministério da Cultura para gravar um disco lá e eu fui convidada a participar. Eu era contratada da gravadora Som Livre. Tive que pedir autorização ao [ dono da gravadora, o jornalista] Roberto Marinho”, diz.
Outro destaque foi uma apresentação ao lado de Tom Jobim, e de uma orquestra, regida por Radamés Gnatalli, na Sala Cecília Meirelles, quando o compositor recebeu o prêmio Shell de Música Brasileira. E com o pianista João Carlos Assis Brasil gravou um disco baseado num recital de piano e voz, apresentando um repertório virtuosístico entre o erudito e o popular.
Seu CD A Dama do Encantado, um tributo à Aracy de Almeida e produzido por Maurício Carrilho, foi sucesso de público e crítica em 1997. “A Aracy de Almeida sempre foi uma figura que me intrigou, porque aparecia como uma pessoa durona. Mas, depois de ouvir suas gravações, achei bem interessante e comecei pesquisar seu repertório, com apoio do Fundo Nacional de Cultura. Fiquei um ano ralando nos arquivos aqui no Rio de Janeiro, resgatando fita cassete e coisas da Aracy. Juntei aquele material e falei: vou fazer um disco com o que já tenho”, diz.
Chamou os músicos Maurício Carrilho e Leandro Braga para serem arranjadores. A dupla escalou um time de craques para tocar os instrumentos, do porte de Arismar do Espírito Santo, Marcos Suzano, Zé Nogueira, Edgar Duvivier e Paulo Sérgio Santos. Até Chico Buarque deu uma canja. “É um disco rico, com 20 faixas, que tenta retratar um pouco a relevância da Aracy dentro da música e da cultura brasileira. Ela foi uma personagem muito importante no universo musical e radiofônico do país.”
Em 2007, lançou o CD com seu nome, que trazia composições feitas em parceria com o poeta português Tiago Torres da Silva. Em seguida, escreveu e dirigiu seu show “A Vida é Perto”, que foi lançado como álbum em 2009. Em 2012 produziu a trilha da série de TV As Cariocas, para a TV Globo. No mesmo ano produziu o primeiro CD de Clarice Falcão, Monomania, lançado pela Casa Byington. Já em 2016, publicou pela Editora Objetiva o livro “O que é que ele tem”, com a história do seu primeiro filho, João Byington de Faria, que nasceu com Síndrome de Apert.
Olivia é mãe de quatro filhos, dentre eles o ator e escritor Gregório Duvivier, bisneta da filantropa Pérola Byington e atualmente é casada com o diretor Daniel Filho.
Confira abaixo a entrevista completa no Podcast MPB Unesp.