Três corpos no cinturão de asteroides receberam nomes de docentes da Unesp durante a Conferência ACM (Asteroids, Comets, Meteors Conference), que se encerrou em 23 de junho no Arizona, Estados Unidos. O professor Nelson Callegari Jr, do Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE) do câmpus de Rio Claro da Unesp, deu nome ao asteroide (30452) Callegari, descoberto em 4 de julho de 2000. Outros dois docentes da Unesp, ambos da Faculdade de Engenharia e Ciências (FEG) do câmpus de Guaratinguetá, receberam o mesmo reconhecimento: os professores Ernesto Vieira Neto deu nome ao astro (34587) Vieiraneto, descoberto em 28 de setembro de 2000, e Rosana Aparecida Nogueira de Araújo passou a nomear o corpo celeste (33924) Rosanaaraujo, observado pela primeira vez em 1º de junho de 2000.
A atribuição do nome de um estudioso a um corpo celeste é uma das principais formas de reconhecimento no campo da astronomia. A denominação dos asteroides, classificados como pequenos corpos celestes, é responsabilidade de uma instância da União Astronômica Internacional (IAU, na sigla em inglês) e envolve decisões colegiadas. A atribuição de novos nomes ocorre periodicamente nas Conferências ACM. As homenagens são indicadas e aprovadas por cientistas independentes, sem relação direta com quem é lembrado. A lista dos homenageados está disponível no Boletim WGSBN (clique neste hiperlink para ter acesso), publicado em nome da IAU.
Surpresa
Avisado por colegas que estão no Arizona participando da conferência, Nelson Callegari Jr. sentiu-se recompensado por uma trajetória de quase 30 anos dedicados ao ensino, à pesquisa e à difusão da astronomia.
O docente do IGCE-Unesp é o fundador e coordenador da Escola dos Astros, um projeto de extensão universitária criado em 2011 para difundir a astronomia entre crianças e adolescentes da região de Rio Claro. O projeto tem como público preferencial alunos do ensino fundamental e do ensino médio de colégios públicos e particulares, funciona com o apoio de alunos de graduação e de pós-graduação bolsistas, que atuam como monitores, e já realizou cerca de 7.000 atendimentos presenciais ao longo de sua história.
A Escola dos Astros oferece atividades diversas, como observações astronômicas e palestras. Como não há um observatório no câmpus, tais atividades são realizadas nos anfiteatros das unidades e nas áreas externas. Durante a pandemia, devido ao distanciamento social, o trabalho prosseguiu com a realização de lives.
“O público mais presente em nossas atividades são alunos do ensino fundamental. As crianças gostam muito. Mesmo com poucos recursos e com a pandemia, seguimos com o nosso trabalho. Como pesquisador na área de ciências planetárias, tenho quase 30 anos de atividades. Algum abençoado lembrou do meu nome”, brinca o professor. “Puxa, vocês já ouviram falar do meu trabalho aqui na Escola dos Astros… O trabalho agora vai ter como crescer, junto com a universidade”, diz Nelson Callegari Jr.
A pesquisa do professor de 51 anos mira a dinâmica orbital de satélites naturais dos chamados planetas gigantes do Sistema Solar (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno), e, mais especificamente, a dinâmica ressonante de pequenos satélites e particular no sistema interior de Saturno. Graduou-se em física pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e concluiu o mestrado e o doutorado em ciências pela USP, com ênfase em astronomia. Ingressou na Unesp em 2009, após dois estágios de pós-doutorado com projeto regular da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Ele admite ter uma “veia extensionista” apurada, que tem origem no início de sua trajetória como docente e pesquisador. Callegari Jr. acredita que as universidades têm muito a oferecer em termos de conhecimentos e método científico além dos muros.
“A primeira ideia de criar a Escola dos Astros surgiu a partir de uma veia extensionista que eu tenho. Estou certo que as escolas precisam muito deste apoio, deste complemento científico. Durante a minha graduação, na UFSCar, fui bolsista no observatório de São Carlos. Lá, vi o quanto isso era importante. Aí pensei que, se um dia eu fosse professor universitário, retribuiria o que recebi nesta experiência e montaria um observatório atendendo o público. É o que eu estou fazendo, muito contente”, afirma o professor, que é chefe do Departamento de Estatística, Matemática Aplicada e Computação do IGCE.
