Por ocasião do Dia Mundial da Água, comemorado no dia 22 de março, o Podcast Prato do Dia convidou o engenheiro Rodrigo Manzione, docente da Faculdade de Ciências, Tecnologia e Educação da Unesp, campus de Ourinhos, para falar sobre a data.
A criação do Dia Mundial da Água é uma iniciativa da Unesco e remonta ao ano de 1993. No dia 22 de março também é divulgado, anualmente, o relatório da Unesco sobre desenvolvimento da água, que reúne informações sobre o estado desse recurso no mundo. A cada ano, o relatório traz algum tema de destaque, e em 2024 o selecionado é “Água para a paz”.
Livre-docente em hidrogeografia e agrometeorologia, Rodrigo Manzione é professor dos programas de Gestão e Regulação de Recursos Hídricos da Unesp, campus de Ilha Solteira, e do mestrado profissional em geografia, com ênfase em recursos hídricos, da FCT-Unesp, campus de Presidente Prudente.
Ao analisar o mote “Água para a paz”, proposto pela Unesco para comemorar a efeméride este ano, ele ressalta o imemorial uso da água como elemento estratégico a ser explorado por atores envolvidos em situações de conflito, e cita exemplos que vão desde a Antiguidade até o mundo contemporâneo, como a guerra da Ucrânia. “Jogar corpos em poços, por exemplo, é uma tática antiga de guerrilha para poluir rios e limitar o abastecimento de tropas e de outras pessoas que possam vir a oferecer algum tipo de perigo para os invasores. Na guerra da Ucrânia, podemos citar uma ação dos russos, que explodiram uma barragem no rio Dnipro para que a água inundasse as margens e dificultasse o andar das tropas”, diz.
Por outro lado, os problemas de abastecimento, decorrentes das mudanças climáticas têm contribuído para a gênese de novos conflitos. Segundo os dados da Unesco, no ano de 2020 cerca de 26% da população mundial não tinham acesso à água potável, e a expectativa, até 2050, é que 2,6 bilhões de moradores de áreas urbanas no planeta venham a enfrentar um cenário de escassez. Esse contexto intensifica tensões políticas e sociais. Um dos exemplos mais agudos foi a seca que se abateu sobre a Síria em meados dos anos 2000, que resultou numa crise na produção de alimentos e na migração forçada de um milhão de pessoas para a capital do país, em busca de assegurar a sobrevivência. Deste movimento surgiriam as bases para o movimento político que jogou o país em uma guerra civil, da qual não se recuperou até hoje.
E, no Brasil, as mudanças também já se fazem sentir. “Estudos têm mostrado que o Brasil está secando. Diversas bacias hidrográficas estão apresentando déficits hídricos”, diz Manzione. Ele associa este cenário ao panorama global, cada vez mais pontuado por eventos climáticos mais intensos, como o El Niño e o La Niña. E aponta o papel desempenhado pelas mudanças no uso dos recursos hídricos, cada vez mais demandados como insumos para atividades econômicas com elevada demanda por produção, como a agricultura.
“Com esse cenário de mudança climática acredito que as pessoas finalmente despertaram um pouco para essas questões”, diz o docente. No entanto, ainda é preciso que essa conscientização adquira uma forma mais estruturada, que resulte, por exemplo, na eleição de representantes políticos defensores de uma pauta alinhada com a conservação dos recursos hídricos.
Para saber mais sobre os conflitos que estão espocando pelo Brasil e o planeta em torno do acesso a água, ouça abaixo a nova edição do podcast Prato do Dia, que está disponível também em todas as plataformas de áudio.