Professora do Instituto de Física Teórica vence prêmio latino-americano na área de redes complexas

Hilda Cerdeira foi homenageada com o LANET Award 2022 por sua pesquisa e atuação em prol da educação e do empoderamento de jovens pesquisadores. É o segundo prêmio internacional ganho pela docente em três anos.

A física Hilda Alicia Cerdeira, professora do Instituto de Física Teórica da Unesp (IFT), foi agraciada com o prêmio LANET Award 2022 em cerimônia que ocorreu na cidade de Cusco, no Peru, no dia  22 de agosto. A premiação se deu durante a terceira edição da Conferência Latino-Americana sobre Rede Complexas, e exaltou o seu “trabalho na área de Sistemas Dinâmicos Não Lineares e Redes por toda a região da América Latina”, e também sua atuação “em prol da educação e do empoderamento de jovens pesquisadores” no campo.

A LANET compreende uma série de conferências e workshops no campo das redes complexas que é organizada anualmente, cada vez em um país distinto da América Latina. Este é o segundo prêmio internacional conferido à pesquisadora nos últimos dois anos. Em 2021, ela recebeu o prêmio “Espírito de Abdus-Salaam”, conferido pelo Centro Internacional de Física Teórica (ICTP), na Itália.

Cerdeira, 80, é argentina de nascimento e cursou doutorado na Brown University, nos EUA. Veio ao Brasil a convite, nos anos 1970, para atuar na UNICAMP, que ensaiava então os seus primeiros passos. “Eu cursava um pós-doutorado no Max Planck Institute em Stuttgart, na Alemanha. O professor Rogério Cerqueira Leite nos visitou e conversou com os pós-doutorandos para convidá-los a vir à UNICAMP. Ele tinha um interesse especial nos latino-americanos, pois acreditava que eles poderiam se estabelecer definitivamente no Brasil, ao invés de ficar por apenas um ano ou dois”, lembra.

Em fins dos anos 1980 passou a integrar o ICTP, na Itália. Lá, uma de suas áreas de atuação envolvia o fomento e o apoio ao trabalho de físicos em países em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina. Na época, era comum que os pesquisadores daqueles países lutassem com problemas como conexão de internet de baixíssima qualidade e dificuldades para ter acesso à literatura científica de seu campo. Cerdeira desenvolveu algumas soluções para facilitar o acesso aos artigos, que envolveram negociações com as grandes editoras de periódicos científicos e a criação de um serviço de remessa de artigos científicos on-demand para os cientistas de países em desenvolvimento. “Isso foi no começo dos anos 2000. Na época, estes eram problema reais que aqueles cientistas enfrentavam. Hoje as coisas estão melhores, mas sei que até hoje há quem use estes serviços”, explica.

Outra linha de atuação envolvia facilitar aproximações e conexões entre os estudantes e pesquisadores dos países em desenvolvimento e os integrantes de instituições científicas renomadas. “Sempre conversei bastante, com muita gente, e isso facilitava na hora de indicar contatos e conexões”, diz. Ela explica que nunca agiu “de forma sistemática”, mas, como sua atuação vem se estendendo ao longo de décadas, o montante de pessoas que se sentiram beneficiadas alcançou um número expressivo. O reconhecimento por este impacto positivo se materializa agora, na forma das duas premiações.

Após aposentar-se na Itália, Cerdeira retornou ao Brasil e desde 2006 atua no IFT como professora voluntária. Para o diretor do IFT, Alexandre Reily Rocha, Hilda Cerderia tem feito uma contribuição expressiva para a internacionalização da instituição. “Devido a sua experiência internacional, ela desempenha um papel importante. Ela orienta alunos e mantém contatos com pesquisadores de vários países, principalmente da África, e trouxe vários de seus colaboradores da África para desenvolver projetos de pesquisa”, diz.

Ele também ressalta o engajamento da docente nos eventos e cursos que o IFT sedia. “Isso é interessante, porque nossa principal atividade é teórica. E ela está sempre envolvida com parte da organização das escolas e eventos que acontecem no instituto”, diz. Fora da academia, a pesquisadora argentina vem buscado desenvolver, em parceria com sua filha, um novo produto para a área médica destinado ao monitoramento de crises epiléticas, num projeto que já foi inclusive premiado. “Aos 80 anos, ela poderia estar em casa, aposentada. Mas prefere estar aqui, fazendo pesquisas e orientando alunos. Isso é algo admirável”, diz Rocha.

Foto acima: Hilda Cerdeira durante a LANET 2023. Crédito: Universidad Andina de Cuzco.