Talvez poucas pessoas se deem conta do papel importantíssimo desempenhado pelos produtos e serviços frutos da atividade dos profissionais da química em nosso cotidiano, dos medicamentos pessoais à produção de combustível para veículos espaciais. Infelizmente, um dos frutos dessa indústria é a produção de um volume igualmente estratosférico de resíduos, detritos e poluentes, alguns com potencial para contaminar o meio ambiente por séculos e prejudicar a saúde das mais diversas espécies de seres vivos. Atentos a esta realidade, os próprios químicos vêm se questionando quanto à necessidade de desenvolverem práticas mais sustentáveis e menos danosas ao planeta. É neste sentido que surgiu o conceito de química verde.
O conceito de Química Verde surgiu no início da década de 1990, proposto pelos pesquisadores John Warner e Paul Anastas, membros da Environmental Protection Agency (EPA), dos Estados Unidos. A Química Verde abrange o estudo de alternativas a diversos processos químicos poluentes com o objetivo reduzir sua toxicidade e/ou mitigar a geração de resíduos no meio ambiente, e em alguns países já orienta as práticas de laboratórios, empresas, indústrias e do setor agrícola. Em 2019, o Instituto de Química da Unesp tornou-se a primeira instituição brasileira a assinar o Green Chemistry Commitment, com o objetivo de oferecer formação e treinamento acadêmico a partir desses conceitos, e também contribuir para a sua disseminação.
Docente do Instituto de Química da Unesp em Araraquara, Cíntia Milagre atua como uma espécie de embaixadora da Química Verde. Na entrevista ao podcast Prato do Dia, ela discorre sobre alguns dos seus princípios essenciais, que incluem a busca pelo uso eficiente de energia, o emprego de fontes renováveis de matéria-prima e a utilização de solventes e auxiliares seguros, entre outros. “Cada pequeno passo, substituição ou adequação das reações e dos processos já torna o processo mais verde”, explica.
“O fato de que o IQ da Unesp tornou-se signatário do Green Chemistry Commitment deu um caráter mais institucionalizado”, diz a docente. “O que, anteriormente, eram iniciativas isoladas de alguns docentes, passou a ser um compromisso da instituição como um todo.”
Cintia diz que agências de fomento relevantes, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), vêm apoiando pesquisas na área, e que a Unesp conta com diversos docentes envolvidos com a temática. Um exemplo é o Centro de Excelência para Pesquisa em Química Sustentável (CERSusChem), que tem a participação de pesquisadores da Unesp, da USP, da UFSCar, da Unicamp e da Universidade Federal de Santa Catarina. O objetivo do centro, fundado em uma parceria com a iniciativa privada, é a promoção da química sustentável e de tecnologias relacionadas principalmente no que diz respeito a produtos e processos químicos sustentáveis que possam ser utilizados no desenvolvimento de novos medicamentos.
Para Cíntia Milagre, além das parcerias, a aplicação da Química Verde no dia a dia do ensino, da pesquisa e da extensão universitária é essencial para a formação dos novos químicos, visto que seus princípios estão cada vez mais disseminados no mercado de trabalho. “É uma formação constante. O tempo inteiro a gente vai sendo exposto ao assunto, aprendendo com quem sabe mais, com os especialistas. Também aprendemos muito com os alunos, porque eles nos provocam, fazem perguntas e mostram outros prismas. Devemos estar sempre atualizados, porque as tecnologias se atualizam o tempo inteiro e a gente vai acompanhando com o olhar da química verde”, afirma. A íntegra do Prato do Dia sobre Química Verde pode ser ouvida no player abaixo e no site Podcast Unesp, bem como nas plataformas especializadas Spotify, Deezer, Google Podcasts e Amazon Music Podcasts.