Escola de verão em Guaratinguetá
Os docentes da FEG homenageados seguem uma tradição de reconhecimentos da comunidade internacional outorgados a professores da unidade universitária no campo da astronomia. A FEG, que já teve docentes emprestando o próprio nome a asteroides nos últimos anos, mantém uma atividade extensionista chamada Escola de Verão em Dinâmica Orbital e Planetologia, organizada pelo Grupo de Dinâmica Orbital & Planetologia da Unesp. Um dos principais objetivos da escola é difundir e divulgar conceitos básicos e temas atuais em Dinâmica Orbital e Planetologia para graduandos e graduados na área de ciências exatas e engenharia, além da troca de conhecimentos com professores do ensino fundamental e médio que atuam em áreas correlatas.
O professor Ernesto Vieira Neto é graduado em física pela Universidade Federal de Goiás, com mestrado e doutorado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), este último na área de Engenharia e Tecnologia Espaciais. Fez pós-doc na Alemanha, com bolsa da Fapesp, e obteve o título de livre-docente em Dinâmica Orbital pela Unesp, em 2009, e atualmente é o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Física. O docente, que é membro da Sociedade Astronômica Brasileira e da União Astronômica Internacional, estuda a dinâmica de asteroides e formação de satélites planetários.
A docente Rosana Aparecida Nogueira de Araújo é licenciada em Física e mestre em Física pela FEG-Unesp e doutora em Engenharia e Tecnologia Espaciais pelo Inpe. No campo da astronomia, seus estudos têm ênfase em dinâmica orbital, mecânica celeste e engenharia espacial. Ao homenagear a professora da Unesp, a União Astronômica Internacional cita o seu trabalho acerca do anel em torno do objeto transnetuniano Chariklo –os objetos transnetunianos estão na fronteira dos estudos no campo da astronomia, pois guardam informações valiosas sobre o processo de formação do Sistema Solar.
Tradição
Por tradição, os pequenos astros como asteroides, cometas e meteoros são nomeados por indicação dos cientistas da área em homenagem a quem já possui um trabalho consolidado no campo da astronomia. Os pequenos corpos celestes costumam ser nomeados apenas após um período relativamente longo de observações, que permita algum tipo de análise de sua órbita. É o caso do (30452) Callegari, do (34587) Vieiraneto e do (33924) Rosanaaraujo, todos descobertos há 23 anos. Umas vez atribuídos, os nomes dos corpos celestes têm caráter permanente, como no caso do Cometa Halley (homenagem ao astrônomo e matemático Edmond Halley), um dos casos mais populares de nomenclatura de pequenos corpos celestes.
Na Unesp, que tem grupos consolidados no ensino, na pesquisa e na extensão universitária no campo da astronomia, os professores Nelson Callegari Jr., Ernesto Vieira Neto e Rosana Aparecida Nogueira de Araújo não são os primeiros docentes homenageados com tal distinção. Em 2017, os docentes Silvia Giuliatti Winter, Othon Winter e Valério Carruba, todos da Faculdade de Engenharia e Ciências (FEG) do câmpus de Guaratinguetá, nomearam os asteroides (10696) Giuliattiwinter, (10697) Othonwinter e (10741) Valeriocarruba, respectivamente. Em 2021, foi a vez do professor Rafael Sfair, também da FEG, dar nome ao asteroide (43414) Sfair.
Veja a lista dos astros nomeados na Conferência ACM (Asteroids, Comets, Meteors Conference) realizada nos Estados Unidos, que inclui o (30452) Callegari, no boletim WGSBN, que detalha as mais recentes nomenclaturas de pequenos corpos, publicado em nome da IAU.
Imagem acima: ilustração retratando o cinturão de Asteroides. Crédito: Deposit Photos.
Reportagem atualizada em 29 de junho de 2023, às 12h48