Docente da Unesp vai coordenar novo INCT com foco em nanotecnologia aplicada à agricultura

Denominada INCT NanoAgro, iniciativa reunirá pesquisadores de uma dúzia de instituições do Brasil, além de colaboradores em outros países, para desenvolver soluções sustentáveis voltadas para a produção agrícola. Investimento será de cerca de R$ 8 milhões, custeados por CNPq-MCTI, Capes-MEC e Fapesp.

O Instituto de Ciência e Tecnologia da Unesp (ICTS), campus de Sorocaba, vai sediar, ao longo dos próximos cinco anos, o recém-criado Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanotecnologia para Agricultura Sustentável – INCT NanoAgro. Como o próprio nome sugere, o novo INCT irá impulsionar a produção científica e tecnológica direcionada para a agricultura por meio da pesquisa em nanotecnologia, e com foco em desenvolvimento sustentável. O coordenador do novo INCT será Leonardo Fernandes Fraceto, docente do Departamento de Engenharia Ambiental do ICTS, e também integram o projeto os docentes Gerson Araújo de Medeiros e Sandro Donnini Mancini, também do ICTS, além de professores dos campi de Tupã, Jaboticabal e Registro.

A criação do novo INCT reflete a consciência quanto ao papel crucial que a agricultura desempenha na economia e na sociedade hoje, assegurando a oferta de alimentos e fornecendo matérias-primas essenciais para diversas indústrias. Porém, a notável falta de sustentabilidade nesse setor, principalmente em países em desenvolvimento, é um desafio para o mercado. Com alto potencial de aumentar a produtividade e a sustentabilidade na agricultura, a nanotecnologia oferece novas possibilidades de conservação dos recursos naturais visando atenuar os impactos ambientais associados à agricultura convencional.

O INCT NanoAgro irá articular uma rede de pesquisadores de diversas instituições, entre elas a Universidade Estadual de Londrina, a Embrapa, a Universidade Federal do Mato Grosso, a Universidade Federal de Santa Maria, o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, a Universidade Federal do Pampa, Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Universidade de Sorocaba, Universidade Federal de São Carlos, Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo, Fundacentro  e Universidade Federal do ABC.

Fora do Brasil, o INCT NanoAgro irá contar com a colaboração de pesquisadores situados em instituições da Austrália, Espanha, Grécia, Chile, EUA, Escócia, Inglaterra, República Tcheca, Portugal, Índia, Canadá, Chipre, Argentina, Itália e Hungria. O novo INCT nasce com um perfil multidisciplinar, reunindo especialistas em áreas como Biologia, Química, Agronomia, Microbiologia, Biotecnologia, Fisiologia Vegetal, Fitotecnia, Ciências Ambientais, Genética, Toxicologia e Ecologia, dentre outras especialidades.

Os recursos para o custeio do novo INCT, estimados em  R$ 7,8 milhões, serão providos pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que é responsável pelo programa, e também pela Fapesp e pela Capes. As verbas serão empregadas na aquisição dos insumos necessários às pesquisas, à aquisição de equipamentos para os diferentes grupos envolvidos no projeto e ao custeio de bolsas de estudo de diferentes modalidades, incluindo iniciação científica, apoio técnico, pós-doutorado, doutorado sanduíche no exterior, e bolsas de extensão e inovação.

O INCT NanoAgro  também está recebendo apoio de empresas de médio e grande porte, assim como de startups. Leonardo Fraceto diz que um dos objetivos da criação do novo INCT é permitir que as pesquisas desenvolvidas por diversos grupos no país saiam da bancada e possam chegar ao mercado. “O instituto viabilizará o trâmite das pesquisas pelas diferentes etapas, incluindo o escalonamento, a análise de risco e a prova de eficiência em campo, beneficiando assim a interação da academia e dos institutos de pesquisa com as empresas”, diz.

Fraceto diz que o INCT NanoAgro  não se limitará a problemas específicos, focando, ao invés, na busca de soluções inovadoras para diversas culturas. Sempre, porém, no contexto da agricultura sustentável. Essa abordagem fica clara nos oito eixos temáticos escolhidos para nortear as pesquisas: design e caracterização de nanomateriais sustentáveis, design e caracterização de nanossensores, mecanismos de interação dos nanomateriais com biossistemas e ambiente, avaliação de eficácia agronômica, avaliação da toxicidade de nanomateriais, análise de risco e aspectos regulatórios, inovação, tecnologia e empreendedorismo e nanoinformática e gestão do conhecimento.

“Por exemplo, o eixo de design e caracterização de nanomateriais ou nanossensores está relacionado à necessidade de compreendermos como estes novos materiais interagem com o ambiente. Entender se são eficazes, se são tóxicos ou não, e se apresentam riscos para a sociedade”, diz. O eixo de análise de riscos e aspectos regulatórios envolve analisar o impacto dos novos produtos em outros organismos que estejam além do campo de aplicação.

Fraceto destaca também os ganhos para a Unesp, que poderá se consolidar como referência em nanotecnologia aplicada à agricultura sustentável. A formação e a qualificação de recursos humanos serão fortalecidas através de bolsas para estudantes em diferentes níveis, por meio da produção acadêmica, eventos e geração de patentes, além de apoiar a formção de startups e o licenciamento de tecnologias. A participação em congressos, apresentações de pesquisadores e a disseminação de conhecimento na comunidade contribuirão para o impacto positivo do INCT.

“Outro papel a ser desempenhado pelo INCT NanoAgro envolve a comunicação com a sociedade. Para que a população saiba o que a gente está fazendo, e conheça os riscos e a segurança do uso desses materiais. Se as pessoas adquirirem a compreensão de que todo o desenvolvimento dessas tecnologias passa por avaliações de risco, esse será um ganho importante. Temos também o papel de qualificar as pessoas. Precisamos atuar na difusão do conhecimento para informar a sociedade sobre a importância da ciência”, diz Fraceto.