Entre janeiro e maio de 2023, foram vendidos no Brasil 21,5 milhões de livros a menos do que nos primeiros cinco meses do ano passado. O valor equivale a uma queda de 3,56% no comércio. O faturamento, no entanto, registrou um aumento de 1,7%, passando de R$ 996 milhões em 2022 para pouco mais de R$ 1 bilhão neste ano. Os dados foram publicados no quinto Painel do Varejo de Livros no Brasil, em 2023, pesquisa realizada pela Nielsen Book do Brasil e divulgada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).
A queda na venda de livros não é recente. De acordo com a série histórica divulgada pelas mesmas organizações, que compreende o período entre 2006 e 2022, o comércio do setor tem registrado retração. Para debater tais mudanças e os desafios enfrentados pelo mercado editorial brasileiro, o podcast Prato do Dia recebeu Jézio Hernani Bomfim Gutierre, economista pela USP, doutor em filosofia pela Unicamp, desde 2015 diretor-presidente da Fundação Editora Unesp e presidente da atual gestão (2023-2025) da Associação Brasileira das Editoras Universitárias (ABEU).
Em entrevista ao professor José Paes de Almeida Nogueira Pinto e à fotógrafa Martha Martins de Morais, integrantes da Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp (ACI Unesp), Gutierre explica que a pandemia e o isolamento social impactaram o setor livreiro. No início de 2020, diz, houve grande queda na venda de exemplares puxada pelo fechamento de livrarias. Pouco depois, paralelamente à retomada do comércio eletrônico, registrou-se um crescimento na comercialização de livros, que chegou ao auge em 2021. Segundo o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), o setor chegou ao final do segundo ano de pandemia com 55 milhões de exemplares vendidos e um faturamento superior a R$ 2 bilhões, patamar recorde. Para Gutierre, em 2023, ainda pode haver aumento nas vendas, mas o patamar alcançado em 2021 não deverá ser atingido.
Embora uma parcela da população tenha hábito e paixão pela leitura, observa o diretor-presidente da Editora Unesp, o Brasil tem um nível baixo de frequência de leitura em comparação com países de tradição livreira, como França e Alemanha, e em comparação com outros países latino-americanos, que têm, presumidamente, o mesmo padrão de formação que o Brasil, como Argentina e Chile. “Existem diversas causas históricas, culturais, econômicas e educacionais que fazem com que o hábito de leitura no Brasil seja tão frágil como efetivamente é”, diz. Um dos obstáculos no consumo de livros, explica Gutierre, são os altos preços, que se relacionam com o enfraquecimento do segmento em ciclo que impede a sua popularização.
Para pequenas livrarias independentes, que têm surgido com relativa força nos últimos anos na capital paulista, um dos principais desafios é a concorrência com redes varejistas que comercializam em grande escala e podem oferecer descontos atraentes aos compradores. Para o diretor-presidente da Fundação Editora Unesp, o caminho para essas livrarias passa por oferecer experiências de consumo, com atendimento qualificado e até personalizado, e acervos especializados, que atendam a diferentes nichos de público e de interesse.
A íntegra desta edição do Prato do Dia, uma produção da ACI Unesp, está disponível na mídia abaixo e pode ser ouvida também na plataforma Podcast Unesp, bem como no Google Podcasts, no Spotify e no Deezer.