José Celso Martinez Corrêa deixa um legado teatral único, sinônimo de pesquisa e inovação artística

Docente da Unesp analisa a obra do diretor teatral que faleceu ontem devido aos ferimentos causados por um incêndio. Em 1960, artista conduziu montagem teatral em homenagem a visita do filósofo Jean Paul Sartre à FCL em Araraquara, sua cidade natal.

Morreu nesta quinta-feira, aos 86 anos, o dramaturgo, ator e diretor do Teatro Oficina José Celso Martinez Corrêa. Reconhecido como um dos principais criadores do teatro brasileiro, Zé Celso, como era conhecido no meio teatral, faleceu devido aos ferimentos causados por um incêndio que atingiu sua residência esta semana. Fundador do Teatro Oficina, destacou-se por uma linguagem ousada, que fomentou uma revolução nas artes cênicas do Brasil. Premiado autor e diretor, consagrou-se nacionalmente com a encenação da peça O Rei da Vela, ainda nos anos 1960.

Como explica Lúcia Romano, professora do curso de licenciatura em arte e teatro e do curso de bacharelado em artes cênicas do Instituto de Artes da UNESP em São Paulo, o diretor deixa para o teatro brasileiro um importante legado, forjado ao longo de mais de seis décadas ininterruptas de atividades.

“A importância do Zé é histórica. Embora já estivesse no teatro há muito tempo, ele continuou criando uma nova história para o teatro que fazia. Era uma pessoa seminal, revolucionária. Mas sem nunca deixar de pensar tanto o presente quanto o futuro do teatro”, diz Lúcia Romano.  Ela explica que o diretor conseguiu relacionar, de forma inovadora, os mestres do teatro moderno, como Stanislavski, com a tradição teatral brasileira, de melodramas e comédia ligeira. E também se destacou por sua dramaturgia. “Ele é um dramaturgo renomado. E é um inventor dessa noção de grupalidade, dessa ideia de que o teatro se faz em coletividade, e para a coletividade”, diz.

Zé Celso era irmão da professora Anna Maria Martinez Corrêa, idealizadora do Centro de Documentação e Memória (CEDEM) e coordenadora do Centro por 19 anos. Ela é Professora Emérita e docente aposentada da Unidade da Unesp em Assis. A peça A Engrenagem, encenada pelo Oficina em 1960, teve o intuito de homenagear o filósofo Jean-Paul Sartre, que no mesmo ano visitou a Faculdade de Filosofia e Ciências (FCL), da Unesp, em Araraquara, cidade natal do artista.

“A gente lamenta o falecimento dele, e ao mesmo tempo comemora a continuidade da pesquisa, da curiosidade e da investigação que ele vinha fazendo no Teatro Oficina”, diz Lúcia Romano.

Para ouvir a íntegra do depoimento de Lúcia Romano à Rádio Unesp, clique aqui.

Foto acima: Wikimedia Commons.