Tese de doutorado defendida na Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira recebe prêmio de periódico internacional

Trabalho do paquistanês Arshad Jalal, que esteve no Brasil com apoio do CNPq, foi considerado um dos três melhores pela revista científica Plants. Estudo avaliou uso de microrganismos para promover biofortificação de vegetais, estratégia para reduzir aplicação de fertilizantes minerais.

O paquistanês Arshad Jalal, que cursou doutorado na Faculdade de Engenharia da Unesp, câmpus de Ilha Solteira, recebeu o prêmio de melhor tese de doutorado defendida em 2022 concedido pela revista científica Plants. Em sua tese, Jalal estudou o uso de bactérias para estimular a capacidade da planta de absorver nutrientes que, além de promover o crescimento vegetal, também são importantes para a saúde humana, como o zinco.

Jalal veio para a Unesp por meio de uma bolsa de pesquisa do CNPq em parceria com a The World Academy of Sciences (TWAS). Ele cursou doutorado no Programa de Pós-Graduação em Agronomia, sob orientação do professor Marcelo Minhoto Teixeira Filho.

“Quando me candidatei a uma bolsa de doutorado, enviei várias solicitações. Ao final fui aceito por três institutos internacionais. Optei pela Unesp por ser a mais prestigiada e reconhecida mundialmente”, explicou o pesquisador em uma notícia publicada na página oficial do TWAS. “Esta premiação da tese prova que eu estava certo na minha decisão.”

Marcelo Minhoto descreve Arshad como um estudante “muito focado e esforçado”. “Ele tem um carinho grande pela Unesp e adorou sua experiência no Brasil. Como no Paquistão o inglês é uma língua oficial, ele também ajudou muito nosso grupo de pesquisa a publicar artigos”, diz o docente. Atualmente, Arshad realiza um estágio de pós-doutorado na King Abdullah Science and Technology University (KAUST), na Arábia Saudita.

O fortalecimento da capacidade da planta de absorver nutrientes, tema principal da tese de doutorado premiada e principal linha de pesquisa de Marcelo Minhoto, é chamado de biofortificação agronômica, e tem como objetivo compensar a falta de nutrientes presentes no solo por meio do manejo da adubação. A técnica é uma das ferramentas que podem ser empregadas para combater o que os especialistas chamam de fome oculta, uma carência não explícita de nutrientes no organismo que atinge mais de dois bilhões de pessoas no mundo, e que pode ser identificada inclusive em indivíduos com sobrepeso.

Segundo Minhoto, Arshad Jalal já estudava estratégias de biofortificação para o feijão, milho e trigo no Paquistão, mas por meio da adubação foliar. “A adubação foliar exige um custo maior para o produtor por conta da forma de aplicação, que é via pulverização. Propus a ele o uso dos microrganismos, no caso alguns tipos de bactérias, para examinar a possibilidade de enriquecer esses grãos de forma mais econômica”, explica o docente do câmpus de Ilha Solteira.

A biofortificação com o uso de microrganismos é uma estratégia emergente nas ciências agronômicas, que vivem o que Minhoto denomina “era da microrevolução verde”. Algumas das pesquisas conduzidas pelo seu grupo apontam a possibilidade de redução em até 25% do total de nitrogênio e fósforo empregados na adubação. “O uso de fertilizantes minerais apresenta grande potencial de poluir o meio ambiente. Além de liberar carbono, sua presença no solo pode, por exemplo, contaminar o lençol freático”, diz.

“Decidi que queria contribuir para a sustentabilidade e fazer uma mudança também em termos do conteúdo nutricional dos alimentos. No entanto, notei que, se continuarmos a utilizar grandes quantidades de produtos químicos, nada mudará”, afirmou Jalal, cuja tese de doutorado premiada está disponível no Repositório Institucional da Unesp.

Foto acima: o pesquisador em visita ao campo. Crédito: arquivo pessoal.