Crescimento de ataque a escolas no Brasil é tema do podcast Prato do Dia

Só este ano, dois grandes ataques deixaram mais de uma dezena de vítimas, muitas delas fatais. Especialista em bullying e violência no âmbito escolar, Luciene Tognetta explica as causas para o crescimento da incidência destes tristes episódios, e defende que a educação desenvolva também os aspectos éticos e relacionais dos estudantes.

Em março, um estudante de uma escola de São Paulo assustou o país ao ferir três alunos e matar uma professora com uma faca. No entanto, apenas dez dias, um choque ainda maior viria quando um homem armado invadiu uma creche na cidade de Blumenau e fez dez vítimas, cinco delas fatais. No entanto, para os pesquisadores que acompanham o cotidiano das escolas, já estava claro que a incidência destes episódios de violência tem escalado infelizmente nos últimos dois anos, e especialmente desde agosto de 2022. Em entrevista ao podcast Prado do Dia, a pedagoga Luciene Tognetta, docente do Departamento de psicologia da educação da Faculdade de Ciências e Letras da  Unesp, campus de Araraquara, explica que diversos fatores contribuíram para este crescimento da violência extrema. “A palavra extrema não é um adjetivo aleatório. Ela tem a ver com o fenômeno do extremismo, que está exacerbado nos últimos tempos. E cada vez mais os nossos adolescentes e jovens participam deste extremismo”, diz.

Este extremismo, por sua vez, está relacionado a questões políticas, sociais e ideológicas que estão varrendo não apenas o Brasil, mas também a América Latina e o mundo. “Quer sejam de esquerda ou de direita, são posições extremistas na forma de pensar as relações humanas, e na resolução dos problemas que surgem nas relações humanas”, analisa. Ela cita também como elementos relevantes o aumento da pobreza, do acesso às armas e as ideias abrigadas nas ideologias que circularam bastante no país nos últimos anos.

Mas há outra ordem de fatores incidindo sobre o mundo dos jovens hoje. Um deles envolve o crescimento das relações por meio digital, a cyberconvivência, que disparou durante a pandemia. “Tivemos um aumento da cyberconvivência, mas não da regulação desta convivência, do estabelecimento de parâmetros para uma convivência harmoniosa”, diz. Se na vida física as pessoas não fazem xingamentos racistas umas as outras, pois a chance de processo é muito concreta, no meio digital abundam não apenas racismos, mas também misoginia, ofensas pessoais etc. “É desse mundo digital que surgem os autores dos ataques às escolas”, explica ela.

Tognotto também discorreu sobre suas pesquisas acerca do bullying escolar, e das melhores estratégias para impedi-lo. “O bullying só acontece porque há uma vítima frágil. Se a pessoa não demonstrar fragilidade, o bullying não ocorre. A pessoa pode estar vítima de bullying e sair da situação, ao se empoderar do fato de que o outro não pode proceder assim com os demais”, diz. Porém, não basta atuar junto às vítimas; é preciso adotar também metodologias para que a comunidade de estudantes que presencia o bullying mude de atitude e passe a se indignar com ele. Como exemplo, a pedagoga cita as escolas que já empregam a metodologia que é fruto das pesquisas que ela desenvolve desde 2005. “Temos incentivado as escolas a pensarem cada vez mais o tema da convivência. Hoje, temos uma rede de mais de 50 escolas públicas e particulares em que os jovens são formados para fazer o bem”, diz.

Ouça abaixo a íntegra da entrevista.